Mineira concorria com Maria Villani, Marilene Felinto, Martinho da Vila e Pedro Bandeira ao Troféu Juca Pato
A escritora mineira Conceição Evaristo fez história. Ela venceu o Troféu Juca Pato 2023 de “Intelectual do Ano”. O prêmio, organizado pela União Brasileira de Escritores (UBE), é concedido a personalidades que tenham publicado livro no Brasil no ano anterior e se destacado pelo “conjunto da sua obra, em qualquer área do conhecimento”. O “intelectual do ano” precisa, ainda, ter “contribuído para o desenvolvimento e prestígio do País, na defesa dos valores democráticos e republicanos”.
A escritora foi a primeira intelectual negra a ser reconhecida pelo troféu Juca Pato. Entre os finalistas da edição 2023, estavam nomes como Martinho da Vila, Maria Villani, Marilene Felinto e Pedro Bandeira. Linguista e pesquisadora aposentada, Conceição recebeu a honraria no último sábado (16) pela publicação de Canção para ninar menino grande (Ed. Pallas), em que narra as contradições e complexidades da masculinidade negra e os efeitos delas sobre as mulheres negras.
Conceição Evaristo tem mais de 30 anos de dedicação à literatura. Seu nome também é referência no movimento negro, seja pela temática de seus livros, seja pelo ativismo da escritora. Nascida em Belo Horizonte, em 1946, Conceição trabalhou grande parte da sua vida como empregada doméstica. Em 1970, ela se muda para o Rio de Janeiro e ingressa na vida acadêmica, se tornando doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.
A estreia como escritora acontece nos anos 1990, por meio de publicações no Cadernos Negros. O primeiro romance, Ponciá Vivêncio, será publicado em 2033. Conceição Evaristo é criadora do conceito “escrevivência”, um modelo de escrita inspirado na realidade das pessoas. Por Olhos D’Água, recebeu o prêmio Jabuti de Literatura de 2015 (categoria Contos e Crônicas). Voltou a ser agraciada com um Jabuti quatro anos depois – desta vez, como Personalidade Literária do Ano. Em 2022, publicou o romance Canção Para Ninar Menino Grande.
“Não se tem dificuldade em conhecer uma música negra brasileira, ou reconhecer que as culturas africanas influenciaram a música brasileira ou a culinária negra. Mas, quando se trata da literatura – talvez porque ela use o maior bem simbólico da nação, que é a língua –, essa escrita negra não é acreditada”, afirmou Conceição, em 2018. “Grande parte dos escritores negros nasce dos estratos populares e, na maioria das vezes, não temos padrinho. Quando conseguimos, com muita dificuldade, publicar, antes de lerem nossos textos já criticam.”
A cerimônia de premiação do Juca Pato 2023 está prevista para novembro, durante o Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira). O Padre Júlio Lancellotti, vencedor da edição de 2022, fará a entrega do troféu a Conceição Evaristo. Conforme a UBE, o Troféu Juca Pato “é a réplica do personagem criado pelo jornalista Lélis Vieira e imortalizado pelo ilustrador e chargista Benedito Carneiro Bastos Barreto, conhecido pelo pseudônimo de Belmonte (1896-1947). O prêmio foi criado em 1962, por iniciativa do escritor Marcos Rey”. O troféu já foi entregue a personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes Telles e Antonio Candido.
(Foto: Lucas Seixas/Folhapress)