Gleisi cobra redução na taxa de juros e investigação de Campos Neto

Deputada petista liderou um grupo de 17 líderes de nove partidos que pediram ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), investigação contra o BC e Roberto Campos Neto pela manutenção dos juros altos no país. Em conversa com o Opinião em Pauta, Gleisi também comentou os impactos políticos com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. 

 

Thiago Vilarins – Para a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), a política monetária do Banco Central (BC) está “viciada” e a manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano é um grande erro. ” Avaliamos que a política monetária está viciada, que manter juros de 13,75% é um grande erro. Não é mais só o viés político, tecnicamente não se justifica a manutenção dessa taxa de juros”, disse a parlamentar em uma breve conversa com o Opinião em Pauta, na noite desta quarta-feira (5), após a entrega de uma petição ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que requisita a instauração de um “procedimento apuratório” para investigar a política monetária do Banco Central (BC) e a demora do presidente Campos Neto em reduzir a taxa de juros. A petista organizou o movimento que reuniu 17 líderes de nove partidos.

“Nós entendemos que, além de perseguir a queda da inflação, o Banco Central também tem o objetivo de incentivar o pleno emprego, o desenvolvimento econômico. E isso não foi cumprido ao longo desses últimos anos “, afirmou Gleisi. Nesse sentido, ela frisou que o Senado tem a obrigação legal de fiscalizar o BC. “O Senado é a Casa que tem a responsabilidade pela Lei de Autonomia do Banco Central, de fiscalizar o BC. Então, o BC tem que prestar contas ao Senado.”

A petista citou “ótimos” indicadores econômicos que possibilitam redução nos juros, como a queda da inflação e a valorização do real frente ao dólar. Além disso, afirmou que a indignação contra os juros altos é um movimento que “tem crescido na sociedade”. E cobrou redução “imediata e considerável” na Selic. “Entendemos que para fazer efeito na economia, nós precisaríamos de uma redução da taxa de juros imediata, e uma redução considerável”, afirmou. “Não tem justificativa para continuar com essa taxa de juros. Esse é o grande impedimento para a gente ter o desenvolvimento econômico hoje no país”, completou.

O documento entregue ao presidente do Senado ainda pede a “apuração de eventuais responsabilidades do atual Presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, no que se refere à demora e ao não cumprimento adequado do controle da inflação, do emprego e desenvolvimento econômico e social”. “A gente pede para eles (senadores) investigarem a responsabilidade do Campos Neto sobre o tempo grande que se levou pra buscar a queda da inflação e sobre os objetivos do Banco Central”, defendeu, ressaltando que a política monetária atual é equivocada por questões “políticas” e “técnicas”. “Eu, particularmente, acho que tem um viés político, claro, ele foi indicado em um outro governo. Ele tem uma outra linha econômica, mas o problema é que a questão técnica também não embasa, porque a inflação está caindo, o câmbio está controlado…, quer dizer, não tem porquê manter uma taxa de juro alta”, finaliza.

Na conversa com a reportagem do Opinião em Pauta, a presidente do PT ainda comentou sobre a recente decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível. “A decisão é pedagógica, porque não pode ficar no jogo quem atenta contra as regras do jogo. Se o presidente não acredita na urna eletrônica, agride as instituições, estimula ações golpistas, ele não está querendo fazer a política nas regras do jogo democrático. Então, tem que sair do jogo”, disse a deputada, completando, em seguida, que a inelegibilidade de Bolsonaro enfraquece a direita em um primeiro momento, mas que impacto real desta decisão só será avaliado nas próximas disputas eleitorais.

 

Confira a entrevista:

 

O que consiste essa petição que foi entregue ao presidente do Senado?

É um pedido de investigação sobre a política monetária nacional, sobre esse descompasso entre a realidade econômica que nós estamos vivendo hoje e a manutenção das altas taxas de juros. Nós avaliamos que a política monetária está viciada, que manter juros de 13,75% é um erro. Os juros servem para controlar a inflação, mas também o Banco Central tem o objetivo de incentivar o pleno emprego, o desenvolvimento econômico. E isso não foi cumprido ao longo desses últimos anos. A inflação já está caindo. Nos últimos doze meses, a inflação está em 3,4%, a meta do BC é 3,5%, então não justifica manter uma taxa de juro alta, se você já tá no processo de controle da inflação. A taxa de juros ela implica em uma desativação da econômica, porque as pessoas não buscam crédito, não investem, enfim… Então, esse é um ponto. O Senado é a Casa, é o poder que tem a responsabilidade pela Lei de Autonomia do Banco Central, de fiscalizar o BC. O BC tem que prestar contas ao Senado. E, também, a gente pede para eles investigarem a responsabilidade do Campos Neto sobre o tempo grande que se levou pra buscar a queda da inflação e sobre os objetivos do Banco Central.

 

Na opinião de vocês, essa resistência em reduzir a taxa básica de juros é por questão política? Por isso que se faz necessária uma investigação?

Eu acho que não é mais só o viés político, tecnicamente não se justifica a manutenção da taxa de juros. Eu, particularmente, acho que tem um viés político, claro, ele foi indicado em um outro governo. Ele tem uma outra linha econômica, mas o problema é que a questão técnica também não embasa, porque a inflação está caindo, o câmbio está controlado…, quer dizer, não tem porquê manter uma taxa de juro alta.

 

E como deve ocorrer essa investigação?

Nós solicitamos ao presidente para abrir essa investigação, ele vai fazer uma consulta ao jurídico e vai remeter a uma comissão da Casa que deve ser a Comissão de Assuntos Econômicos. A partir daí, a Comissão de Assuntos Econômicos abre o processo investigativo. Vai chamar o Banco Central, vai averiguar as documentações, vai fazer análise dos indicadores econômicos, enfim, vai ter um amplo processo investigativo lá. E, obviamente, se chegar a conclusão de que tem problema, terá uma responsabilização.

 

Queria aproveitar para perguntar para a senhora o que representa, na sua avaliação, a decisão do TSE na última semana que tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível? E qual o futuro do bolsonarismo a partir desta decisão?

Eu acho que a inelegibilidade do presidente Jair Bolsonaro é pedagógica, ela é educativa, porque não pode ficar no jogo quem atenta contra as regras do jogo. Se o presidente não acredita na urna eletrônica, todo mundo acredita, se o presidente agride as instituições, se o presidente estimula ações golpistas, ele não está querendo fazer política nas regras do jogo democrático. Então, tem que sair do jogo. Para mim é pedagógico. Agora o bolsonarismo é um movimento ainda forte na sociedade, tem apoio. Acho que vão continuar numa disputa política e cabe a gente, dentro da política, fazer disputa das ideias.

 

Mas essa decisão, de alguma forma, enfraquece a direita, principalmente, visando as próximas eleições municipais?

Eu acho que, em um primeiro momento, tem um impacto de enfraquecer. Não sei qual é o impacto, exato, disso. Mas com certeza tira um pouco de força.

 

E para as eleições gerais de 2026?

Para 2026 também, mas depende que o bolsonarismo vai eleger como candidato à sucessão, mas, de fato, não é fácil substituir. O Bolsonaro não está morto, assim como o Lula nunca teve.

 

 

(Foto: Jorge William/Agência O Globo)

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