Há 30 anos, crianças brincando na cabine causaram queda de avião na Rússia

No dia 23 de março de 1994, um avião da companhia russa Aeroflot caiu matando todos a bordo. O voo, que tinha como destino Hong Kong, levava 75 pessoas, e teve como causa do acidente algo completamente evitável: crianças brincando na cabine de comando.

 

O voo

O voo era o Aeroflot 593, que havia decolado na noite anterior do aeroporto Sheremetievo, em Moscou (Rússia). Até 00h47min, o voo transcorreu normalmente, sem se desviar da rota planejada, mas os próximos minutos marcaram a tragédia após uma série de problemas e erros.

À 0h58min, a aeronave desapareceu das telas dos radares do controle de tráfego aéreo, marcando o momento da queda. A bordo estavam 75 pessoas, sendo 63 passageiros e 12 tripulantes.

O acidente aconteceu a cerca de 91 km da cidade de Novokuznetsk. Ela fica a aproximadamente 3.200 km de distância da capital Moscou.

A aeronave utilizada era um Airbus A310, que voou durante 4 horas e 19 minutos até o impacto com o solo. O clima do lado de fora era calmo, afastando o risco de algum fator meteorológico ter interferido no voo.

 

O começo dos problemas

Após um certo tempo de voo, os filhos do capitão estavam na cabine de comando junto ao pai. Ao seu lado ainda havia o copiloto e mais um outro piloto.

Nesse momento, as situação começou a virar em direção à tragédia. O capitão convidou sua filha de 13 anos para se sentar na poltrona do comandante. “Venha aqui se sentar no meu lugar agora. Você gostaria de fazer isso”, disse o comandante.

Ela permaneceu ali por 7 minutos, mas o controle da aeronave não foi passado para o copiloto formalmente. O pai programou o piloto automático para fazer curvas, saindo levemente da rota original, mas voltando a ela depois.

Após a menina, foi a vez do filho de 15 anos se sentar no lugar do comandante. O piloto, então, programou as mesmas manobras de curva que havia feito para a filha anteriormente.

Nesse momento, o jovem pediu para mexer no manche do avião, controlando a aeronave. O pai autorizou que ele realizasse manobras, mesmo sendo completamente inadequada a situação.

Logo no início das manobras, o capitão avisou ao filho: “Olhe o chão. Nós vamos virar”. Porém, ao mexer no comando do avião, o adolescente fez um movimento além do limite permitido, o que desativou o piloto automático.

Com o sistema dos computadores de voo desligado, a aeronave continuou a inclinar. Isso ocorreu sem que ninguém percebesse o que estava acontecendo.

 

‘Por que está virando?’

O próprio garoto foi o primeiro a perceber a situação fora do padrão: “Por que está virando?”, perguntou. Seu pai questionou: “Está virando sozinho?”. O jovem respondeu que sim.

Um avião comercial não pode se inclinar demais para os lados. Isso pode fazê-los perder a sustentação e cair.

Os pilotos, então, interpretaram que essa inclinação seria manobra de espera, quando o avião fica voando em elipse, fazendo curvas para aguardar alguma nova etapa do voo. Como estavam distraídos com as presenças adicionais na cabine, não perceberam a situação real do voo.

 

‘Sai fora!’

Após o avião perder o controle, o comandante gritou para o filho: “Sai fora!”. Com o capitão assumindo o posto, ele conseguiu recuperar o controle da aeronave, mas novos problemas surgiram na sequência.

Ao sair do mergulho, o piloto levantou o nariz do avião muito para o alto, fazendo o avião entrar em um novo mergulho. Dessa vez, não conseguiram recuperar o mergulho, e o avião colidiu com o solo.

Do começo da manobra errada até a queda, transcorreram menos de três minutos.

 

A investigação

O áudio registrado na caixa preta do avião foi fundamental para elucidar os motivos do acidente. Um dos principais fatores contribuintes, como não poderia ser diferente, foi o comandante deixar pessoas não qualificadas interferirem na operação do avião.

A falta de percepção dos tripulantes sobre o desligamento do piloto automático também contribuiu para o acidente. Havia várias distrações no momento em que os problemas aconteceram.

Entre as recomendações de segurança, estava a de que pilotos deveriam ampliar seus treinamentos para saírem de situações como as enfrentadas no voo Aeroflot 593. Ao mesmo tempo, foi reforçado que não se deve deixar de seguir os procedimentos padrões, justamente para que a operação transcorra em segurança. (Foto: Divulgação/Aeroflot)

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