Após dois meses em silêncio, Jair Bolsonaro (PL) realizou na manhã desta sexta-feira (30) a última live nas redes sociais na condição de presidente da República.
Na despedida, ele demonstrou que ainda não digeriu a derrota eleitoral para Lula (PT).
Ao contrário disso, Bolsonaro admitiu que buscou “alternativas” para evitar a posse do petista, mas revelou que as tentativas foram frustradas pela falta de “apoio” de outras “instituições”.
“Está prevista a posse em 1º de janeiro. Eu busquei, dentro das quatro linhas, dentro da Constituição, saída para isso aí. Se a gente podia questionar alguma coisa. Ninguém quer uma aventura. Muitas vezes, dentro das quatro linhas, você tem que ter apoios”, disse Bolsonaro.
Tentando aplacar as críticas de seus apoiadores, que ainda vivem a expectativa de um golpe contra a posse de Lua, Bolsonaro ainda acrescentou:
“Alguns acham que eu pego a [caneta] Bic e assino: ‘faça isso ou faça aquilo’, e está tudo resolvido. Repito: em nenhum momento fui procurado para fazer nada de errado. Entendo que fiz a minha parte, estou fazendo a minha parte dentro das quatro linhas. Agora, certas medidas têm que ter apoio do Parlamento, de alguns [ministros] do Supremo [Tribunal Federal], de outros órgãos e instituições.”
Na transmissão ao vivo, Bolsonaro reclamou que não pode questionar as urnas eletrônicas sob risco de incorrer em crime eleitoral e ser preso, mas atacou o Tribunal Superior Eleitoral ao dizer que houve ativismo por parte da Corte durante o pleito. “Obviamente que não foi uma campanha imparcial”, declarou.
Bolsonaro ainda atribuiu à postura do TSE as mobilizações bolsonaristas que passaram a bloquear estradas e a forjar acampamentos em frente aos quartéis, em protesto contra o resultado das urnas.
“Não se pode dar soco na mesa e não discutir o assunto. Isso tudo trouxe a massa às ruas. Essas massas foram para os quarteis. Eu não participei desse movimento, me recolhi. Eu decidi não falar para não tumultuar mais. A imprensa sempre tira minha fala de contexto. O que houve pelo Brasil foi manifestação do povo, não tinha liderança. Protestos pacíficos e ordeiros, que têm que ser respeitados”, defendeu.
Inflamando as massas para posse de Lula
Ao longo de mais de 40 minutos de live, Bolsonaro chancelou as manifestações em frente aos quartéis, disse que as aglomerações são “bem-vindas” e que é “direito e dever” de apoiadores protestar contra o cerceamento de liberdades. Ele também inflamou os apoiadores contra governos de esquerda e, usando a tática “apito de cachorro”, convocou a horda bolsonarista a protestar em Brasília no dia da posse.
“Vocês estão vendo quem deve comparecer aqui domingo, por causa da posse. Maduro vai se fazer presente, Boric, Ortega. São um mau sinal. Onde esse pessoal com essa ideologia assumiu, seu País ficou pior, e nós não queremos o Brasil piorando. Temos que respeitar nossas leis, mas podemos reagir. Podemos não, é um direito nosso. Mais que direito, é um dever nosso reagir. Qualquer manifestação é bem-vinda”.
Bolsonaro criticou, no entanto, o uso de violência e de “atos terroristas”, dizendo que os episódios já registrados até o momento são “lamentáveis” e injustificáveis. Contra isso, ele pediu “inteligência” dos seguidores.
“Não queremos o confronto”, ressaltou. “Ninguém estimula partir para o confronto. Creio no patriotismo de vocês, na inteligência de vocês, na garra. Sei o que vocês passaram ao longo de 2 meses de protesto. Sol, chuva. Isso não é nada que vai ficar perdido. Imagens foram para fora do Brasil. Aqui dentro, despertou na cabeça de milhões de pessoas a estudar por que tivemos manifestações espontâneas.”
Ao final, Bolsonaro reforçou que “o Brasil não vai se acabar dia 1º de janeiro” e ressaltou que o Parlamento que assume em 2023 será mais conservador e independente de Lula.
“O que vejo desse governo que está assumindo domingo, é um governo que começa capenga, já com muitas reações”, avaliou, fazendo comparações precoces entre o seu ministério e o primeiro escalão anunciado por Lula, entre outros paralelos. (Foto : print da live)