Extrema-direita promoveu show de horrores em Madri

Henrique Acker (correspondente internacional) –  Cerca de dez mil pessoas compareceram ao convescote de extrema-direita, em Madri, no dia 19 de maio. Entre os convidados, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, Marine Le Pen (França) e Viktor Orbán (Hungria) e o chileno José Antonio Kast, um defensor de Pinochet. Também marcaram presença o trumpista Matt Schlapp, ex-diretor de Estratégia Política na administração Bush, além do ministro israelense Amichai Chikli, entre outros.

Promovido pelo Vox, partido de extrema-direita espanhol, o encontro teve como destaque o atual Presidente da Argentina, Javier Milei. Sem papas na língua, ele apelou para impropérios contra a esquerda e o socialismo e até para ofensas pessoais contra a primeira-dama da Espanha, Begoña Gómez, acusada de “corrupta”.

Além de inflamar a plateia, Milei conseguiu piorar as relações entre seu governo e o governo espanhol, que já vinham estremecidas com ameaças do corte de relações diplomáticas entre os dois países. Analistas vêem na provocação de Milei a intenção de dificultar o acordo do Mercosul com a União Europeia, já prejudicado por pressões econômicas de alguns países europeus.

 

Eleições europeias 2024

O encontro serviu para consolidar a unidade entre a direita de raiz e neofascistas, tendo em vista a próxima eleição de deputados para o Parlamento Europeu, a realizar-se entre 6 e 9 de junho.

Com algumas nuances, mas unidos em posições ultra conservadoras sobre temas cruciais para a Europa, representantes dos dois blocos deram uma demonstração de que estarão bem próximos em Bruxelas, com a possibilidade de formarem uma coligação que pode ser a segunda maior força política da União Europeia.

Uma das questões centrais nos próximos anos será o avanço da imigração, que serve de pretexto para estimular o nacionalismo exacerbado e o preconceito contra tudo e todos que não tenham o selo de uma pretensa “superioridade” europeia.

 

Chacotas e impropérios

A ofensa de Milei à primeira-dama espanhola tem a mesma raiz dos impropérios que saem da boca de Jair Bolsonaro, que criou um incidente diplomático quando levantou desconfiança sobre a identidade sexual da primeira-dama francesa. E também de André Ventura, que recentemente proferiu discurso no parlamento português afirmando que “os turcos não são propriamente conhecidos por ser o povo mais trabalhador do mundo”.

A extrema-direita foi ressuscitando no cenário político internacional, justamente após o fim da URSS. Com a complacência da teoria liberal de que é melhor legalizar os neofascistas para vigiá-los do que mantê-los na ilegalidade, as elites europeias e seus gerentes políticos deram espaço para que a extrema-direita registrasse seus partidos e crescesse.

Afinal, para o grande capital, a solução neofascista pode ser necessária em caso de necessidade de regimes de força para conter a explosão social dos mais pobres, como aconteceu na década de 30 do século passado, anos que antecederam à II Guerra Mundial.

 

Nadando de braçada

A receita da direita tradicional não oferece qualquer novidade, além de programas de governo que cortam investimentos públicos, privatizam empresas estatais, reduzem impostos para as grandes empresas e impõem elevadas taxas de juros para satisfazer o capital financeiro.

A esquerda parou no tempo. Uma parte, moderada, aderiu a programas que são nuances dos neoliberais de direita. A outra, de origem revolucionária, se aboletou nos parlamentos e limita-se a lamentar e criticar os governos de direita e da social-democracia. Sua representatividade é cada vez menor, exatamente porque não fez a devida autocrítica do autoritarismo e da centralização de poder do modelo do “socialismo real”.

É justamente da crise dos partidos tradicionais e da falta de projetos que renovem o cenário político e a pasmaceira da democracia do voto, que se aproveitam os líderes histriônicos da extrema-direita. Os neofascistas se tornaram “populistas” e assumiram o papel dos mais críticos mais radicais do “sistema”, expressões comumente repetidas por analistas televisivos europeus.

Na verdade, por trás do discurso ultranacionalista, esses partidos propõem medidas contra as conquistas dos trabalhadores, da juventude, dos idosos, das mulheres e dos imigrantes, ameaçando a própria liberdade e a democracia.

De propaganda enganosa eles entendem. Afinal, o precursor da publicidade moderna foi o senhor Joseph Goebbels, ministro de Hitler sob a Alemanha nazista. Foi daí que os Steve Bannon da vida se inspiraram para criar as bolhas de fanáticos, que compartilham mentiras falsas e calúnias repetidas e multiplicadas todos os dias nas redes sociais.

 

Juntos no Parlamento Europeu?

As enquetes eleitorais dão conta que os partidos que mais devem crescer na próxima eleição para o Parlamento Europeu são os da direita radical e neofascistas.

O bloco partidário de direita, dirigido pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni (Reformistas e Conservadores Europeus – ECR), deverá eleger representantes em 16 países, passando de 62 para 86 deputados.

Já a extrema-direita, cujo bloco é curiosamente denominado “Identidade e Democracia”, lidera as intenções de voto na França, Bélgica, Áustria e Holanda e deve ampliar sua bancada dos atuais 73 para 84 deputados, contando com parlamentares de outros sete países.

Se marcharem para uma coligação em Bruxelas, os blocos de partidos de direita radical e neofascistas terão a segunda maior bancada do Parlamento Europeu.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

https://pt.euronews.com/my-europe/2024/05/19/extrema-direita-europeia-cerra-fileiras-em-madrid-antes-das-eleicoes

https://www.esquerda.net/artigo/milei-insulta-sanchez-governo-espanhol-pede-explicacoes/90974

https://observador.pt/2024/05/18/abascal-milei-e-ventura-direita-radical-em-madrid-para-lutar-contra-o-socialismo-e-sanchez-criticou/

https://www.lusa.pt/article/42890902

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