Os contratos dos clubes com o Grupo Globo pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro terminam em dezembro de 2024. Mas a emissora pode continuar transmitindo o futebol nacional.
A data coincide com o período em que as equipes querem colocar em vigor uma liga para gerir o torneio. Divergências entre os times sobre valores que cada um deve receber colocaram um freio nas negociações, criaram uma cisão e têm características para diminuir o faturamento com o torneio, e adiar o desejo de retirar da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) o poder sobre a competição.
O problema é que os clubes não se entendem quanto à divisão do valores para cada um.
A Globo decidiu se antecipar à formação de uma liga e enviou uma proposta para o bloco comercial da Libra.
A emissora carioca ofereceu composição de R$ 1,1 bilhão aos times da Libra pela transmissão dos jogos da Série A na TV aberta, fechada e mais R$ 900 milhões de pay-per-view.
A Amazon apresentou a proposta em conjunto, a fim de ter um jogo exclusivo por rodada em seu streaming, o Prime Video.
Os times da Liga Forte Futebol ainda não receberam uma oferta formal, mas ela deve chegar nas próximas semanas, em valores abaixo dos apresentados à Libra. O total esperado é de R$ 2 bilhões.
Atualmente, os clubes arrecadam R$ 2,1 bilhões em contratos de transmissão, de acordo com o site esportivo da emissora do Rio.
Quando começou essa discussão, há dois anos, havia a expectativa de que esse montante poderia subir para R$ 4 bilhões.
A Libra, em um formato ideal de 40 clubes, todos da Série A e B, estima receber ao menos R$ 2,8 bilhões pela exibição dos jogos para estabelecer uma divisão equilibrada de receitas, com 45% da distribuição igualitária (para todos os times), 30% pelo desempenho (em campo) e 25% pela audiência.
A Forte Futebol defende modelo semelhante de divisão do dinheiro, mas sem garantias aos clubes de maior torcida, como Flamengo e Corinthians.
Na Libra, o chamado “mínimo garantido” foi estendido a todos os seus signatários.
Cenário
No ano passado, o Palmeiras ganhou R$ 153 milhões da TV. O Flamengo embolsou R$ 256 milhões. A diferença de um para o outro foi de R$ 103 milhões. Com esse dinheiro a mais, o time do Rio pode ter um time mais forte, pagar melhores salário e contratar. Os clubes não querem que essa diferença seja tão grande entre eles.
“Do ponto de vista da captação de novos recursos, a posição do futebol nacional fica muito fortalecida quando os clubes negociam em bloco: o poder de barganha é maior, a credibilidade do produto cresce, a capacidade de entregar ativações e estratégias de marketing alinhadas para todos os torcedores aumentam. Os campeonatos se organizam, abrem escritórios em diversas partes do mundo e geram negócios dos mais diversos, inclusive em escala global: licenciamento, patrocínios regionais, ativações no digital… Não tenho dúvidas de que será positivo para o futebol brasileiro”, afirma Fernando Paz, diretor comercial da Absolut Sport, agência de marketing esportivo.
As negociações originais visavam a criação de uma única entidade, que acionaria um fundo de investimento ao longo de um certo prazo. Esse fundo captaria recursos para financiar a entidade, expandir a marca mundo afora e vender os direitos de transmissão dos jogos, naming rights, placas de publicidade e outras iniciativas relacionadas à marca do Campeonato Brasileiro.
A liga, como na Europa, também ficaria responsável pelo estabelecimento de um calendário, tabela de jogos, definição e distribuição de horários e a redação de um regulamento, podendo estabelecer um fair play financeiro, com um teto orçamentários aos quais os clubes deveriam obedecer.
“O principal ativo de uma liga são os direitos de transmissão da competição, que, quando negociados de forma coletiva, como ocorre na Europa, tendem a aumentar a arrecadação se comparados a venda individual ou em blocos. Em ligas maduras, a exploração de novas receitas não tem fronteiras. A liga espanhola, por exemplo, tem um braço de tecnologia voltada ao esporte. A MLS, nos EUA, tem uma subsidiária que explora e comercializa direitos comerciais de terceiros, prestando assessoria à federação americana de futebol”, diz Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito esportivo.
Com a divisão de times formada entre Libra e Liga Forte Futebol (veja abaixo suas composições), esses dois blocos ficariam restritos à venda dos direitos de transmissão. A organização da competição, por ora, continuaria a cargo da CBF. mas o maior problema nesse momento não é esse. O que emperra as discussões dos presidentes de clubes é o valor de cada um. Todos querem ganhar mais. Dadas essas circunstâncias, as emissoras de televisão já começaram a se movimentar para apresentar aos dois grupos propostas para a exibição do Brasileirão a partir de 2025.
Outros players disputam direitos de transmissão.
Na TV aberta, o SBT tem investido pesado em torneios da Conmebol, como a Sul-Americana, e da Uefa, incluindo Champions League e fases derradeiras da Liga Europa e Liga Conferência. Procurada pelo Estadão, a emissora de Silvio Santos afirmou que “o SBT tem sempre o interesse em investir nos esportes, mas não comenta possíveis negociações.”
“Uma liga envolve a transformação das marcas de cada um dos clubes, isoladas, em um conjunto de marcas relacionadas, gerando uma nova, que é a do produto ‘futebol brasileiro’, hoje, no resto do mundo, atribuída quase que exclusivamente à seleção. Uma liga trataria de
melhor forma do calendário, dos horários dos jogos, de regulamentos dos torneios, relacionados aos atletas e suas relações com clubes, das especificações e usos dos estádios, de padronizações importantes para as transmissões, da forma como os ingressos serão disponibilizados e para quem, fazendo com que os torcedores atribuam maior valor não somente aos jogos dos times para os quais torcem, mas para um conjunto de jogos, do qual o clube para o qual torce faz parte”, explica Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa americana de entretenimento comandada pelo cantor Jay-Z.
Valores na Espanha: Barcelona e Real Madrid dominam
A LaLiga divulgou os valores que os times na Espanha receberiam de direitos de transmissão de jogos na temporada 2021/2022. Real Madrid e Barcelona faturaram mais. O time de Carlo Ancelotti ganhou 160,8 milhões de euros (R$ 847 milhões). O Barça ficou com 160,1 milhões de euros (R$ 843 milhões). Os cinco primeiros clubes tinham ainda Atlético Madrid (130,33 milhões de euros), Sevilha (87,5 milhões de euros) e Valencia (69,8 milhões de euros).
No total, o Campeonato Espanhol distribuiu 1,4 bilhão de euros (R$ 7,3 bilhões) pelos direitos de TV, enquanto a segunda divisão do país teve 198,99 milhões de euros (R$ 1 bi).
Com informação de O Globo
(Foto: CBF/Divulgação)