Freixo destaca desempenho da Embratur e não se vê ameaçado pelo Centrão: ‘nenhum risco’

Thiago Vilarins – O Brasil recebeu nos primeiros quatro meses deste ano 2,7 milhões de turistas estrangeiros. O número corresponde a cerca de 75% do total de turistas de outros países que vieram visitar o território brasileiro ao longo de todo o ano passado (3,6 milhões). A expectativa é que, até dezembro, o montante de turistas estrangeiros atraídos para conhecer o Brasil supere a marca de 6,5 milhões, ultrapassando o recorde anotado no país nos anos anteriores à pandemia.  A declaração é do presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, que concedeu uma entrevista exclusiva ao portal Opinião em Pauta. Segundo Freixo, depois de “arrumar a casa” devastada no último governo, de restabelecer um quadro qualificado de servidores e de firmar parcerias com gestores municipais e estaduais, a Embratur começa a colher os primeiros frutos com panorama extremamente promissor.

“A gente assumiu a Embratur com muita precariedade, sem orçamento, sem equipe técnica, muitos desvios… a gente documentou tudo, chamou o TCU, todos os órgãos de fiscalização e controle para acompanharem de perto, montou uma equipe técnica e começou a trabalhar. Trabalhamos junto com os prefeitos, junto com os governadores, sem distinção se eram de direita ou esquerda. A gente trabalhou para o Brasil e os resultados apareceram. De janeiro a abril a gente recebeu 2,7 milhões de turistas estrangeiros e eles deixaram aqui R$ 10 bilhões. É 75% de todo mundo que veio em 2022 A gente está superando 2019”, destacou Freixo, completando que os dados mais recentes apontam um momento muito favorável para o turismo brasileiro.

“Os números são muito positivos, nesse momento. Os turistas os estrangeiros deixaram aqui R$ 3 bilhões em maio. Estamos falando de um mês que não tem festas, que não é de verão, que não é um mês de destaque em nenhum lugar do Brasil. O momento é muito promissor, com o turismo gerando emprego e renda. É a grande indústria do século XXI. A nossa expectativa é de que que este ano a gente iguale o recorde de 6,5 milhões de estrangeiros”, emendou.

Mesmo com o ótimo desempenho da agência responsável pela promoção do País no exterior, Marcelo Freixo convive com o fantasma da crise do governo federal com o Centrão que pode custar o seu posto a frente da Embratur. Na última quinta-feira (6), o governo Lula anunciou a saída da ministra Daniela Carneiro do Ministério do Turismo, para atender as demandas do União Brasil, que condicionou apoio ao governo nas votações de seu interesse na Câmara dos Deputados a partir da formalização da troca de cargos.  A sigla definiu que futuro ministro será o deputado Celso Sabino (PA).

“Eu acho que as mudanças de ministério cabem ao presidente da República. A mim cabe respeitar e trabalhar com o ministro, seja quem for, mas ao longo da história da Embratur nunca teve compatibilidade necessária entre o presidente da Embratur e o Ministério. O ideal é que a gente trabalhe junto. E eu vou trabalhar junto com quem quer que seja. Mas não vejo a Embratur correr nenhum risco neste sentido”, rechaçou Freixo ao ser questionado pelo Opinião em Pauta sobre a possibilidade de ter que ceder o seu posto para atender as pressões do Centrão.

Um sinal de que o União Brasil não vai aceitar não ter recebido o Ministério do Turismo de porteira fechada foi a divulgação de uma nota, também na quinta-feira, que pediu o adiamento da votação da reforma tributária. O gesto foi considerado pelo governo Lula, entre outros motivos, como uma retaliação pela recusa em entregar a Embratur. Apesar da pressão, o presidente Lula se mostra irredutível em interromper o serviço de excelência que está sendo conduzido pelo seu correligionário. Marcelo Freixo, inclusive, reforça o posicionamento do presidente.  ” É normal. Eles apresentam tudo o que querem. Mas aí tem o presidente Lula, que é quem, realmente, decide.”

 

Freixo: “Eu acho que as mudanças de ministérios cabem ao presidente da República. A mim cabe respeitar e trabalhar com o ministro, seja quem for, mas ao longo da história da Embratur nunca teve compatibilidade necessária entre o presidente da Embratur e o Ministério”. (Foto: Valor Econômico)

 

Confira a entrevista exclusiva que o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, concedeu à reportagem do Opinião em Pauta, na última sexta-feira (7), no Salão Verde da Câmara dos Deputados, enquanto acompanhava as votações das pautas econômicas de interesse do governo federal:

 

 

Como o senhor avalia esses primeiros seis meses de trabalho de recuperação da Embratur?

Primeiro, que a Embratur é uma empresa muito importante, porque é uma empresa que cuida da promoção do Brasil para o mundo. Então, quando presidente Lula assume e diz ‘o Brasil voltou’, que Brasil que voltou e voltou para onde? É o Brasil da democracia, do respeito ambiental, o Brasil que combate a fome, o Brasil que respeita o meio ambiente… esse Brasil que volta e que se apresenta para o mundo e traz o mundo para visitar o Brasil. E isso significa recursos.  Então, a gente assume a Embratur com muita precariedade, sem orçamento, sem equipe técnica, muitos desvios… a gente documentou tudo, chamou o TCU (Tribunal de Contas da União), chamou todos os órgãos de fiscalização e controle para acompanharem de perto… montou uma equipe técnica e começou a trabalhar. Começamos a trabalhar junto com os prefeitos, junto com os governadores, não importa se o prefeito era Bolsonaro, se o governador era Lula… o turismo não tem direita ou esquerda, não existe terceiro turno. A gente trabalhou para o Brasil e os resultados apareceram. De janeiro a abril a gente recebeu 2,7 milhões de turistas estrangeiros e eles deixaram aqui R$ 10 bilhões.

 

Qual o impacto dessa movimentação e desse montante em relação ao mesmo período do ano passado?

Só para se ter uma ideia, de janeiro a abril, em quatro meses, a gente já recebeu 75% de todo mundo que veio em 2022. A gente está superando 2019. Ou seja, um período pré-pandemia. Então, os números são muito positivos, nesse momento. O mês de maio é o mês que os turistas estrangeiros deixaram aqui R$ 3 bilhões. Estamos falando de um mês que não tem festas, que não é de verão, que não é um mês de destaque em nenhum lugar do Brasil. Então, o momento é muito promissor, com o turismo gerando emprego, gerando renda e é a grande indústria do século XXI. É isso que a gente tem em mente hoje. Então, nesse sentido, o momento é muito favorável.

 

 Diante desse quadro favorável, quais os planos e perspectivas para o restante do ano?

A expectativa é de que a gente iguale o recorde de 6,5 milhões de estrangeiros. Se não superar, pelo menos igualar a esse recorde pré-pandemia, que já é excelente. Vamos aumentar o número de voos. A gente tem uma perspectiva de dois milhões de assentos a mais nos voos para esse ano, até dezembro. E está aumentando o número de voos, tendo perspectiva de redução de valores de passagem, que é muito importante para a conexão no Brasil. E o turismo sendo a principal indústria do século XXI geradora de emprego. É isso que a gente está hoje trabalhando.

 

Em que situação o senhor encontrou a Embratur quando tomou posse? Qual foi o cenário deixado pela gestão anterior?

Tinha muito desvio de função. Eram muitos profissionais ali que não tinham compatibilidade com o cargo, com a sua formação. Então, havia uma defasagem muito grande entre as nomeações e a função do cargo. Isso a gente consertou. Eram CLT, então a gente mandou embora, pagamos, cumprimos todos os direitos trabalhistas que as pessoas têm e montamos uma equipe técnica reconhecida pelo mercado inteiro.

 

 É inevitável não lhe perguntar sobre a pressão política do Centrão sob os cargos do governo na área de turismo. O União Brasil já garantiu o Ministério, mas se queixa por não o ter recebido de porteira fechada, ou seja, com a Embratur junto. Essa troca na pasta de Turismo ainda pode atingir a Embratur?

Acho que de maneira alguma. São duas coisas diferentes, a gente trabalha com a promoção do Brasil, com o turismo internacional e o Ministério do turismo trabalha com a estrutura brasileira. Eu acho que as mudanças de ministérios cabem ao presidente da República. A mim cabe respeitar e trabalhar com o ministro, seja quem for, mas ao longo da história da Embratur nunca teve compatibilidade necessária entre o presidente da Embratur e o Ministério. O ideal é que a gente trabalhe junto. E eu vou trabalhar junto com quem quer que seja. Mas não vejo a Embratur correr nenhum risco neste sentido.

 

O Centrão voltou a condicionar a Embratur como moeda de troca pelos votos necessários para a aprovação das econômicas prioritárias para o governo. O que o senhor acha disso?

É normal. Eles apresentam tudo o que querem. Mas aí tem o presidente Lula, que é quem, realmente, decide.

 

(Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)

Relacionados

plugins premium WordPress