Governo precisa agir rápido para conter inflação alimentar

A inflação persistente de produtos da cesta básica tem agravado o custo de vida da população e pode gerar impactos políticos negativos para o governo. Especialistas alertam que medidas emergenciais são necessárias para evitar um “ponto de não retorno”, que comprometa a estabilidade econômica e as condições sociais do país. O temor é que a crise alimentar abra espaço para uma nova ascensão da extrema direita nas eleições de 2026.

Embora o foco seja emergencial, também há a necessidade de reformulação da política agrícola para garantir o abastecimento interno. Nesse sentido, o Projeto de Lei nº 123/2025, de autoria do senador Beto Faro, surge como uma das alternativas em debate para soluções estruturais no setor.

 

Falha estrutural no abastecimento

O Brasil tem potencial para garantir a produção de grãos e alimentos essenciais ao longo do ano, mas a exportação excessiva de commodities e a concentração de crédito em regiões específicas têm impactado o abastecimento interno. Produtos como arroz, feijão, mandioca e trigo sofrem com deficiências na oferta e pressão inflacionária.

Dados do primeiro semestre do crédito rural 2024/25 mostram que 97% dos recursos do Pronaf para arroz foram destinados ao Sul do país, deixando outras regiões praticamente sem financiamento. O mesmo ocorre com o feijão, cuja distribuição de crédito atingiu 97,2% para o Sul.

A concentração prejudica a produção nacional. De 1990 a 2023, a área plantada com arroz na Amazônia caiu de 1,4 milhão de hectares para 372 mil. No Nordeste, o cultivo de feijão recuou de 2,7 milhões de hectares para 1,3 milhão, e a produção de mandioca caiu de 1,2 milhão para 432 mil hectares.

A continuidade dessa tendência coloca em risco a segurança alimentar do país e contribui para a volatilidade dos preços, desconsiderando a diversidade do calendário agrícola brasileiro e desperdiçando o potencial produtivo de diferentes regiões.

 

Medidas emergenciais

Diante desse cenário, especialistas defendem a adoção de medidas imediatas para mitigar os efeitos da inflação alimentar. Entre as propostas, estão:

Restrição temporária das exportações: Seguindo o exemplo de países como Índia e Argentina, o Brasil poderia aplicar uma alíquota de 30% sobre a exportação de produtos essenciais, como arroz, feijão, mandioca, café, carne bovina e óleo de soja, até que a oferta interna se estabilize.

Compras públicas emergenciais: A Conab deveria ser autorizada a recompor estoques reguladores e garantir a distribuição desses alimentos em mercados populares. Um Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) emergencial, com menos burocracia e preços de compra acima da média do mercado, ajudaria a incentivar a oferta.

Desconcentração do crédito rural: Ainda dentro do Plano Safra 2024/25, a redistribuição dos recursos deveria ser obrigatória para outras regiões, como Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, alavancando a produção de alimentos essenciais.

Reformulação do Plano Safra 2025/26: Para garantir um impacto duradouro, o novo plano safra precisa incluir medidas concretas que diversifiquem a oferta de crédito e ampliem o financiamento para a produção de alimentos prioritários na dieta brasileira.

 

Risco político

De acordo com o senador Beto Faro, que essas propostas são fundamentais para conter a inflação alimentar e preservar a estabilidade econômica do país. “O governo enfrenta um desafio crucial e precisa agir com rapidez e assertividade para evitar que a crise alimentar se torne um fator determinante nas eleições de 2026”, disse Faro.

 

Texto: Gerson Teixeira (assessor legislativo)  e Raul Krauser Brasília (Economista )

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