Por Henrique Acker – Outro ataque das tropas de Israel deixou um saldo de 15 mortos em Rafah, no sul de Gaza, em 23 de março. Só que dessa vez, os corpos eram de paramédicos e socorristas do Crescente Vermelho (o equivalente à Cruz Vermelha no Ocidente) e da Defesa Civil, enterrados numa vala comum.
O que provocou a reviravolta no caso foram imagens gravadas por um dos mortos, antes de sua execução. A revelação foi feita no sábado, quando as cenas chegaram às redes sociais e foram reproduzidas por veículos de comunicação em todo o mundo.
As imagens, recuperadas de um celular encontrado junto ao corpo de um paramédico morto, mostram ambulâncias e um caminhão de bombeiros identificados, com faróis e luzes de emergência acesas, sendo alvejados por dezenas de disparos das tropas israelenses. Confira o vídeo:
Versão do exército de Israel
Inicialmente, os militares israelenses disseram que os soldados abriram fogo contra veículos que se aproximaram de sua posição de forma “suspeita” no escuro, sem luzes ou marcações. E informaram a morte de nove militantes do Hamas e da Jihad Islâmica que viajavam em veículos do Crescente Vermelho Palestino.
Em entrevista coletiva, o porta-voz das IDF responsável por informar a imprensa na noite de 5 de abril confirmou que seis terroristas haviam sido mortos. “De acordo com nossas informações, havia terroristas no local, mas a investigação ainda não terminou”, disse ele.
Segundo o representante das IDF, os soldados teriam disparado de longe e informaram imediatamente o fato à ONU. Ainda na versão do exército israelense, os corpos foram enterrados no local para evitar a aproximação de animais. Mas não foi explicado por que os veículos de socorro também foram enterrados.
Evidências macabras
O diretor de programas de saúde do Crescente Vermelho, doutor Bashar Murad, disse que um dos colegas mortos falava ao telefone com a base da ambulância quando os soldados israelenses chegaram.
“Ele nos informou que ele e outra pessoa estavam feridos e pediu ajuda”, relatou Murad. “Minutos depois, durante a ligação, ouvi soldados israelenses chegando e falando em hebraico para reunir a equipe. Disseram algo como: “Reúna-os no muro e traga algo para amarrá-los. Isso indicou que muitos da equipe ainda estavam vivos.”
De acordo com o jornal israelense Haaretz, um vídeo que foi ao ar nas redes sociais há alguns dias mostrava um comandante de batalhão falando com seus soldados na véspera de seu retorno a Gaza. “Qualquer um que você encontrar lá é um inimigo. Você identifica qualquer um, você o elimina”, ele diz a seus soldados.
Sobrevivente confirma chacina
Munther Abed, único sobrevivente da chacina, escapou ao se jogar no chão na parte de trás da ambulância, enquanto seus dois colegas que estavam na frente foram atingidos pelos disparos sobre o veículo do Crescente Vermelho (Cruz Vermelha árabe).
Ele contou ao jornal britânico The Guardian que foi algemado com as mãos para trás, foi obrigado a deitar no chão e teve início um espancamento. “Mesmo naquelas circunstâncias, eu pude ver boa parte do que aconteceu desde aquele momento.”
A ONU, organizações humanitárias e entidades de direitos humanos exigem uma investigação independente. O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou que o caso levanta sérias suspeitas de crime de guerra. O exército israelense insiste que o episódio está “sob revisão”.
De acordo com as Nações Unidas, ao menos 1.060 profissionais de saúde foram mortos pelas IDF desde que Israel lançou sua ofensiva em Gaza. Desde o início dos bombardeios em Gaza, pelo menos 169 jornalistas e trabalhadores da mídia também foram mortos, dezenas ficaram feridos e outros estão desaparecidos.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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