Imagem publicada pelo Palácio do Planalto mostra o tenente-coronel Mauro Cid atrás do ex-chefe do GSI em uma “reunião” de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas. Em outro momento, Heleno rebateu a relatora, senadora Eliziane Gama, com palavrões. Sessão teve que ser suspensa porque deputado bolsonarista foi expulsoda sessão, mas recusou a sair.
Em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas de 8 de janeiro nesta terça-feira (26), o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Jair Bolsonaro (PL), o general Augusto, negou que o ex-ajudante de ordens do ex-mandatário, tenente-coronel Mauro Cid, tenha participado de reuniões entre Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas.
No entanto, uma imagem oficial do Palácio do Planalto divulgada no site de imagens Flickr desmente a afirmação do general, considerado um dos braços direitos do ex-presidente, que contrapõe essa afirmação. A afirmação foi feita depois que o militar foi questionado, pela relatora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre o teor de algumas alegações de Cid em delação premiada na Polícia Federal.
A senadora Eliziane perguntou ao general se ele teria conhecimento da reunião, de 24 de novembro de 2022, entre os comandantes das Forças Armadas e Bolsonaro, com a presença de Mauro Cid, em que teria sido discutida uma minuta golpista. O ex-ajudante de ordens falou sobre esse encontro à PF.
“Eu quero esclarecer que o tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões, ele era o ajudante de ordens do presidente da República. Não existe essa figura do ajudante de ordens sentar numa reunião dos comandantes de Força e participar da reunião. Isso é fantasia”, defendeu Heleno.
“Essa delação premiada do Mauro Cid, estão apresentando trechos dessa delação e me estranha muito porque ela ainda está sigilosa, ninguém sabe ainda o que ele falou”, criticou o general. “Aconteceu nos últimos meses uma supervalorização do papel de auxiliares cujo limite de atuação era muito estreito. É bobagem achar que uma conversa vai arrastar uma multidão de generais para dar um golpe. Isso é um claro desconhecimento de como funciona a hierarquia nas forças armadas”, alegou Heleno em outro momento.
Na imagem publicada pelo Planalto, é possível ver Bolsonaro acompanhado dos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, além do próprio general Heleno, e, logo atrás dele, o tenente-coronel Mauro Cid. Quando confrontado com a imagem pelo deputado Rogério Correia (PT-MG), Heleno tentou se defender.
“O coronel Mauro Cid, nessa oportunidade, estava sentado atrás, esperando, inclusive, se houvesse alguma necessidade do presidente de ligar para alguém, alguém liga… Essa é a missão do presidente de ordem, ele não dá palpite em uma reunião dessa. Ele não levanta o braço ‘presidente, eu quero falar’. Isso não existe”, argumentou Heleno.
A legenda da imagem detalha os participantes do evento: “Presidente da República, Jair Bolsonaro durante encontro com durante Reunião com Fernando Azevedo, Ministro de Estado da Defesa; Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Júnior, Comandante da Marinha do Brasil; General de Exército Edson Leal Pujol, Comandante do Exército Brasileiro; Tenente-Brigadeiro do Ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, Comandante da Aeronáutica; Almirante Esq Cláudio Portugal de Viveiros, Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, Interino, e Alte Esq Almir Garnier Santos, Secretário-Geral do Ministério da Defesa”.
“As pessoas aqui estão querendo me comprometer. Vão perder tempo. É preciso haver um pouco de senso do que está havendo para não haver acusações falsas, acusações que são sérias, porque agridem a integridade de alguém. Então é preciso que as acusações sejam um pouco refreadas”, complementou.
Na sequência, ele admitiu que Cid Raramente tinha esse papel de estar ali atrás” nas reuniões “esperando alguma coisa de que o presidente precisasse falar com ele”. Minimizar a delação de Mauro Cid faz parte da estratégia que Jair Bolsonaro e seus aliados definiram para se preservar das revelações feitas por Mauro Cid em sua delação premiada à Polícia Federal, segundo informou nesta terça-feira Bela Megale, do jornal O Globo. A tese adotada pelo ex-mandatário junto a interlocutores é que Cid não participava das reuniões que ele mantinha com os comandantes das Forças Armadas, devido à sua patente de tenente-coronel do Exército.
O militar também contradisse depoimentos anteriores de outros militares e se exaltou com a relatora da comissão. Heleno disse que não teve conhecimento de reunião no dia 24 de novembro, na qual o ex-presidente Jair Bolsonaro teria buscado o apoio das Forças Armadas para um golpe de Estado. Na ocasião, o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, teria ameaçado dar voz de prisão a Bolsonaro.
“Jamais me vali de reuniões ou palestras ou conversas para tratar de assuntos eleitorais ou políticos partidários com meus subordinados no GSI. Não havia clima para isso e o único ser político do GSI, era eu mesmo”, disse Heleno. O militar da reserva também afirmou que não tem relação com nenhum dos alvos da CPMI.
Descontrole
Em alguns momentos, Heleno mostrou descontrole ao ser interrogado. Após ser perguntado pela senadora Eliziane Gama se considerava que houve fraude nas eleições de 2022, Heleno negou, dizendo que “já tem um novo presidente da República” e que não podia dizer que houve fraude. A senadora, então, afirmou que ele “mudou de ideia”. “Ela fala as coisas que ela acha que está [sic] na minha cabeça. P*, é pra ficar p*, né?! P* que pariu!”, irritou-se o ex-ministro de Bolsonaro.
No início da tarde o depoimento foi suspenso após tumulto causado pelo deputado federal Abílio Brunini (PL-MT), um dos bolsonaristas instalados na comissão para atrapalhar o andamento dos trabalhos. Brunini armou confusão com a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) e foi expulso da sessão pelo presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA). Ele se recusou a sair, obrigando Maia a suspender a sessão.
(Foto: Lula Marques/Agência Brasil)