A cena de um cachorro da raça american bully atacando o porteiro de um prédio e dois adolescentes não é rotineira. Mas também não é incomum.
Só na Bahia, episódios como o registrado em Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador, no sábado (13), ocorreram outras duas vezes neste ano.
Semanas depois, um poodle foi atacado por outro pitbull na mesma região. A situação foi semelhante: o cão passeava com a tutora, uma adolescente de 12 anos, portadora de Síndrome de Down. Dessa vez, no entanto, o animal não sobreviveu aos ferimentos.
Para o médico veterinário comportamental Rafael Ramos, é preciso estar atento, pois há sim raças de cães que podem ser mais agressivas. É o caso de: pitbull; pastor alemão; cane corso; fila brasileiro; buldogue-americano; e american bully.
“Ao longo do tempo, selecionamos características de agressividade, de temperamento voltadas para a mordida, para ter um cão de guarda”.
O também veterinário comportamental Luis Carlos traz outra perspectiva. Ele concorda que existem raças com alto potencial de lesão, mas argumenta que a agressividade é natural a qualquer indivíduo.
“O que não é normal é a agressão. É quando esse animal usa da agressividade em excesso, em um contexto excessivo”.
Genética x Criação
Em meio às análises, ambos os especialistas ressaltam que o ambiente de cuidado em que esses animais estão inseridos pode também ser preponderante para um comportamento agressivo ou não. Carlos, por exemplo, defende o adestramento com técnicas adequadas para cada animal.
O veterinário cita também o uso de focinheira em alguns cachorros — em Feira de Santana, o acessório é obrigatório, segundo o Código Municipal de Proteção aos Animais.
Já Ramos lembra que deixar o cão sozinho, sem passeios ou interações, como acusam a tutora de ter feito com o american bully, também pode ser estressante.
“É o ambiente de manejo. Se eu pego um cachorro que tem característica genética voltada para um pouco mais de animosidade, de agressividade, eu preciso ter um manejo mais correto, um treinamento mais focado para não deixar isso aparecer”, indica o veterinário.
Também adestrador de cães, Ramos acredita que o segredo para o desenvolvimento saudável e anti-agressivo dos cães é a sociabilidade. O processo é recomendado especialmente para animais com alto poder lesivo e, segundo o veterinário, há o momento certo para isso.
“Existe uma fase específica na vida do cão para que ele seja socializado, que normalmente é entre a terceira semana de vida até a 12ª semana de vida”.
Como o profissional lembra, esse é também o período vacinal. Nessa época, é importante que o animal conviva com outros para que essa relação seja naturalizada no futuro.
E se passar da fase? Nem tudo estará perdido. O adestrador garante que é possível, sim, adaptar o animal às relações sociais. Porém, o trabalho tende a ser mais lento e mais difícil.
Agressões encerraram festa
O cão da raça american bully atacou os “vizinhos” na tarde de sábado (13), quando ocorria o aniversário de um adolescente. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento que o canino atacou o porteiro e outros dois garotos.
“Mordeu também o pai do aniversariante, um menininho de 13 anos, que não chegou nem a comemorar. A festa foi cancelada, nem parabéns tocou”, contou o morador Paulo Ricardo Leal.
Segundo ele, os tutores do animal deixaram o condomínio há cerca de três meses. Desde então, o cão ficaria trancado e sozinho dentro do imóvel.
Ao g1, a tutora do cachorro disse que vai verificar as câmeras da casa para entender o que de fato aconteceu. Ela negou as acusações de abandono, acrescentando que duas pessoas cuidam diariamente do american bully. A mulher acredita que o portão tenha sido aberto por uma criança.
o pai da criança aniversariante relatou que as cenas que circulam nas redes sociais aconteceram após ele e o porteiro do condomínio perceberem que o portão da casa não estava trancado. Veja a sequência de acontecimentos:
👉 A festa acontecia na área de lazer do condomínio, próxima a casa onde o american bully e um outro cachorro estavam. Segundo moradores, os dois animais estavam sozinhos na casa há meses.
👉 Durante a festa, um outro cachorro, que não era o american bully, saiu da casa. O animal não mordeu ninguém. O pai do aniversariante e o porteiro foram até o imóvel e viram que o portão estava quebrado. Eles não entraram na casa, porque sabiam que havia um cachorro grande no quintal.
👉 Eles relataram o caso ao síndico e uma amiga da tutora, que cuida dos animais, foi até o local. Foi nesse momento que o american bully teria saído da casa.
👉 Ao perceber que o cachorro estava solto no condomínio, o pai do aniversariante colocou os convidados dentro da quadra e trancou o local. Ele também pediu que as outras pessoas que estavam na área de lazer se escondessem.
👉 Segundo ele, alguns convidados entraram na piscina, outros se trancaram no banheiro e alguns subiram nos brinquedos do parquinho.
👉 Os adolescentes que estavam no futebol de sabão continuaram em cima do brinquedo, porque acreditaram que, devido a altura, o animal não subiria no local. Após o cachorro entrar no brinquedo, eles correram pelo condomínio.[Veja foto abaixo]
👉 Depois de deixar os convidados em segurança na quadra, o pai do aniversariante saiu do local para tentar parar o cachorro e evitar que mais alguém fosse mordido. Ele foi atacado e precisou entrar em um carro para fugir do animal.
👉 O último a ser atacado foi o porteiro do condomínio. Ao tentar fugir do cachorro, ele caiu no chão e foi mordido. O animal só parou de atacar o funcionário, porque um dos convidados o ajudou a segurar o animal.
👉 Os convidados foram retirados da quadra e o animal foi trancado no espaço até a chegada do filho da tutora, que o tirou do condomínio.
Após os ataques, a festa foi encerrada e as pessoas machucadas foram atendidas pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). (Foto: TV Subaé)