Por Henrique Acker – A falta de estoques e a alta do consumo do produto no inverno podem elevar o preço do gás para consumo residencial em toda a Europa. O preço do gás para entrega em fevereiro na Holanda subiu até 4,3% esta quinta-feira, 2 de janeiro, antes de cair novamente para 49,83 euros o megawatt-hora, informou a Agência de Notícias Bloomberg.
De acordo com o jornal britânico ‘The Guardian’, os preços de referência do gás no atacado subiram esta quinta-feira para o nível mais alto desde outubro de 2023, um dia após o fim do contrato de trânsito de longa data ser encerrado e não renovado pelo governo da Ucrânia.
“Vale a pena ter em mente que os preços ainda estão bem abaixo dos níveis vistos durante todo o ano de 2022”, realçaram em relatório analistas do Deutsche Bank. “Mas o armazenamento de gás europeu terminou 2024 no seu menor nível de fim de ano em três anos, e o recente aumento nos preços deve aumentar ainda mais as pressões inflacionárias.”
Zelensky comemora
Por um acordo de cinco anos assinado em 2019, a Ucrânia permitia que a Rússia transportasse gás para a Europa. Mas Kiev se recusou a renovar o contrato a partir de 2025. Em publicação nas redes sociais, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, descreveu o fim do acordo de trânsito como “uma das maiores derrotas de Moscou”.
O gás russo atravessa a Ucrânia há décadas, por um gasoduto construído pela antiga URSS que começa em Sudzha, uma cidade na região russa de Kursk e termina perto de Uzhhorod, na fronteira ocidental da Ucrânia com a Eslováquia.
O fim do fornecimento de gás, que a Gazprom da Rússia informou ter ocorrido às 8 horas (horário de Moscou), de quarta-feira, 1 de janeiro, resultou imediatamente em cortes de energia para centenas de milhares de pessoas na Transnístria, região da Moldávia.
O primeiro-ministro da Eslovênia, Robert Fico, alertou que a decisão do governo ucraniano de não renovar o contrato com a companhia Gazprom vai redundar em prejuízo para toda a Europa e não deve ter grande impacto para a economia da Rússia.
Trump ameaça
Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, os Estados Unidos passaram a ser os maiores fornecedores 47% do gás natural liquefeito. Atualmente, os EUA abastecem a UE com 47% do gás e 17% do petróleo, segundo dados da agência de estatísticas Eurostat.
No entanto, o déficit comercial da UE com os EUA atingiu 208,7 bilhões de dólares em 2023, e tem sido alvo constante das críticas de Donald Trump. O presidente eleito dos EUA acusa o bloco europeu de tirar vantagem das políticas comerciais estadunidenses e promete taxar os principais produtos da UE em 10%.
“Eu disse à União Europeia que eles devem compensar seu enorme déficit com os Estados Unidos por meio da compra em larga escala de nosso petróleo e gás”, disse Trump em uma publicação no Truth Social.
União Europeia nega impacto
Com 14 bilhões de metros cúbicos transportados por ano via Ucrânia, representando apenas 5% das importações totais de gás da União Europeia, o bloco afirmou que estava “preparado” para o corte no fluxo.
Em um relatório publicado em meados de dezembro, a UE considerou o impacto do fim do fornecimento de gás russo como limitado.
Antes da guerra, o gás da Rússia respondia por 40% da importação dos países europeus. Essa fatia caiu para menos de 10% em 2023. No entanto, quase um terço do gás que ainda chegava nas residências de países europeus passava pela Ucrânia.
Russos aumentaram fornecimento em 2024
De acordo com a agência de notícias TASS, a Rússia aumentou o fornecimento de gás de gasoduto para a Europa em 14% em 2024 em comparação com 2023, passando de 28,15 bilhões de metros cúbicos para 32,1 bilhões de metros cúbicos.
As estimativas são baseadas em dados da Gazprom (gigante russa do gás) e da Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transmissão de Gás (ENTSOG).
O fornecimento de gás para países da Europa Ocidental e Central através da Ucrânia ficou em 15,4 bilhões de metros cúbicos em 2024, um aumento de seis por cento em relação ao ano anterior.
Já o abastecimento dos países do sul e sudeste da Europa através do gasoduto TurkStream – que atravessa o território da Turquia – aumentou em 23%, para 16,7 bilhões de metros cúbicos em 2024.
O total do fornecimento anual de gás de gasoduto da Rússia para a Europa (incluindo a Turquia) pode chegar a cerca de 52 bilhões de metros cúbicos em 2024, em comparação com 49 bilhões de metros cúbicos em 2023.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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