Estudo mostra eficácia da cannabis na redução de dores do câncer

O uso medicinal da cannabis em 358 pacientes com câncer indicou efeito analgésico de até 41,3%, com diminuição, também, na intensidade do incômodo. A substância é segura e mais eficaz quando dois princípios ativos são combinados, destaca pesquisa canadense

 

Pesquisa canadense com 358 pacientes diagnosticados com diferentes tipos de doenças apontou um bom resultado dos produtos derivados de maconha em diminuir as dores provocadas pela doença. Na maioria dos casos, a cannabis medicinal conseguiu ajudar a reduzir  significativamente a prescrição de analgésicos e medicamentos opioides, que possuem efeitos colaterais mais intensos. Os cientistas descreveram o resultado deste trabalho num artigo publicado quarta-feira (3) na revista BMJ Supportive & Palliative Care, do grupo British Medical Journal.

Segundo o estudo, realizado em vários centros médicos do Canadá e liderado por Antonio Vigano, da Universidade de McGill, em Montreal, produtos que combinam os ingredientes ativos tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD) na mesma medida são particularmente eficazes. Conforme os pesquisadores, os resultados levam a concluir que a cannabis medicinal é um caminho satisfatório quando as drogas convencionais não conseguem atuar de forma efetiva.

“Nossos dados sugerem um papel para a cannabis medicinal como uma opção segura e complementar de tratamento em pacientes com câncer que não conseguem alcançar o alívio adequado da dor por meio de analgésicos convencionais, como os opioides”, destacam os pesquisadores, em nota.

Apesar de o estudo ter uma natureza observacional e não ser um teste clínico (que funciona como um experimento controlado), os pesquisadores apontam um cenário favorável à prescrição para estes casos. No acompanhamento, os médicos pediam a pacientes que avaliassem seu convívio com a dor respondendo a dois questionários que são padrão em investigações clínicas.

Em um deles, o BPI (Brief Pain Inventory), a pontuação da severidade geral da dor caiu 35% em média ao fim do estudo, e a “interferência” da dor na vida dos pacientes caiu 44%. No outro sistema de pontuação, o ESAS-r, a redução média de dor relatada pelos pacientes foi de 46%. “Dados do mundo real deste estudo amplo, com registros prospectivos em diversos centros médicos, indicam que a cannabis medicinal é um tratamento complementar seguro e efetivo para alívio da dor em pacientes de câncer”, escreveram os cientistas.

Alguns efeitos colaterais da cannabis foram observados no trabalho, relatam os cientistas, mas ocorreram em poucos pacientes e não chegaram a levantar muita preocupação. “Ao final, entre 15 efeitos colaterais relatados, 13 não eram graves”, escrevem, citando problemas como sono e fadiga. “Os dois eventos sérios, uma pneumonia e uma crise cardiovascular, foram avaliados como não relacionados à cannabis medicinal”, contataram.

Um dos méritos do estudo publicado agora é que ele foi abrangente e envolveu pacientes com diversos tipos de câncer. Os três mais comuns listados no trabalho foram tumores de mama, intestino e genitourinário. Por se tratar de um acompanhamento por observação, porém, o estudo não permite em princípio estabelecer que o alívio da dor ocorreu nos pacientes como uma relação de causa e consequência. Os autores sugerem que outros cientistas busquem agora replicar os resultados em experimentos controlados, comparando o uso da cannabis medicinal com placebo.

Metodologia

Durante a pesquisa, os especialistas analisaram as respostas ao tratamento de 358 adultos com câncer num período de três anos e meio, entre maio de 2015 e outubro de 2018. A idade média dos pacientes era de 57 anos, 48% dos quais eram homens. A dor foi o sintoma mais relatado, sendo descrito por 72,5% das pessoas observadas, o que motivou a prescrição de cannabis medicinal.

Ao longo da avaliação, produtos com maior concentração de THC, equilibrados entre THC e CBD e com mais CBD foram ministrados em 24,5%, 38% e 16,5% dos pacientes, respectivamente, e a via oral foi a mais recomendada, correspondendo a 59% das receitas. Segundo o artigo, a intensidade da dor dos pacientes, os sintomas, o número total de medicamentos tomados e o consumo diário de morfina foram monitorados a cada três meses, durante um ano. Para avaliar a sensação dolorosa, os cientistas utilizaram uma escala móvel de zero, nenhuma a 10 (a pior possível). Também classificaram o alívio em 0% a 100%.

Comparado ao período pré-tratamento, o número de episódios de dor relatado pelos participantes, sofreu reduções, variando de 41,3% (aos três meses de observação) a 32,8% (em nove meses). A severidade da sensação também foi menor: diminuição da percepção de 37,5% (aos três meses) a 31,9% (em nove meses).

(foto: Kindel Media/Pexels)

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