Por Henrique Acker – Mais um país que pertencia à antiga União Soviética vive dias de tensão. Desta vez é a Geórgia, república com cerca de 3,7 milhões de habitantes, que faz fronteira ao norte com a Rússia, a sudeste com o Azerbaijão, ao sul com a Armênia e a sudoeste com a Turquia, sendo banhada a oeste pelo Mar Negro.
Nos últimos dias, milhares de georgianos foram às ruas da capital, Tibbilisi, para exigir novas eleições parlamentares e protestar contra a declaração do atual primeiro-ministro, que anunciou um congelamento até 2028 das negociações para a adesão do país à União Europeia. Dezenas de manifestantes foram presos e policiais saíram feridos nos confrontos.
A Geórgia apresentou seu pedido formal de adesão à União Europeia em março de 2022. Em dezembro de 2023, o Conselho Europeu concedeu o estatuto de país candidato à Geórgia. Mas este ano, devido à aprovação da lei de transparência da influência estrangeira, a relação entre UE e o país foi congelada.
Adesão à UE consta da Constituição
Localizada na região estratégica do Cáucaso e espremida entre a Rússia e a Turquia, a Geórgia sofre grande pressão política de Moscou e da União Europeia. Desde 2016, há negociações para o ingresso do país na UE, desejo que consta inclusive da Constituição.
No entanto, o governo de Vladimir Putin teme que o ingresso da Geórgia na UE seja a porta de entrada de mais um país vizinho para a OTAN, o que tornaria vulnerável a fronteira sul da Rússia. Em agosto de 2008, tropas dos dois países chegaram a se enfrentar em função de conflitos entre o território da Ossétia do Sul e aldeias da Geórgia.
A oposição rejeita o resultado da eleição, sob a acusação de manipulação e de interferência estrangeira. A votação foi vencida pelo partido no poder, o Sonho Georgiano (SG), com 53,9% dos votos válidos, acusado de simpatizar e colaborar com a Rússia.
“Chantagem” da União Europeia
Uma delegação de observadores da União Europeia teria registrado casos de compra de votos e de voto duplo na eleição de outubro deste ano, especialmente nas zonas rurais do país.
Outro sinal de irregularidade apontado por observadores estrangeiros foi a presença de câmeras nos locais de votação, além de mais recursos financeiros e maior tempo de campanha para o partido vencedor nos meios de comunicação.
Depois de confirmados os resultados da eleição, o atual primeiro-ministro Irakli Kobakhidze afirmou que “o povo georgiano escolheu a paz e o desenvolvimento do país, um futuro brilhante e europeu”.
Kobakhidze acusa o Parlamento Europeu e alguns políticos europeus de “chantagem”, mas promete continuar com as reformas necessárias para a adesão à UE. “Até 2028, a Geórgia estará mais preparada do que qualquer outro país candidato para abrir negociações de adesão com Bruxelas e se tornar um Estado-membro em 2030”.
Lei regulamentou atuação de ONGs
A UE rejeita a chamada “lei dos agentes estrangeiros”, que impõe a todas as Organizações Não Governamentais (ONG) internacionais atuantes no país a identificação das suas fontes de financiamento.
“O único objetivo desta legislação é informar a sociedade georgiana, manter o processo político transparente e salvaguardar o desenvolvimento democrático da Geórgia”, afirmou a deputada do SG, Maka Botchorishvili, à Euronews.
Já a atual presidente da Geórgia, Salomé Zurabishvili, afirmou que a Geórgia foi vítima de uma “operação especial” russa, negando-se a reconhecer os resultados da votação, que deu a vitória ao partido no poder, o Sonho Georgiano.
A presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, afirmou que “o regresso da Geórgia ao caminho da UE está nas mãos da liderança georgiana”. A nova chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, condenou o uso da força contra manifestantes.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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