O Brasil registrou 3.755 homicídios a mais do que os dados oficiais, conforme revela o Atlas da Violência divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O relatório identifica essas mortes como homicídios não contabilizados.
Se esses falecimentos fossem incorporados aos dados oficiais, São Paulo deixaria de ser o estado com a menor taxa de homicídios per capita do Brasil, enquanto Santa Catarina assumiria a primeira posição no ranking (confira na imagem acima). Além disso, Acre, Rio de Janeiro, Paraíba e Rio Grande do Norte teriam suas posições alteradas.
Se incluídas as mortes não registradas, o total de homicídios no Brasil aumentaria de 45.747 para 49.502.
De acordo com a pesquisa, a causa primária é a degradação na qualidade dos dados sobre falecimentos em determinadas regiões, ligada à incapacidade das autoridades para classificar se a causa da morte foi homicídio, acidente ou suicídio.
Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia acumularam 66,4% dos homicídios não registrados, conforme revela a pesquisa. O relatório destaca que a adição dos homicídios não contabilizados “altera de maneira significativa os índices” nos estados.
“São Paulo representa o exemplo mais drástico: em 2023, o estado não contabilizou 2.277 homicídios. Enquanto a taxa oficial de homicídios era de 6,4 por 100 mil habitantes, a taxa estimada para aquele ano alcançou 11,2. Dessa forma, São Paulo deixou de ser a unidade da federação menos violenta do país, passando a ocupar a segunda posição, atrás de Santa Catarina”, afirmam os pesquisadores.
A pesquisa revela que, entre 2013 e 2023, o país registrou 51.608 homicídios considerados como mortes sem causa definida. Esses casos correspondem a 38% do total de mortes violentas durante esse intervalo (135,4 mil), sem que o governo os categorizasse como acidentes, suicídios ou homicídios.
Se esses homicídios fossem incluídos na contagem total, a cifra de assassinatos no Brasil aumentaria de 598.399 para 650.007 entre 2013 e 2023.
Em comunicado, a administração de São Paulo afirma que “realiza um acompanhamento detalhado e uma avaliação cuidadosa dos incidentes que resultam em mortes, assegurando que cada evento seja documentado e investigado de forma apropriada, a fim de prevenir que homicídios sejam incorretamente catalogados como mortes suspeitas“.
Como os óbitos foram identificados
O Atlas da Violência 2025 estabelece uma diferenciação significativa entre dois termos. O primeiro refere-se às Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI). Esse termo é aplicado quando uma pessoa falece de maneira violenta, mas as forças de saúde e segurança não conseguem identificar as circunstâncias do óbito — ou seja, não é possível determinar se se tratou de um homicídio, suicídio ou um acidente. Assim, essas mortes são oficialmente registradas como de causa indeterminada e não são contabilizadas nas estatísticas formais de homicídio.
Por sua vez, os homicídios encobertos formam uma subcategoria das mortes violentas de causas indeterminadas (MVCI). Isso significa que representam uma parte dessas mortes cujo tipo não foi claramente definido, mas que, na realidade, foram homicídios — embora não tenham sido identificados como tal nos registros. Assim, o desafio consistiu em calcular quantas dessas mortes indeterminadas eram, de fato, assassinatos que não foram oficialmente registrados.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas utilizaram uma abordagem que examinou dados históricos de óbitos violentos no Brasil desde 1996, considerando fatores pessoais e contextuais (como gênero, faixa etária, localização e situações do falecimento). Com base nessas informações, o algoritmo avaliou a chance de cada MVCI ser classificado como homicídio. Assim, foi possível estimar que, entre 2013 e 2023, 51.608 dessas mortes não esclarecidas foram, na realidade, homicídios camuflados.
“O declínio na qualidade das informações resultou em um aumento de homicídios que não aparecem nas estatísticas oficiais, o que compromete a avaliação da incidência da violência fatal“, afirma o Atlas. (Foto: Reprodução)
Fonte: Grupo Globo