Henrique Acker (correspondente internacional) – Enquanto o conflito entre as tropas do exército de Israel (IDF) e a guerrilha do Hamas segue sem solução, tanto a população palestina de Gaza quanto os parentes de reféns israelenses sofrem as bárbaras consequências dos combates.
Os corpos de seis reféns israelitas foram encontrados em Rafah, causando comoção e revolta entre parentes e amigos dos mortos e demais reféns. Eles afirmam haver evidências de que seus parentes estariam vivos dias antes de seus corpos serem encontrados.
Milhares de pessoas participaram de manifestações no domingo, 1 de setembro, em Tel Aviv (300 mil), e em outras cidades de Israel (200 mil), exigindo do governo Netanyahu que aceite um acordo de cessar-fogo imediato e negocie a libertação dos reféns em mãos do Hamas. Manifestantes também pediram a antecipação de eleições.
Acordo poderia evitar mortes
Nesta segunda-feira, 2 de setembro, o país foi parcialmente paralisado por uma greve geral, convocada pela Histadrut, a maior central sindical de Israel, em apoio ao apelo pela assinatura de um acordo de cessar-fogo e libertação dos reféns.
Empresas, escolas e transportes foram afetados. Alguns voos no Aeroporto Ben Gurion, o principal de Israel, foram cancelados, e manifestantes bloquearam várias estradas do país.
Com grande capacidade de sensibilizar os israelenses, o Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos tornou-se o principal pólo de mobilização e contestação ao governo de Benjamin Netanyahu, a quem acusa de só se importar com sua estabilidade política.
“Após quase um ano de negligência, Netanyahu não perde uma oportunidade para garantir que não haverá acordo [para a libertação dos reféns]”, afirma o comunicado dos familiares dos israelitas sequestrados a 7 de outubro, reproduzido pela estação de TV do Qatar, Al Jazeera.
“Não há um dia em que Netanyahu não atue de forma concreta para por em perigo o regresso a casa de todos os sequestrados”, lê-se na nota do Fórum de Familiares.
Troca de acusações
Zat al-Rishq, alto funcionário do Hamas, responsabilizou Israel e os Estados Unidos da América pela morte dos reféns, dizendo que ainda estariam vivos se Israel tivesse aceitado uma proposta de cessar-fogo com que o Hamas concordou em julho.
O porta-voz do Hamas acusou o presidente Joe Biden de se “render” às condições do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que seria culpado de “obstruir a realização de um acordo para se manter no poder” graças ao apoio de uma coligação ultranacionalista.
O presidente dos EUA declarou-se indignado. “Não se enganem, os líderes do Hamas vão pagar por esses crimes. E nós vamos continuar a trabalhar sem parar para chegar a um acordo que garanta a libertação dos restantes reféns”. A vice-presidente Kamala Harris também condenou o Hamas.
Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de ter posto em causa os esforços de cessar-fogo em curso, segundo a agência noticiosa Associated Press (AP). “Quem assassina reféns não quer um acordo”, afirmou Netanyahu.
Nova exigência do governo Netanyahu
Apesar da pressão popular e do desgaste junto à opinião pública, o governo de extrema-direita israelense mantém-se irredutível nas negociações para um cessar-fogo que envolvem o Egito, Qatar e os EUA.
Em nova exigência aprovada em reunião do gabinete do governo em 29 de agosto, Netanyahu declarou que não abre mão de controlar uma faixa de território entre Gaza e o Egito, conhecida como Corredor Filadélfia.
O ministro da Defesa de Israel contestou a nova exigência e propôs ao governo reverter a posição. “O Conselho de Ministros deve reunir-se imediatamente e anular a decisão de quinta-feira”, disse Yoav Gallant em comunicado.
Um funcionário israelita confirmou aos meios de comunicação, sob condição de anonimato, que três dos reféns mortos estavam incluídos entre os que deveriam ser libertados na primeira fase de uma proposta de cessar-fogo discutida em julho. Mais de 100 israelenses continuam prisioneiros do Hamas em Gaza, enquanto cerca de nove mil palestinos são mantidos em prisões de Israel. (Foto principal: Manifestação de protesto em Tel Aviv – Ohad Avrahami/Movimento de Protesto Pró-Democracia)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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