Cá entre nós – Henrique Acker
Faz tempo que as eleições norte-americanas passaram a ter um papel decisivo para o Mundo. A grande potência militar, com centenas de bases e efetivos em todos os continentes, continua cumprindo o papel de polícia da humanidade. Faz parte da vocação imperialista e dos compromissos com a maior indústria de armas do Planeta.
No entanto, a hora é de convencer o eleitorado e ganhar votos. Para derrotar a facção republicana na eleição de novembro e seguir governando, a facção democrata estadunidense também precisa convencer o “mercado” e o eleitorado de sua política internacional. Todas as iniciativas adotadas nas últimas semanas vão neste sentido.
Nada melhor do que dar um freio de arrumação nos campos de batalha e agir como bombeiro em incêndios que o próprio governo Biden começou, notadamente na Ucrânia e no Oriente Médio. Em resumo: dar uma aliviada nas tensões até as eleições de novembro.
Marketing nos conflitos da Ucrânia e de Gaza
Antony Blinken se esforça em arrumar um cessar-fogo em Gaza por algum tempo. O suficiente para aliviar a pressão do eleitorado progressista sobre o governo Biden e, quem sabe, dar crédito a candidata democrata à Casa Branca. Para o lobbie judaico-sionista norte-americano, Kamala Harris deixa claro que continuará na defesa de Israel.
Na guerra da Ucrânia, a Casa Branca incentiva Zelensky a apresentar o que ele chama de um “plano de vitória” a Biden, Trump e Harris. Uma demonstração de capachice explícita de Kiev em relação a Washington, que aplaude a ofensiva ucraniana em Kursk montada pela OTAN. Mesmo que seja apenas uma jogada de marketing para a negociação com a Rússia.
Ainda que seja só um blefe, o tal plano de Zelensky pode servir de cortina de fumaça para acalmar parte do eleitorado norte-americano, cansado das justificativas da Casa Branca para encher as burras dos dirigentes ucranianos de dinheiro do contribuinte.
A combinação parece tão evidente que as agências de notícias informaram a ligação telefônica de Zelensky para Netanyahu. Será mesmo uma coincidência?
Endurecimento na América Latina e trégua com a China
Para a América Latina os sinais são outros. O velho intervencionismo de Washington se faz sentir, desde a atuação direta junto à oposição de extrema-direita na Venezuela, até o “monitoramento” da contenda entre o STF e o senhor Elon Musk, no Brasil, em nome da vigilância em favor da “liberdade e da democracia”.
Esse intervencionismo descarado também se evidencia com um alerta ao governo do México para evitar reformas democráticas do Judiciário, e aconselhamentos a Honduras, para repensar sua decisão de encerrar os acordos de imigração com os EUA.
Um emissário de Biden esteve recentemente em visita oficial à China, onde se avistou com o Presidente Xi Jin Ping. Falou-se na necessidade da retomada de relações cordiais entre as superpotências. Espera-se para breve uma ligação telefônica entre os dois mandatários nos próximos dias. O objetivo de Biden é obter um encontro com Xi antes da eleição, o que sinalizaria uma trégua.
Se não pretende mudar sua política, pelo menos a facção democrata sinaliza para o “mercado” e o eleitorado que pretende evitar um tensionamento maior no plano internacional. Ainda que tudo seja muito mais uma jogada de marketing do que uma convicção. Se tudo correr bem e Kamala Harris for consagrada nas urnas, depois da eleição tudo deve voltar ao “normal”. (Foto: REUTERS – Mike Segar)
Por Henrique Acker (correspondente internacional) – 31 agosto/24