Hugo Motta promete veto à anistia e compromisso com governabilidade

Texto de Cleber  Lourenço  – A reunião entre Hugo Motta, candidato de Arthur Lira à sucessão na presidência da Câmara dos Deputados, e deputados petistas trouxe resultados que transformaram o cenário da disputa. Com promessas que tocaram em pontos sensíveis para o PT, o encontro foi descrito como “encantador” por aqueles que participaram, gerando entusiasmo e fortalecendo a possibilidade de apoio ao candidato.

Conforme relatado por uma fonte próxima ao deputado Rogério Correia, o diálogo foi estruturado em três eixos principais que conquistaram a bancada petista: proporcionalidade de cargos, exclusão da pauta de anistia para golpistas de 8 de janeiro e um compromisso com a governabilidade.

O primeiro ponto discutido foi a proporcionalidade na ocupação de cargos. Motta garantiu que, em uma eventual presidência, o PT teria espaço significativo na mesa diretora, incluindo a ocupação da primeira secretaria da Câmara, posição estratégica e de grande importância para o partido. Esse compromisso é visto como essencial para consolidar a influência do PT em uma futura gestão na Casa.

 

Veto à anistia dos golpistas

Outro ponto-chave que agradou os petistas foi a promessa de Hugo Motta de não pautar a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Motta não só garantiu que esse tema não prosperará sob sua presidência, mas também assegurou que Arthur Lira, atual presidente da Câmara, pretende encerrar essa questão antes do fim de seu mandato.

“Não faz o menor sentido essa discussão de anistia agora, enquanto as investigações estão em andamento e os mandantes sequer foram julgados,” declarou um deputado petista que participou da reunião. Esse veto à anistia foi encarado como uma “linha vermelha” pela bancada do PT, que exigia uma postura firme sobre o tema antes de declarar apoio a qualquer candidatura.

 

Compromisso com a governabilidade

O terceiro ponto decisivo foi o compromisso de Motta com a governabilidade e a estabilidade na Câmara. Durante o encontro, ele assegurou que sua gestão não colocará em pauta temas explosivos ou de alto risco para o governo, garantindo um alinhamento mais estreito e com mais diálogo com o Planalto. Segundo as palavras de Motta, ele pretende conduzir uma presidência voltada para a “normalidade e calma necessárias para o Brasil avançar,” frase que soou como música para os ouvidos petistas, interessados em um cenário menos conflituoso para 2025.

 

Mudança no cenário e decisão acelerada

A decisão da bancada petista de apoiar Hugo Motta foi acelerada por uma rápida mudança no cenário político. Embora até o início da semana o Palácio do Planalto demonstrasse a intenção de prolongar as negociações até o último segundo, a arrancada do PT em fechar o acordo na quarta-feira sinalizou uma inversão nas forças entre os poderes. Na semana passada, membros da articulação política do governo comentaram à coluna que o ideal seria manter as negociações até o limite para garantir uma decisão estratégica. No entanto, com o apoio do PT a Motta, o Executivo acabou seguindo a liderança da bancada petista.

A formalização do apoio ao nome de Motta também foi favorecida pela desistência do apoio da União Brasil à candidatura de Elmar Nascimento. Na noite de quarta-feira, o partido já havia sinalizado essa mudança de postura e, na manhã de quinta, oficializou o apoio a Motta, fragilizando ainda mais a candidatura de Antônio Brito (PSD) e facilitando o alinhamento do PT em torno do novo candidato.

 

A força do Legislativo

Essa movimentação demonstra o crescente poder do Legislativo frente ao Executivo, com o Planalto seguindo a linha imposta pela base governista na Câmara. Fontes do Palácio do Planalto indicaram que essa é mais uma evidência da “hipertrofia” do Legislativo em relação ao Executivo, colocando o governo federal em posição reativa, não apenas nessa decisão, mas em outras esferas onde o Legislativo tem dominado a articulação política.

 

A arte do acordo

Uma fonte do Palácio do Planalto destacou o cuidado com que o acordo foi negociado, ressaltando que “a política é a arte do acordo, mas com um teto para o desacordo.” Para o governo, que vê em Motta um aliado estratégico, o compromisso não foi fechado de forma precipitada, mas com uma visão clara das entregas necessárias até a sucessão. “Algumas coisas devem ser entregues antes da formalização da sucessão,” comentou a fonte, sugerindo que parte do acordo precisa ser cumprida antes mesmo de Motta assumir oficialmente a presidência. Essa postura reflete uma “traição calculada,” em que todos os lados fazem concessões, mas calculam o impacto para manter o próximo acordo possível.

Com a maioria dos pontos resolvidos e a promessa de estabilidade, a expectativa é de que o anúncio oficial de apoio ao nome de Hugo Motta aconteça ainda esta semana, com alguns deputados indicando que o desfecho pode ser divulgado já nesta quarta-feira.  (Foto: Instagram / Reprodução)

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