O correspondente na Europa do portal Opinião em Pauta, jornalista Henrique Acker, acompanhou a agenda do presidente Lula em Portugal.
Em seu artigo de hoje, na coluna que ele escreve no portal, Acker aborda a falta de um pronunciamento direto do presidente aos seus conterrâneos, em terras lusitanas.
Para o jornalista, a agenda de Lula pecou ao passar pelo país sem dirigir uma “prosa” aos brasileiros, que formam a maior colônia estrangeira em Portugal.
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Henrique Acker (Direto de Portugal) – Portugal não é um país como outro qualquer para o Brasil e os brasileiros.
Sem falar da história que une os dois povos, somos cerca de 320 mil regularizados vivendo em solo lusitano.
De longe, a maior colônia estrangeira no país.
A visita de um presidente brasileiro a Portugal é, por si só, um acontecimento que movimenta negócios e envolve situações políticas importantes. É evidente que essas questões têm repercussão nas relações entre os dois países, retratadas nos 13 acordos de cooperação assinados.
Mas uma visita presidencial também diz respeito ao presente e ao futuro das centenas de milhares de brasileiros radicados em Portugal. Muitos desses nossos conterrâneos não estão conseguindo o mínimo necessário para se manter no país.
O valor médio do aluguel em Lisboa só perde hoje para Paris e consome mais de cinquenta por cento da renda de muitos portugueses, que dirá dos imigrantes. A cesta básica hoje, depois da guerra da Ucrânia, gira em torno de 220 euros e o salário mínimo bruto, pago à maioria dos imigrantes, que vive de trabalhos precários, é de 760 euros.
O resultado disso é que milhares de brasileiros vivem no fio da navalha, entre o sonho de conseguir um emprego melhor remunerado para permanecer na Europa e a realidade de não ter o suficiente para garantir uma moradia.
Parte deles decide retornar ao Brasil, mas não possui nem o dinheiro da passagem.
É por isso que 20 organizações de brasileiros em Portugal entregaram uma carta ao governo Lula pedindo, entre outras questões, a criação de um fundo de repatriamento voluntário de cidadãos em situação de extrema vulnerabilidade.
No documento, as organizações pedem, também, uma aproximação maior dos consulados com os imigrantes brasileiros em Portugal.
É preciso lembrar que a população brasileira em Portugal é contribuinte líquida no país. E “financia mais o sistema previdenciário e tributário português do que aquilo que demanda em apoios sociais do Estado, além de enviar remessas de seu trabalho para o Brasil”, como diz a carta assinada pelas 20 organizações.
Se é verdade que a visita de Lula recoloca o Brasil no cenário internacional, e que os acordos assinados com o governo português expressam alguns avanços importantes, também é verdade que ficou uma lacuna: o presidente não fez nenhum pronunciamento direto aos centenas de milhares de brasileiros que residem em Portugal e que esperam um sinal de melhora da representação oficial do Brasil em Portugal. (Foto: Ricardo Stuckert – PR)
Henrique Acker – Correspondente na Europa