Josias de Souza (Articulista político do UOL/Folha) – A caminho de 2026, Tarcísio de Freitas paga um pedágio salgado ao depor como testemunha de defesa de Bolsonaro. Faz isso mesmo sabendo que talvez esteja enfeitando sua biografia com o golpismo a troco de nada, pois o réu ameaça excluí-lo do seu testamento político.
Pior do que o bolsonarismo primário é o bolsonarismo inocente do governador de São Paulo Tarcísio, que aceita todas as alegações de Bolsonaro a seu próprio respeito. Na ação penal sobre o golpe, isso inclui concordar com a tese de que tudo o que está na cara não passa de conspiração do sistema contra um democrata injustiçado.
A desfaçatez criminosa de Bolsonaro e o seu sucesso entre os bolsonaristas primários já não assustam. É natural que aqueles que rezaram para pneus e pediram intervenção militar na frente dos quarteis tratem o “mito” como perseguido político.
Espanta mesmo é quando Tarcísio e seus apoiadores do centrão, intimados pelas circunstâncias a escolher entre Bolsonaro e a democracia, façam opção preferencial pelo cinismo. Sabem que, para a direita nacional, o capitão vale mais na tranca do que solto. Foi Valdemar da Costa Neto quem vaticinou: “Se for preso, Bolsonaro elege um poste de dentro da cadeia”. A questão agora é saber se a hipotética eletricidade do preso vale o curto-circuito do indulto que Tarcísio teria que assinar se chegasse à Presidência da República.
Juridicamente, testemunhos como o de Tarcísio têm serventia nula para o réu. A desconversa não apaga os fatos. Politicamente, o conservadorismo hipoteticamente sensato do governador beija a morte sem a garantia de que seu nome estará no inventário político do futuro presidiário. (Foto: Caio Guatelli/AFP)
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