Mudança no formato vale a partir de 2025 e substitui medição ao fim de cada ano
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou nesta quinta-feira (29) a decisão de ajustar o sistema de metas de inflação, vigente no País há 24 anos. A decisão foi anunciada por Haddad após reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Além disso, o CMN manteve as metas de inflação em 3,25% para 2023, e 3% para 2024 e 2025. A meta será considerada cumprida se o indicador ficar entre 1,5% e 4,5% – considerando o intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, tanto para baixo, quanto para cima. Para 2026, foi definido o mesmo patamar dos anos anteriores, com o mesmo intervalo de tolerância.
O governo vai alterar os parâmetros adotados atualmente para que o país tenha um sistema em que a meta de inflação seja contínua. A mudança vale a partir de 2025, quando em seguida a meta será de 3%. A mudança vai valer a partir de 2025, quando em seguida a meta será de 3%, e, segundo Haddad, foi uma “decisão de governo”. O ministro disse que o CMN foi apenas comunicado sobre essa nova diretriz. O colegiado é formado por Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto – alvo preferencial das críticas do Executivo pelo nível atual dos juros.
Havia uma preocupação no mercado com a possibilidade de mudança nessa meta, o que foi descartado por Haddad. “Eu anunciei ao Conselho Monetário Nacional, porque isso é uma prerrogativa do presidente da República, uma mudança no regime (de metas) em relação ao ano-calendário. De maneira que agora nós adotaremos agora a meta contínua a partir de 2025. Nós decidimos manter a meta (de 3%) à luz dos indicadores econômicos, sobretudo os índices de preços, que vem demonstrando uma queda acentuada e uma convergência para a meta”, disse Haddad.
A mudança começa depois da saída da Roberto Campos Neto da presidência do Banco Central. O mandato dele termina em dezembro de 2024. O nome mais cotado para ser indicado pelo governo é do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda Gabriel Galípolo, indicado para a diretoria de Política Monetária do BC. “Por que a partir de 2025? É quando começa o mandato de um novo presidente, decidimos alterar o regime para horizonte contínuo a partir dessa data”, explicou Haddad. Haddad fez o anúncio ao lado da ministra Simone Tebet. Campos Neto não participou.
Apesar da declaração, o ministro da Fazenda tentou por diversas vezes demonstrar que há indícios de concordância de Campos Neto com o novo sistema. Haddad citou declarações do presidente do BC de que a meta contínua seria mais “eficiente” do que o formato atual. Tebet disse também que não houve objeção da autoridade monetária. “Os votos foram por unanimidade.”
Lula ainda precisa editar um decreto para formalizar a mudança, mas o ato ainda não tem data para sair, pois depende de ajustes finais no desenho. Até lá, o CMN continua assegurando metas anuais de inflação. Desde o início do ano, Lula defendeu em diversas ocasiões uma revisão da meta para cima, na expectativa de que isso desobrigasse a autoridade monetária a persistir em uma política mais rigorosa de juros. As falas públicas do presidente criaram ruídos nas próprias expectativas para a inflação e alimentaram incertezas.
O anúncio de que a meta permanecerá em 3% mostra que a equipe econômica não atendeu a esses apelos do chefe do Executivo. “O presidente me deu carta branca para tomarmos a decisão que julgássemos mais conveniente para este momento”, disse Haddad. A avaliação, segundo o ministro da Fazenda, é que não teria sentido elevar a meta de inflação num momento em que os próprios agentes do mercado financeiro já projetam uma acomodação da variação de preços em patamar próximo à meta de 3%, transmitindo a mensagem de um país mais leniente com a corrosão do poder de compra da moeda.
(Foto: Diogo Zacarias)