Vila do Urubu, município de Jacundá. Esse foi o local de um encontro que durante 2 dias, promoveu um Fórum de Educação Ribeirinha no Pedral. No centro do debate, como educar as novas gerações frente às emergências climáticas? O consenso entre eles é: tudo começa como uma educação que irá exigir uma nova abordagem
Um direito garantido por lei, que ainda precisa romper desafios. Estamos falando da educação ribeirinha nos rincões do estado do Pará, o estado mais populoso da região Norte do país com população estimada pelo IBGE em 8.664.306. Quase metade vive em comunidades ribeirinhas. Imagine uma região, com uma população repleta de crianças e adolescentes, privada de direitos básicos como a educação primária de qualidade?
No Fórum de Educação Ribeirinha, realizado na Comunidade do Urubu, município de Jacundá. mais de 150 educadores e líderes extrativistas discutiram o desafio de uma educação que respeite e valorize o modo de vida ribeirinho. A jornalista Bia Cardoso, que durante 10 anos atuou na região como repórter da TV Liberal, abriu o evento representando o gabinete do senador Beto Faro (PT-PA). Bia enfatizou a necessidade de um currículo que incorpore a cultura e o cotidiano amazônico. “A educação ribeirinha tem sido moldada com base em uma abordagem urbana, que desconsidera o ciclo das águas, como práticas de subsistência como a pesca e a agricultura, e a relação intrínseca com a natureza”, destacou.
No meio do evento, surgem algumas questões: de que maneira a escola pode ajudar a mudar como lidamos com o clima? qual a melhor forma de conversar com os alunos? Por que a hora de agir é agora?
Para o jornalista João Salame Neto, um dos debatedores, as decisões se dão sobretudo no campo político. Salame fez uma análise sobre o processo de organização das classes trabalhadoras e as conquistas que isso produziu na educação e nos direitos dos trabalhadores do campo e da cidade.
Para auxiliar nessa abordagem também marcaram presença , Cristiane Cunha (UNIFESSPA), a socióloga Lucélia Nascimento, a estudante de Direito Joana Darc e Eva Moraes, liderança ribeirinha e acadêmica em educação no campo pela UNIFESSPA. Um fato que não passou despercebido foi o de que na Base Nacional Curricular, documento que orienta a educação desde o Ensino Fundamental I até o Médio, o tema “mudanças climáticas” aparece somente três vezes. Mesmo com essas menções, muitas vezes falta preparação adequada aos professores, que precisam fazer a ligação entre os vários ramos do conhecimento.
Entre outras vozes importantes, participaram Ronan Gaia, Secretário de Pesca e Agricultura de Novo Repartimento, o líder indígena Irikwa Suruí, o pedagogo Renato Santiago e Ronaldo Macena, liderança comunitária que preside a Associação da Comunidade Ribeirinha Extrativista da Vila Tauiry. “Eu agradeço o esforço de cada um em construir coletivamente um projeto de educação que leve em conta, onde existimos”, afirmou.
Desafios
Embora a Prefeitura de Jacundá, sudeste do Pará, tenha informado que sua proposta curricular já contempla especificidades ribeirinhas, os participantes do fórum questionaram a efetivação da implementação do documento, ainda pendente de aprovação pelo Conselho Municipal de Educação. Também denunciaram a ausência de um Projeto Político Pedagógico (PPP) adaptado para a realidade das escolas rurais, que valorize o conhecimento ribeirinho. “Essas escolas, por iniciativa própria, promovem encontros voltados para desenvolver práticas educativas que reflitam a identidade e as necessidades das comunidades amazônicas” afirmou uma educadora presente ao encontro.
Educação Ambiental
Para os ribeirinhos a educação precisa ser um instrumento que irá preparar as novas gerações para o futuro do planeta e das regiões banhadas pelos rios. Eles temem que a implantação de grandes projetos como a Hidrovia Araguaia Tocantins se dê nos moldes em que ocorreu a implantação de grandes projetos na Amazônia como a hidrelétrica de Tucuruí onde os impactos são sentidos até hoje pelos povos das águas que vivem em estreita relação com os rios e a natureza.
As discussões empolgaram as populações que expuseram dúvidas quanto ao futuro da região. A maioria afirmou que ouve falar da transição climática, mas considera essa realidade distante em seus territórios já que, até agora, não foram ouvidos ou sequer receberam do governo do estado algum informe sobre essa temática. “Queremos nos tornar protagonistas na proteção de nossos habitats. Mas para isso, precisamos de ajuda,” afirmou Maria Laura, uma camponesa.
(Fotos: Reprodução)