Extrema-direita deve ser decisiva no Parlamento Europeu

Henrique Acker (correspondente internacional)  –   A eleição dos 720 deputados do Parlamento Europeu, prevista para encerrar no domingo, 9 de junho, decidirá os rumos do Continente nos próximos cinco anos. Todas as sondagens apontam para o crescimento dos partidos de extrema-direita nos 27 países da União Europeia (UE).

A maior probabilidade é que o bloco dos partidos de centro-direita (Partido Popular Europeu – PPE) mantenha sua bancada (180 deputados) e, provavelmente, reeleja a alemã Úrsula Von Der Leyen à Presidência. No entanto, para seguir dirigindo a UE, os conservadores precisarão de aliados que lhes deem condições de obter maioria. É o que explica sua recente aproximação com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

Os partidos de extrema-direita estão espalhados em dois grupos políticos no Parlamento Europeu: Identidade e Democracia (ID) – incluindo partidos como o Reagrupamento Nacional (França), Liga (Itália) e Alternativa para a Alemanha (Alemanha) – e Conservadores e Reformistas Europeus (CRE) – com deputados por partidos como Irmãos de Itália (Itália), Vox (Espanha) e Lei e Justiça (Polônia). Juntos, os dois blocos de extrema-direita devem eleger cerca de 145 deputados.

 

O fator Trump

O comportamento da extrema-direita europeia no próximo período também dependerá do resultado da eleição presidencial de novembro nos EUA. Uma vitória de Joe Biden deve fortalecer a aliança com o centro-direita e o bloco de Von Der Leyen na UE. Caso Donald Trump saia vencedor, dará mais força para o avanço da extrema-direita na Europa.

Quatro questões devem concentrar as atenções do Parlamento Europeu na próxima legislatura: 1) Guerra da Ucrânia e suas consequências para a Europa; 2) Política de imigração; 3) Regulação e imposição de restrições ao comércio com a China; 4) Importação de alimentos e as contrapartidas aos produtores europeus.

O conflito na Ucrânia acendeu a luz de emergência e mostrou o despreparo da União Europeia para ameaças externas. A UE segue sem uma política própria para a criação de forças armadas unitárias de seus países, subordinando-se à OTAN para se defender. A invasão russa da Ucrânia reforçou o compromisso de 2% do orçamento de cada país europeu com a defesa, o que deve dar novo impulso à indústria armamentista.

 

Fonte: Euronews Polls Center

 

Restrições aos imigrantes e ao comércio com a China

Atualmente só a França tem assento e poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, sendo também o único país europeu a possuir armas nucleares. Já a Alemanha, apesar das restrições impostas ao fim da Segunda Guerra, é o país da Europa que mais fornece armas de alta tecnologia tanto para a Ucrânia quanto para Israel.

No caso da política de imigração, recentemente a UE impôs novas restrições e exigências para a entrada de estrangeiros, o que aproximou o centro-direita de Von Der Leyen (PPE) do bloco de extrema-direita de Giorgia Meloni (CRE).

As relações comerciais com a China são parte da estratégia de aliança da UE com os EUA, visando conter a expansão econômica e política internacional chinesa. Os dirigentes da Europa já sinalizaram que também pretendem impor restrições à entrada de produtos chineses.

 

Relações econômicas entre Brasil e UE

No caso dos alimentos, a UE não tem como reduzir ou cortar importações, ao contrário. Mas os agricultores europeus querem que as mesmas normas que lhes são impostas para produção e armazenamento de produtos sejam também exigidas dos produtores estrangeiros.

A UE é o segundo principal parceiro comercial do Brasil sendo responsável por 15% do seu comércio total, e o Brasil é o décimo segundo maior parceiro comercial da UE sendo responsável por 1,5% do comércio total da UE.

O Brasil é o segundo maior exportador de produtos agrícolas para a UE (2020). A UE é o maior investidor estrangeiro no Brasil, com investimentos em diferentes setores da economia brasileira. Em 2019, o estoque de investimento direto da UE no Brasil chegou a €319 bilhões.

 

Acordo Mercosul-UE segue congelado

O acordo entre Mercosul e a União Europeia é um tratado de livre comércio firmado em 2019, que levou quase 20 anos para ser assinado. O acordo entre os blocos, que ainda não está em vigor, representa um quarto (25%) do PIB do globo e engloba 750 milhões de pessoas.

Entretanto, o acordo ainda precisa ser ratificado pelos congressos nacionais dos países do Mercosul e pelo Parlamento Europeu no âmbito econômico. Já os itens políticos do tratado terão de ser votados pelo poder legislativo de cada país.

A prevalecer uma maioria conservadora e de extrema-direita nesta eleição para o Parlamento Europeu, dificilmente este acordo sairá do papel. Uma das principais bases de apoio da direita europeia é justamente o setor da agricultura, um dos que mais contesta a importação de produtos agrícolas pela UE.

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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Fontes:

Euronews (enquetes eleitorais)

https://polls.euronews.com/?view=map&menu=polls&loaded-analyses=3&loaded-polls=3&loaded-news=4

Sobre os blocos no Parlamento Europeu

https://www.europarl.europa.eu/about-parliament/pt/organisation-and-rules/organisation/political-groups

Relação comercial entre Brasil e União Europeia

https://www.fazcomex.com.br/comex/brasil-e-uniao-europeia-exportacao-e-importacao/

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