Henrique Acker (correspondente internacional) – A inexistência de limites às ações das Forças de Defesa de Israel é o que pode explicar o assassinato de sete voluntários da Organização Não Governamental World Central Kitchen (Cozinha Central Mundial), que conduziam três automóveis carregados de alimentos para a população de Gaza.
Incentivados pelo primeiro-ministro e outros líderes do governo de extrema-direita, que volta e meia visitam a linha de frente, muitos dos soldados israelenses encaram a ocupação de Gaza como uma oportunidade de vingança e de fazer justiça com as próprias mãos.
Em recente reportagem do jornal Haaretz, de Israel, oficiais e soldados dão depoimentos chocantes sobre a conduta do exército israelense, em que confirmam que qualquer palestino pode ser alvejado e morto em Gaza. Mais de 50 vídeos postados na Internet pelos próprios soldados, confirmados pela CNN e o jornal New York Times, mostram a prática de inúmeros crimes de guerra contra a população civil.
Porta-voz das FDI culpa a ONU
A morte dos sete voluntários da WCK talvez sirva para que governantes dos EUA e da Europa tomem alguma medida concreta para frear o ímpeto do governo de extrema-direita de Israel, em sua campanha genocida contra a população palestina.
Até agora, passados seis meses da invasão da Faixa de Gaza, com mais de 33 mil mortes e 76 mil feridos, nenhuma sanção foi aprovada pelos EUA e a União Europeia contra o governo de Netanyahu. Ao contrário, o governo Biden e de Olaf Scholz (Alemanha) continuam sendo os que mais enviam armas e munições para abastecer o exército de Israel.
Apesar de reconhecer e lamentar o ataque aos três carros da WCK, o porta-voz do exército de Israel, David Mencer, afirmou à Sky News que “as Nações Unidas têm sido irremediavelmente ineficientes no que diz respeito à distribuição e a sua agência de refugiados UNRWA tem sido uma frente para o Hamas”.
Netanyahu diz que foi “sem querer”
Governantes da Austrália, Inglaterra, Alemanha, EUA e França pediram uma investigação isenta do caso ao governo de Israel. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Polônia anunciou que seu país pretende conduzir uma apuração independente do acontecimento, no qual um cidadão polonês foi morto.
Jean-François Corty, vice-presidente dos Médicos do Mundo, disse que o ataque aéreo israelita que matou sete trabalhadores em Gaza é “uma mensagem enviada pelo exército israelita” com o objetivo de impedir que os trabalhadores humanitários intervenham no terreno.
A repercussão do fato foi tamanha, que o chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, Herzi Halevi, pediu desculpa. Para Halevi o incidente foi o resultado de uma “identificação incorreta”. Benjamin Netanyahu disse que o exército israelense matou os voluntários da WCK “sem querer”, prometendo que seu governo vai proceder a uma investigação do caso.
Comida é “direito humano universal”
Num artigo publicado pelo sitio de notícias israelense Ynet (o mais lido do país), o chef espanhol e dirigente da WCK, José Andrés, afirmou que o incidente não foi “só mais um erro”. Para ele, “foi um ataque direto a carros claramente identificados, cujos movimentos eram conhecidos pelas FDI [Forças de Defesa de Israel]”.
A ONG já forneceu mais de 43 milhões de refeições por terra, ar e mar aos palestinos. Um novo carregamento de ajuda humanitária partiu recentemente de Chipre com alimentos suficientes para preparar mais de um milhão de refeições, e está a caminho de Gaza. A operação conta com o apoio de três navios e uma barcaça.
Andrés afirma ainda que os sete voluntários mortos da WCK eram “o melhor da humanidade”, “arriscaram tudo para a mais fundamental atividade humana: partilhar a nossa comida com outros” e acreditavam que a comida é um “direito humano universal”. (Fotos: Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
https://wck.org/news/honoring-gaza-team
https://wck.org/en-us/relief/middle-east-2023
https://opiniaoempauta.com.br/onu-quer-investigacao-de-barbaridades-das-tropas-israelenses-em-gaza/