Hospedagem para COP 30 em Belém atinge valores milionários

Quem estiver interessado em participar da COP30 precisando fazer reservas em hotéis ou alugar imóvel pelas plataformas on line, terá que fazer com muito cuidado as contas do orçamento destinado a viajar a Belém, no período de 10 a 21 de novembro.

Causa surpresa e preocupação os preços por acomodações  divulgados no início de janeiro de 2025.

Um anúncio no Booking.com mostra uma suíte com uma cama de casal, na região central da cidade, por R$ 1,3 milhão de reais.

Diversas novas alternativas de acomodações, aparentemente disponíveis pela primeira vez na plataforma que abrange hotéis e locações por temporada, apresentam tarifas próximas a R$ 100 mil – por noite.

É difícil imaginar que alguém esteja disposto a gastar um valor que equivale ao custo de um imóvel apenas para passar alguns dias em um lugar. Entretanto, com os hotéis completamente lotados ou que ainda não estão aceitando reservas, além de longas listas de espera, estas se tornam algumas das alternativas possíveis para quem está organizando sua viagem.

As administrações federal e do Pará garantem que o projeto para acomodar os muitos milhares de pessoas de diversas partes do mundo que estão indo para a conferência climática da ONU continua conforme o planejado.

A dez meses do início da conferência, ainda persistem incertezas quanto à habilidade de Belém em receber o importante encontro climático mundial.

Além das missões nacionais e dos representantes autorizados que podem acessar a zona sob controle da ONU, onde ocorrem os discursos dos líderes e as negociações, a cidade deve receber um grande número de ativistas, grupos sociais e comunidades indígenas.

 

Conferência das Partes em um ambiente democrático

A COP na Amazônia marcará a primeira conferência em uma verdadeira democracia, após três eventos realizados em nações que exercem repressão severa a protestos e manifestações populares: Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão. Há uma grande expectativa para que as vozes dos cidadãos sejam reconhecidas pelas lideranças mundiais.

Essa “COP do povo”, conforme afirmam alguns, ocorre simultaneamente à COP “oficial”, que enfrenta uma complexidade logística extra: gerenciar questões de segurança e as equipes que atendem mais de cem chefes de Estado e de governo que estarão presentes nos dois dias dedicados aos líderes.

Dentre os diversos obstáculos enfrentados por Belém, a questão da acomodação gera mais incertezas, conforme destacou o governador do Pará, Helder Barbalho, em uma exposição de projetos realizada durante a COP29.

Para diversos participantes experientes dessas conferências, o término de uma COP sinaliza o começo da preparação logística para o próximo evento. Muitos entrevistados por certos meios de comunicação locais ainda não têm clareza sobre onde se hospedarão na capital do Pará.

 

 

Navios atracados.

Belém e seus arredores dispõem de 17,7 mil acomodações em hotéis. Esse quantitativo precisará aumentar três vezes até o início de novembro.

Os novos leitos devem ser provenientes de diversas fontes, conforme afirmam os governos de Brasília e Belém.

De acordo com as estimativas do governo federal, a proposta visa aumentar a capacidade da cidade em 26 mil pessoas em relação ao que existe atualmente. As alternativas envolvem aproximadamente 1.100 novos quartos na rede de hotéis, considerando tanto reformas quanto novas construções, além de outros 1.200 em espaços destinados por instituições religiosas.

As Forças Armadas disponibilizarão aproximadamente 2.300 vagas, enquanto modificações em instituições educacionais devem somar mais 5.200.

Uma iniciativa significativa surge do oceano: a proposta é trazer navios transatlânticos para o porto de Belém e utilizá-los como hospedagens flutuantes.

Pois é, esse era o projeto. A proposta de realizar a dragagem era essencial para permitir que as embarcações pudessem chegar ao porto localizado na região central da cidade, devido a riscos para os recursos hídricos e a vida selvagem local.

Os barcos estarão ancorados no Porto do Outeiro, localizado a 30 quilômetros do Parque da Cidade, local da conferência. Com a ausência de tráfego, a viagem leva em torno de 50 minutos.

O governo do Estado está executando “projetos de infraestrutura de transporte urbano para melhorar a logística, entre os quais se destaca uma ponte em fase de construção que reduzirá o tempo de deslocamento entre Belém e o Distrito de Outeiro”, conforme afirmaram representantes do governo paraense à mídia.

A responsabilidade pela contratação das embarcações é do governo federal.

 

Desigualdades a olho nu

Fora do Polígono da COP-30, assim designadas as áreas onde ocorrerão eventos da conferência e o tráfego turístico gerado pelo evento, a ilha de Caratateua  é a  sede do distrito de Outeiro, cerca de 30 quilômetros do centro mais antigo de Belém.

É no Porto de Outeiro que os transatlânticos fiarão aportados, servindo de hotéis para extensas delegações que estarão na COP30.

Chegar à ilha é possível tanto por via fluvial quanto pela Rodovia Augusto Montenegro, ao longo da qual a cidade se expandiu, a partir de 1975. O crescimento nessa direção continental aconteceu primeiro com a construção de conjuntos habitacionais, financiados pelo Estado, e com ocupações populares, chamadas de “invasões”.

Depois, ampliou-se com a construção de condomínios de casas e edifícios de diferentes padrões. Hoje, a rodovia concentra o Estádio do Mangueirão, shopping centers, igrejas e órgãos públicos.

Essa vila de chão batido, caracterizada por  casas de madeira, muitas palafitas, grande parte da vila sem acesso direto à água ou ao esgoto sanitário – uma pobreza à céu aberto, será a primeira impressão registrada nos olhares dos hóspedes dos navios de cruzeiro.

 

Aluguel por tempo determinado

A principal contribuição será proveniente do aluguel de imóveis de forma temporária por meio de plataformas como Airbnb e Booking.com. A previsão é que cerca de 11,5 mil acomodações sejam oferecidas nessas aplicações digitais.

O governo do Pará formou uma colaboração com duas empresas com o objetivo de promover o registro de novos anfitriões. Desde agosto do ano anterior, o Airbnb tem se unido ao Sebrae para oferecer treinamento a famílias que desejam receber hóspedes em seus quartos ou alugar suas casas durante a COP30.

O Booking.com tem promovido conteúdos informativos e organizado workshops a cada três meses, voltados para aluguel por temporada e hotéis da área.

“A comunidade está reconhecendo o potencial que isso representa. Isso proporcionará um aporte financeiro direto às famílias, oferecendo uma chance de ganho por meio desse tipo de locação de curto prazo,” afirmou o governador Helder Barbalho em seu discurso na COP do ano anterior.

As duas companhias estão percebendo um crescimento constante na disponibilidade de imóveis. No entanto, isso é insignificante em comparação aos preços que os interessados encontram ao procurar.

“Embora seja prematuro fazer uma análise completa sobre a oferta de imóveis, a demanda contínua por inscrições nos leva a crer que poderemos descobrir novidades em relação à disponibilidade de edifícios para locação!” afirma a equipe da Airbnb no Pará em comunicado ao portal Opinião em Pauta.

Para avaliar a dinâmica atual do mercado imobiliário, o proprietário de um apartamento com uma cama de casal listado no Airbnb está solicitando R$ 220 mil, um valor mais de 20 vezes superior ao que era cobrado em períodos anteriores do ano. Ele diz que estabeleceu esse preço com base em uma projeção feita pela administração do condomínio, que estima o custo das diárias em cerca de 2 mil euros (equivalente a R$ 12.484).

O custo é semelhante ao que se desembolsa para se hospedar no Four Seasons, um dos estabelecimentos mais sofisticados de Paris.

Airbnb e Booking atuam como plataformas de intermediação e não têm influência sobre o preço dos aluguéis – “essa é uma tarefa dos anfitriões”,  afirma a Airbnb.

Solicitar uma quantia correspondente ao valor de um apartamento por um período de onze dias é uma coisa; achar alguém que concorde em pagar por isso é algo completamente distinto.

 

Investimentos

O Governo Federal alocou R$ 172 milhões do Fundo Geral de Turismo (Fungetur) com o objetivo de aprimorar os serviços turísticos e expandir a infraestrutura hoteleira na área de Belém.

A administração estadual está promovendo a atualização da infraestrutura hoteleira existente e isentou esse setor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nas aquisições internas e interestaduais de equipamentos como frigobares, televisores, ar-condicionado e móveis.

A infraestrutura hoteleira da cidade está em crescimento, com a edificação de novos hotéis por empresas internacionais, que atenderão os públicos das categorias A e B.

Um dos estabelecimentos ficará estabelecido em três armazéns na área do Porto Futuro II, outro será instalado em um edifício antigo que era da Receita Federal, o terceiro estará localizado no bairro do Reduto, em Belém, e o quarto será em Castanhal, na Região Metropolitana de Belém, de acordo com anúncios feitos pelo governo do Pará nos últimos meses.

O portal  Opinião em Pauta também verificou a duração de uma colaboração entre o governo do Pará e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinada a oferecer financiamento a diversos segmentos do setor turístico, incluindo hotéis e restaurantes.

O governo local estabeleceu colaborações para promover o aluguel de imóveis para temporada e está desenvolvendo a utilização de escolas públicas como acomodações provisórias. Ao mesmo tempo, os preços de aluguel nas plataformas online aumentaram significativamente, com valores que podem exceder um milhão de reais para um período de quatorze dias. A cidade se prepara para receber representantes e delegações de 190 nações.

Fernando Soares, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SHRBS), ressalta que a crescente demanda pode continuar a favorecer a pressão sobre o mercado, enfatizando os efeitos econômicos e logísticos do evento na capital.

“O crescimento nos preços é resultado de uma demanda excessiva combinada a uma quantidade reduzida de opções de hospedagem, o que sem dúvida beneficia aqueles que disponibilizam esses serviços”, esclarece o sindicalista.

Na imagem destacada, projeto do Parque Urbano São Joaquim, anunciada como á uma das obras de Belém visando à COP-30, que prevê beneficiar a população de vários bairros da capital paraense. O ritmo das obras é lento e tudo indica que o parque não estará pronto até 10 de novembro. (Foto: Prefeitura de Belém)

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