General Heleno também foi espionado pela ‘Abin paralela’ de Bolsonaro

Investigações da Polícia Federal apontam que o rastreamento de Heleno pode ter ocorrido a partir de uma desconfiança de Bolsonaro em relação a aliados

 

Um dos aliados mais próximos de Jair Bolsonaro (PL), o general da reserva Augusto Heleno, também foi monitorado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) quando comandava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). De acordo com indícios levantados, o general foi acompanhado por meio do programa de espionagem “FirstMile”, que rastreava a localização de celulares, relata Renata Agostini, do jornal O Globo.

De acordo com os dados obtidos pela investigação, um número de celular associado a Heleno foi consultado 11 vezes no “FirstMile” em maio de 2020. O aparelho telefônico sob vigilância era de uso funcional, vinculado a assuntos de trabalho e não registrado em nome do militar, presumivelmente para evitar rastreamento direto. Esse fato sugere que alguém próximo ao ex-ministro tinha conhecimento do uso desse dispositivo.

A inclusão de Heleno como alvo da chamada “Abin paralela”, que teria realizado atividades de espionagem ilegal, surpreendeu membros da investigação. Especialmente porque o ex-ministro é suspeito de comandar uma estrutura informal de inteligência durante o governo Bolsonaro, conforme admitido em gravações de reuniões ministeriais obtidas pela Polícia Federal.

Os investigadores consideram que o monitoramento de Heleno pode ter sido motivado pela desconfiança de Bolsonaro em relação a seus aliados próximos. Pouco antes da espionagem pela Abin, o ex-juiz parcial e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil-PR), hoje senador, havia pedido demissão, acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. Heleno tentou mediar a situação, encontrando-se com Moro, mas sem sucesso.

No mesmo período, o GSI, sob o comando de Heleno, foi alvo de críticas de Bolsonaro, que se mostrava insatisfeito com a atuação do órgão e frequentemente reclamava da falta de informações de inteligência para embasar suas decisões estratégicas ou mapear possíveis riscos ao seu governo. A circunstância do monitoramento de Heleno, no entanto, ainda está sob investigação.

Tanto a defesa do ex-ministro quanto a Abin optaram por não comentar sobre o assunto. Os números de telefone monitorados pela Abin estão sendo identificados pela PF com o apoio da Controladoria-Geral da União. Além de Heleno, políticos, assessores parlamentares, jornalistas, ambientalistas e advogados também foram alvos da suposta “Abin paralela”, segundo informações dos investigadores.

(Foto: Marcos Corrêa/PR)

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