Guerra: um ‘negócio dos EUA’

 

Henrique Acker (correspondente internacional)   – A Europa foi o palco das duas guerras mundiais ocorridas no século XX. O velho continente chegou ao final de 1945 com países inteiros arrasados, recorde de migração, parques industriais destruídos, fome e desemprego. Cerca de 25 milhões de civis e militares europeus morreram, com um rastro de milhões de feridos e mutilados de guerra(1).

Nada disso atingiu as elites europeias, que se refugiaram nos EUA, Austrália e outros pontos do Planeta em que a guerra pouco aconteceu ou sequer foi sentida. Uma parte delas aderiu ou fez acordos de colaboração com os regimes nazifascistas, outra comprou a liberdade e ainda conseguiu retornar à Europa depois da guerra para recuperar seus negócios.

 

Do combate ao comunismo ao eixo do mal

As duas guerras foram conflitos intercapitalistas e serviram para destruir forças produtivas (terras, fábricas e seres humanos). Delas emergiram novas empresas, novas mercados e engrenagens de gerar lucros para essas mesmas elites. Uma das maiores delas é a indústria de armas, cada vez mais sofisticada e aquecida. Na Europa arrasada, os EUA investiram U$ 18 bilhões, visando recuperar infraestruturas e impedir o avanço da influência da esquerda.

Segundo a ONU, dez países já possuem cerca de 12.500 armas nucleares no mundo armas nucleares. No entanto, a própria desmoralização a que a ONU foi submetida pelas grandes potências a partir da invasão do Iraque pelos EUA, não permite um controle seguro sobre a proliferação desses artefatos de destruição em massa, mas é previsível que seu uso ameace a humanidade e o Planeta.

Desde o final da Guerra Fria, com a derrocada da URSS em 1991, a política dos EUA é apontar o dedo e demonizar povos e países como bárbaros e inimigos, o chamado “eixo do mal”. Assim, do combate ao comunismo até o terrorismo, gerando conflitos mundo afora, foi possível sustentar a estrutura da OTAN e a indústria de armas, pela qual os EUA respondem atualmente por 42% das vendas. Entre 2019 e 2023, a Europa comprou 55% de seus armamentos e munições de empresas estadunidenses.

 

(Foto: Alexander Emochenko/Reuters)

 

Guerra sim, jamais nos EUA

O avanço do ambiente de acirramento entre duas facções do sistema capitalista – uma que privilegia a especulação financeira, capitaneada pelos EUA e UE, e outra liderada pela China que inunda o Planeta com mercadorias de todo tipo – é o prenúncio de uma crise que pode levar a um novo confronto generalizado ou a conflitos regionais de grandes proporções, como já acontece na Ucrânia e na Palestina.

Seja como for, o que está em jogo é a disputa pela hegemonia capitalista. De um lado, governos e instituições que submetem a humanidade a planos e metas que só interessam a banqueiros, grandes acionistas das finanças e de holdings. De outro a maior potência produtora e comercializadora de mercadorias do Planeta, que avança cada vez mais.

As informações sobre o alcance do poderio militar dos EUA e da OTAN não são precisas e nem de domínio público. De acordo com o historiador Raul Carrion, em publicação de 2016 com base em dados do Pentágono, os EUA possuíam 865 bases militares, distribuídas por 130 países nos cinco continentes. Outros estudiosos, como o antropólogo David Vine, apontam para o funcionamento de 750 bases militares estadunidenses. São ainda sete frotas navais cobrindo todos os oceanos e satélites rastreando o Planeta (3).

Os governos estadunidenses, no entanto, jamais admitiram colocar seu próprio território em risco. Os EUA são exímios guerreiros nas terras dos outros. Durante o século XX foi o país que mais interveio em assuntos de outras nações, com espionagem, sabotagem, apoio a ditaduras e até tropas. A política de guerra dos EUA é parte fundamental para a expansão de seus negócios.

 

Destruição e morte em Gaza (Foto: Valter Lima)

 

União Europeia em risco

Ao aderir à doutrina da Casa Branca – na versão democrata ou republicana – a União Europeia demonstra não só fragilidade como projeto, mas sua dependência dos EUA. E arrisca novamente a segurança dos povos da Europa e do seu entorno.

Chega a ser uma humilhação para os europeus assistir Viktor Orbán, um neofascista que hoje preside a UE, tomar a justa iniciativa de procurar o diálogo pela paz entre Zelensky, Putin e Xi Jinping. Aliás, o fracasso das políticas elitistas da direita europeia é o grande responsável pelo ressurgimento e normalização da extrema-direita no Velho Continente.

O que fizeram pela paz na Europa as senhoras Von Der Leyen e Roberta Metsola, e os senhores Charles Michel e Josep Borrell nesses dois anos e meio de guerra na Ucrânia? Ao contrário, jogaram gasolina na fogueira do conflito, seguindo a política da OTAN, braço militar da Casa Branca. E, contraditoriamente, apoiam sem ressalvas o governo sionista de extrema-direita de Israel, que massacra os palestinos.

Enquanto os dois conflitos seguem sem solução e sem iniciativas de paz com alguma credibilidade, as grandes empresas produtoras de armas faturam fortunas em ações nas bolsas de valores (4). (Foto: Kadmy – stock.adobe.com)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

Dados sobre mortos na II Guerra

DW Brasil

Wikipédia – Mortos na Segunda Guerra Mundial

 

O negócio das armas

Defesanet

 

Dados sobre o poderio militar dos EUA

Raul Carrion

Multimédia

 

Fabricantes de armas faturam com guerra na Ucrânia

ECO – Economia Online – SAPO

 

Lucros em bolsas com o conflito em Gaza

Money Times

 

 

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