Governo anula leilão para compra de arroz importado após suspeitas sobre empresas

Certamente foi cancelado após denúncias de que as empresas vencedoras não tinham capacidade técnica. Neri Geller, que estava à frente da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, deixou o cargo

 

O diretor-presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, anunciou na tarde desta terça-feira (11) a anulação do leilão do governo para compra de arroz importado e beneficiado, na última quinta-feira (6). Segundo ele, um novo procedimento, “mais ajustado”, será realizado. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller, envolvido no processo, foi demitido pela manhã, de acordo com integrantes do governo.

“Em acordo com o ministro Fávaro [Agricultura] e Paulo Teixeira [Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar], decidimos anular esse leilão. E vamos revisitar os mecanismos que são estabelecidos para esses leilões, com apoio da Controladoria Geral da União, da Advocacia Geral da União, pretendemos fazer um novo leilão, quem sabe em outros modelos, para que a gente possa ter as garantias de que vamos contratar empresas que tenham capacidade técnica e financeira, e que vão honrar os contratos. Por esse motivo, a decisão é anular esse leilão e proceder com um novo mais ajustado”, disse Pretto em entrevista coletiva aos jornalistas.

Por meio da Secretaria de Comunicação Social, o governo federal confirmou a anulação do leilão “devido a questionamentos sobre as capacidades técnicas e financeiras por parte das empresas vencedoras”. O governo diz que vai revisar os mecanismos estabelecidos para os leilões para realizar um novo pregão. “A partir da revelação de quem são as empresas (vencedoras do leilão), começou o questionamento se essas empresas tinham capacidade técnica e financeira para honrar os compromissos de um volume expressivo de dinheiro público. (…) Decidimos anular esse leilão e vamos revisitar os mecanismos estabelecidos para realizar esse leilão”, afirmou Edegar Pretto.

Segundo o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, o próximo leilão – ainda sem data definida – terá um edital “mais moderno, eficiente e transparente”. “Vamos construir mecanismos para que a gente possa avaliar antes quem vai participar, exigir capacidade financeira das empresas e experiência na área”, disse.

A Conab está autorizada a comprar até 1 milhão de toneladas de arroz, mas os leilões serão realizados de acordo com a necessidade da população, informou o governo. O produto será comercializado nas regiões do país com maior índice de insegurança alimentar, em embalagem específica e com valor máximo de R$ 4 o quilo, para que o preço final do pacote com cinco quilos não ultrapasse R$ 20.

Empresas de ex-assessor

Duas empresas criadas por um ex-assessor de Neri Geller — Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e Foco Corretora de Grãos — intermediaram a venda do arroz pelo leilão. Elas representaram três das quatro empresas que ganharam o certame, a ARS Locação de Veículos e Máquinas, a Zafira Trading e a Icefruit Indústria e Comércio de Alimentos. O perfil das empresas gerou suspeitas por não trabalharem com arroz. O ex-assessor também é sócio do filho de Geller.

Já a maior fatia, equivalente a 56% do total, foi arrematada por uma mercearia de bairro de Macapá pela razão social de Wisley A. de Sousa Ltda. Com a repercussão negativa, o secretário, que também é ex-deputado e ex-ministro, deixou o cargo. De acordo com integrantes do governo, ele foi demitido. O ministro da Agricultura disse, porém, que Geller colocou o cargo à disposição.

“Hoje pela manhã, o secretário Neri Geller me comunicou, ele fez uma ponderação, que quando o filho dele estabeleceu a sociedade com essa corretora do Ministério do Rio Grande do Sul ele não era secretário e, portanto, não tinha conflito. Essa empresa não está operando, não está participando do leilão, não fez nenhuma operação e isso é fato também. Nenhum fato que gere qualquer tipo de suspeita. Mas que de fato gerou um transtorno e por isso ele colocou hoje de manhã o cargo à disposição. Ele pediu demissão e eu aceitei”, afirmou Carlos Fávaro.

(Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

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