Estudantes fazem ato no Banco Central pela queda na taxa de juros e renúncia de Campos Neto

Movimento faz parte da programação do Congresso da UNE e reúne estudantes de todo o país. Manifestação pede “menos juros e mais educação”

 

Thiago Vilarins – Cerca de 10 mil universitários de todo o país (segundo estimativa dos organizadores) se reuniram no inicio da noite de sexta-feira (14) em uma caminhada da Justiça Federal até o Banco Central, em manifestação contra a taxa básica de juros, a Selic, que hoje está em 13,75% ao ano. A ação, cujo lema é “menos juros, mais educação”, pede a saída de Campos Neto da presidência do banco. A manifestação é parte da programação do 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), que ocorre em Brasília desde a última segunda-feira (12) e vai até o próximo domingo (16).

A presidente da UNE, Bruna Brelaz, afirmou que não há nenhum motivo para que os juros sejam mantidos em 13,75%, a não ser uma sabotagem contra o governo Lula. Brelaz disse que os juros precisam cair já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. “Na nossa opinião essa taxa de juros é exorbitante e é preciso que ela diminua para que aumente tanto o consumo quanto o desenvolvimento econômico do Brasil. Nós somos mais um dos grupos que quer pressionar o Copom (Comitê de Política Monetária) a reduzir a taxa, que hoje prejudica o aluno que paga mensalidade em faculdade privada ou mesmo o Fies”, explica.

Caio Guilherme, estudante da USP e coordenador da Juventude Pátria Livre (JPL), afirmou que é “inaceitável um país como o Brasil, com a capacidade que tem de se desenvolver, ainda ter tanta gente passando fome”. “Que esse país, que ninguém tem dúvida da sua capacidade científica, ter 1% do PIB investido em ciência e tecnologia. Não temos tempo para errar. O povo está com fome, na miséria, e os bancos não param de lucrar. É preciso reduzir imediatamente esses juros. É muito para banco, e pouco para a educação. É muito para banco e pouco para o desenvolvimento. É muito para banco e pouco para a ciência, para as universidades”, afirmou Caio.

O diretor da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Vinícius Soares, é um dos organizadores do movimento e defende que a pressão contra o Banco Central é para garantir mais investimentos na área da educação. “O país hoje está refém da política econômica do Banco Central, que não se alinha ao projeto escolhido nas urnas em 2022”, disse o organizador em relação aos embates entre Campos Neto e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a taxa Selic. “Nós queremos baixar a taxa para viabilizar investimentos em educação e na ciência”, complementa.

Para Camilla Neves, 18 anos, estudante de pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), a manifestação é uma retomada da força da juventude após o fim das medidas restritivas contra a COVID-19. “O último Conune que a gente teve, aconteceu em 2019, em um período pré-pandemia, no primeiro ano do governo Bolsonaro, um primeiro ano em que a gente começou a ter embates dentro da política, dessa política de ódio que a gente começou articular uma defesa contra o bolsonarismo, contra a ascensão da extrema direita no Brasil. Então, é muito relevante que a gente tenha esse período pós-pandemia e que a gente continue reforçando essa luta, porque, apesar de Lula ter ganhado as eleições, isso ainda não é suficiente”, disse.

“Praticamente metade da população ainda acha que Bolsonaro é um bom representante para o Brasil. Então, o bolsonarismo e o fascismo ainda estão aí, acendendo, por isso que é tão importante a gente lutar, inclusive pelas 500 mil pessoas que morreram em decorrência da COVID-19, da negligência desse governo que passou. Então é relevante que a gente continue pautando isso e também que a gente continue reforçando que o PT volte a ter aquele caráter popular de ouvir as bases do partido e de conseguir ascender a classe trabalhadora e os estudantes também”, completou a estudante do Movimento Kizomba, ligado ao PT.

O estudante Mateus Marques, 23 anos, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), também reforçou o papel da UNE na reinvindicação de direitos da classe trabalhadora e dos estudantes. “Essa manifestação marca o compromisso da UNE com o estado democrático de direito. A UNE cumpre um papel histórico na manutenção e, também, na luta por melhorias e por angariação de direitos para classe trabalhadora, para os estudantes. A UNE nunca se furtou do debate a cerca da sociedade. Então, nós estamos vivendo uma verdadeira caçada a cerca da alta taxa de juros, que é pauta no Congresso e de toda sociedade. A UNE, mais uma vez, se comprometendo com o bem-estar do povo brasileiro, promove esse grande ato, para também pressionar, com vários setores da sociedade, porque, afinal, os estudantes são plurais e cada um representa uma infinidade de seguimentos. Então, a gente está presente aqui, hoje, para reforçar essa pressão para que o presidente do Banco Central recue acerca da taxa de juros e que renuncie, porque nós achamos que é uma imoralidade a taxa de juros do Brasil hoje”, defendeu o estudante da Juventude do PT (JPT).

Já a estudante Camila Pedrosa, 22, de São Luís (MA), do Centro Universitário Dom Bosco (UNDB), destaca que a UNE tem mais de 80 anos de história na luta pela defesa dos estudantes, da sociedade civil e de tudo que paute, efetivamente, a educação e o bem-estar dos estudantes. “Os estudantes perderam muitos direitos. Então, esse congresso se pauta numa volta por cima dos estudantes. A gente está voltando ao centro dos debates, sendo recebido no Ministério da Educação, sendo recebido pelo Governo Federal… e nada mais justo que a gente se coloque à disposição da sociedade para debater assuntos importantes, tais quais a alta taxa de juros hoje no Brasil. Então, essa é uma pauta que coloca o dedo na ferida direta dos estudantes. Então, no meio do congresso da UNE a gente reunir todos os estudantes brasileiros, dos mais diversos partidos, dos mais diversos coletivos, dos mais diversos forças da UNE para ocupar as ruas de Brasília, falando que a gente quer mais investimento e a taxa de juros menor é uma coisa muito importante, é um fato muito importante que, justamente, pauta essa volta por cima dos estudantes”, destacou a integrante da JPT.

Segundo a UNE, cerca de 10 mil pessoas estão participando do Congresso e estiveram presentes na manifestação, que lavou à frente a faixa “Estudantes por educação, soberania, direitos e democracia”. O protesto seguiu até a frente da sede do Banco Central, onde os manifestantes lavaram o chão da entrada da instituição e sentaram em cadeiras escolares como forma de protesto. “Sou estudante e não abro mão de menos juros e mais educação”, cantavam.

 

(Fotos: Thiago Vilarins/Opinião em Pauta)

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