Henrique Acker (correspondente internacional) – Pressionado pela mobilização de estudantes que ocupam universidades nos EUA, o governo Biden empurra para o Hamas a responsabilidade pela aceitação de um possível cessar-fogo de 40 dias em Gaza.
A proposta, negociada com a mediação do Egito, prevê a troca de prisioneiros entre Israel e o grupo islâmico palestino.
Para fugir da pressão interna em ano de eleição, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o acordo de reféns e a proposta de cessar-fogo em discussão eram “extraordinariamente generosos” e que o Hamas precisa tomar “a decisão certa” rapidamente.
No entanto, para a frustração da Casa Branca, Benjamin Netanyahu deixou claro nesta terça-feira, 30 de abril, que pretende invadir Rafah com ou sem um acordo sobre os reféns. “A ideia de que terminaremos a guerra antes de alcançar todos os nossos objetivos é inaceitável. O exército entrará em Rafah e destruirá todos os batalhões do Hamas que lá estão – com ou sem acordo, para alcançar a vitória total”, declarou o primeiro-ministro israelense.
Parentes de reféns rejeitam política de Netanyahu
O Ministro das Finanças e membro do Gabinete de extrema-direita, Bezalel Smotrich, comentou as negociações com o Hamas e disse que Israel está “conduzindo negociações com aqueles que não deveriam mais existir”.
Como fazem praticamente todos os dias, parentes e amigos dos reféns israelenses foram às ruas de Tel Aviv na segunda-feira, 29 de abril, para pressionar o governo de Israel a aceitar um acordo com o Hamas para a troca de prisioneiros.
Os manifestantes escreveram “Rafah pode esperar, eles não podem” numa estrada, acenderam uma grande fogueira e sinalizadores. A polícia interveio com violência e prendeu três pessoas.
Einav Zangauker, cujo filho Matan foi sequestrado em 7 de outubro, dirigiu-se em seu discurso ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, dizendo: “É muito simples, ou um governo de extrema direita ou os reféns voltando para casa.”
Ayala Metzger, nora do refém Yoram Metzger que foi sequestrado do Kibutz Nir Oz, também não poupou críticas ao governo: “É hora de dizer a verdade ao público, também aos nossos soldados. Chega de derramamento de sangue. Chegue a um acordo e traga-os para casa agora.”
Estudantes ocupam universidade nos EUA
Manifestantes pró-palestinos ergueram barricadas dentro de um campus na Universidade de Columbia, nos EUA, na manhã de terça-feira (30 de abril), recusando-se a seguir as instruções da administração para desmantelar seu “Acampamento de Solidariedade de Gaza”. Columbia ficou conhecida pelos protestos realizados contra a guerra do Vietnã.
Muitos dos manifestantes tinham as cabeças enroladas em keffiyehs (lenço palestino) e seguravam bandeiras palestinas. Dezenas de professores e funcionários da Columbia, vestindo coletes laranja, se revezaram na guarda do lado de fora da entrada do acampamento. De braços dados, estavam prontos para evitar nova entrada da polícia de Nova York ou da Guarda Nacional no campus.
“Começamos a suspender os estudantes como parte desta próxima fase dos nossos esforços para garantir a segurança no campus”, comunicou Ben Chang , vice-presidente de comunicações da universidade, numa conferência de imprensa online.
De acordo com a direção da universidade, durante a suspensão provisória os estudantes seriam impedidos de entrar em todos os campi, instalações e propriedades da universidade, incluindo dormitórios, e seus cartões de identificação seriam desativados. Além disso, não seria permitido assistir às aulas, fazer exames, concluir o semestre da primavera e formar-se, se estiverem no último ano.
Em troca do desmantelamento do acampamento, os estudantes exigem que a universidade se desfaça de empresas com ligações a Israel, divulgue todos os seus investimentos, encerre os programas conjuntos com Israel e conceda anistia a todos os estudantes e professores que enfrentam ações disciplinares por participarem nos protestos.
Protesto e solidariedade na Cisjordânia
Estudantes palestinos atiraram pedras contra o veículo do embaixador alemão Steffen Seibert durante a sua visita à Universidade de Birzeit , a norte da cidade de Ramallah, na Cisjordânia. A manifestação foi um protesto contra a política de apoio incondicional e fornecimento de armas pelo governo alemão a Israel.
Dirigentes das 22 universidades e centros de ensino técnico da Cisjordânia enviaram carta de solidariedade aos estudantes e professores estadunidenses, pelo apoio à causa palestina.
“Numa altura em que as vozes dos oprimidos são intencionalmente silenciadas, a vossa solidariedade serve como um farol de esperança. Suas ações são uma mensagem retumbante de que a injustiça e a opressão não serão toleradas”, diz o documento. (Foto: Anadolu via Getty Images)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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