Encontro na Arábia Saudita não produziu acordo sobre fórmula para a paz na Ucrânia

Henrique Acker (Correspondente internacional)  – O encontro de Jeddah, realizado na Arábia Saudita nos dias 5 e 6 de agosto, não conseguiu chegar a um consenso sobre os caminhos para a promoção da paz na Ucrânia. Apesar da presença de representantes de 40 países, o sucesso do evento ficou comprometido pelo fato da Rússia não ter sido convidada e por divergências manifestadas, particularmente pelos quatro países dos BRICS.

A delegação do Brasil foi liderada por Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula para Assuntos Internacionais, que participou por videoconferência. A China foi representada em Jeddah por seu enviado para a Ucrânia, Li Hui.

O Presidente ucraniano, Volodomir Zelensky, pretendia propor o debate a partir dos dez pontos de seu plano de paz, apresentado em 2022. Zelensky insiste em recuperar todas as regiões anexadas pela Rússia desde 2014, notadamente o Donbass e a Península da Criméia.

O governo de Kiev também quer a criação de um tribunal especial para julgar a agressão russa contra a Ucrânia e de um mecanismo internacional de compensação dos danos causados pela guerra. E ainda o que chama de “Pacto de Segurança de Kiev”, no qual os países ocidentais forneceriam “recursos políticos, financeiros, militares e diplomáticos” para fortalecer a capacidade de defesa de Kiev.

 

O que quer a Rússia

Os russos já deixaram claro que não abrem mão do Donbass e da Criméia, cujas populações de maioria russa já aprovaram, em plebiscitos, a anexação destas duas regiões ao país. Ao mesmo tempo, o regime de Moscou não admite que seu território tenha fronteiras com a Ucrânia, cuja pretensão é fazer parte da OTAN.

Apesar da declaração de Li Hui de que a cúpula de Jeddah sobre a Ucrânia fortaleceu o  “consenso internacional”, o evento não produziu qualquer documento ou resolução formal dos participantes, remetendo a questão para um novo encontro que deverá ocorrer até o final deste ano.

Já o governo russo reagiu, citando os compromissos de fundação do estado ucraniano. “As bases originais da soberania da Ucrânia – o seu estatuto neutral, não-alinhado e não-nuclear – devem ser confirmadas”, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, citada pela Agência Reuters.

 

Zelensky critica Lula

Volodomir Zelensky aproveitou para rebater as palavras do Presidente Lula à imprensa internacional. “Para ser sincero, eu achava que ele [Lula da Silva] tinha uma compreensão mais ampla do mundo”, disse Zelensky a jornalistas da América Latina presentes ao encontro.

“Não temos ouvido nem de Zelensky nem de Putin a ideia de que vamos parar [a guerra] e vamos negociar. Por enquanto, os dois estão naquela fase de que ‘eu vou ganhar, eu vou ganhar, eu vou ganhar’, sabem? Entretanto, as pessoas estão morrendo”. Foi o que afirmou Lula à imprensa internacional, em recente entrevista coletiva em Brasília.

Já o conselheiro especial para relações internacionais, Celso Amorim, argumentou na mesma entrevista coletiva que as preocupações de segurança da Rússia não devem ser esquecidas num eventual acordo de paz. “Não é possível deixar de fora as preocupações de segurança da Rússia, elas são reais”, defendeu Amorim. (Foto Reuters)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

 

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