Europa se prepara para eleições com forte desconfiança da democracia

Henrique Acker (correspondente internacional)  – A um mês das eleições para o Parlamento Europeu, o interesse da população do Velho Continente pela democracia é cada vez menor. A constatação vem de um estudo realizado anualmente com dezenas de países do Mundo, inclusive 15 dos 27 países da União Europeia.

O Índice de Percepção da Democracia – DPI(1) é o maior inquérito global sobre a democracia, e este ano (2024) foi realizado com quase 63 000 pessoas de 53 países, entre fevereiro e abril.

Embora a maioria dos cidadãos da União Europeia (57%) considere que seus países de origem são democráticos, em três importantes Estados-Membros – França, Grécia e Hungria – a maior parte pensa que já não vive em democracias livres.

Na França 46% dos entrevistados acreditam que seu país é democrático. Na Hungria esse percentual cai para somente 31% e na Grécia – berço da democracia – apenas 43% dos cidadãos creem que vivem numa sociedade democrática.

A impressão de que os governos agem a partir do interesse de um grupo minoritário e não para o bem comum também aumentou em média na Europa, desde 2020. O maior percentual de crescimento dessa opinião foi registrado na Alemanha: de 34% em 2020 para 54% em 2024.

 

O que dizem os europeus

Em oito dos países da Europa incluídos na pesquisa deste ano, a melhoria dos cuidados de saúde surge como prioridade. A luta contra a pobreza é também considerada uma grande preocupação em vários países, constando no topo da lista em quatro dos 15 Estados-Membros da UE.

Por outro lado, para 44% dos alemães, 40% dos austríacos, 37% dos franceses e 31% dos irlandeses inquiridos, a redução da imigração deveria figurar entre as três prioridades dos seus governos.

De acordo com a pesquisa da Europa Elects (2), os partidos de direita e extrema-direita, que fazem campanha com uma forte agenda anti-migração, deverão ganhar essas eleições em pelo menos sete países da UE. Em outros nove países esses partidos devem ficar em segundo ou terceiro lugar. O Parlamento Europeu é formado por 705 deputados dos 27 estados-membros da União Europeia.

Direita e Extrema-direita crescem

O bloco partidário de direita, dirigido pela senhora Giorgia Meloni (Reformistas e Conservadores Europeus – ECR), deverá eleger representantes em 16 países, passando de 62 para 86 deputados.

Outro bloco que terá crescimento expressivo é o da extrema-direita, curiosamente denominado “Identidade e Democracia”.  Ele lidera as intenções de voto na França, Bélgica, Áustria e Holanda e deve ampliar sua bancada dos atuais 73 para 84 deputados, contando com parlamentares de outros sete países.

O bloco que deve ter maior perda nestas eleições é o dos partidos de centro-esquerda (Renovar a Europa), com a possibilidade de cair de 108 para 86 deputados. Os Verdes também devem ter sua bancada parlamentar reduzida de 74 para 48 representantes.

Já os Socialistas e Democratas devem sofrer uma queda de 154 para 140 lugares no Parlamento Europeu. Os partidos de esquerda marxista, reunidos no bloco Esquerda Europeia, devem manter sua bancada, entre 41 e 44 deputados.

O Partido Popular Europeu (bloco de partidos democrata-cristãos, de centro-direita) deve conservar a maior bancada do Parlamento Europeu, preservando seus 182 deputados.

O que está em jogo

As variáveis de composição política ao centro, à direita e à esquerda são muitas, visto que será quase impossível a formação de um bloco de maioria absoluta. No entanto, há questões estratégicas para as alianças no Parlamento não só nos debates eleitorais, que devem determinar os caminhos que a União Europeia deverá tomar nos próximos anos.

Entre elas estão: 1) os rumos da guerra na Ucrânia e a contenção da Rússia; 2) a formação de forças armadas europeias e uma política de segurança comum; 3) as regras de governação e suas consequências para a economia nos estados-membros; 4) a questão da imigração na UE; 5) o problema climático e do aquecimento global; 6) medidas para o uso de energia limpa/renovável; 7) e, finalmente, regras para a agricultura europeia.

Confirmada a tendência de crescimento da direita e extrema-direita nas eleições de junho deste ano, o Parlamento Europeu deverá adotar políticas ainda mais conservadoras nos planos econômico, político e social para a União Europeia, o que terá consequências mais sentidas pelos trabalhadores, jovens, idosos e imigrantes.

 

(1) O Índice de Percepção da Democracia (DPI) é um levantamento anual, realizado pela Fundação Aliança de Democracias (do antigo secretário-geral da OTAN e ex-primeiro-ministro dinamarquês Anders Fogh Rasmussen) em parceria com a empresa tecnológica Latana.

(2) Europe Elects dedica-se a analisar a democracia europeia, fornecendo um serviço público com base em dados eleitorais verificados.Europe Elects é gerido por uma equipa apartidária de 40 voluntários. (Fotos: Internet/ Reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

https://pt.euronews.com/my-europe/2024/05/08/estudo-revela-que-parte-da-europa-esta-a-ficar-insatisfeita-com-a-democracia

https://www.dnoticias.pt/2023/5/10/359367-crenca-na-democracia-continua-elevada-no-mundo-mas-governos-estao-a-defraudar-expectativas/

https://www.publico.pt/2024/05/09/mundo/noticia/maiorias-minorias-fixas-parlamento-europeu-vao-acabar-eleicoes-2089733

https://www.dn.pt/7923909338/da-guerra-de-putin-a-energia-o-que-pensam-os-cabecas-de-lista-dos-principais-partidos/

https://europeelects.eu/2024/05/03/april-2024/

https://europeelects.eu/team/

 

 

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