Em encontro com Putin, Dilma defende transações sem dólar e nega financiamento à Rússia

O encontro da ex-presidente do Brasil com líder russo ocorreu no contexto da segunda Cúpula Rússia-África por sua posição de chefe no órgão, cargo que ocupa desde abril

 

A chefe do banco do Brics (bloco diplomático composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), voltou a atacar a hegemonia do dólar em transações internacionais durante reunião com o líder russo, Vladimir Putin, nesta quarta-feira (26), em São Petersburgo, na Rússia. Tocando em dueto com o chefe do Kremlin no encontro realizado em São Petersburgo, ela defendeu o uso de moedas locais, como o yuan chinês, em trocas entre países emergentes.

Embora não tenha mencionado a guerra na Ucrânia na reunião, em comunicado divulgado mais cedo no Twitter, Dilma já havia adiantado que o órgão, também conhecido por Banco dos Brics, não avaliaria novos projetos de financiamento na Rússia devido às sanções relacionadas ao conflito. O posicionamento contundente sobre eventuais empréstimos ao país foi ratificado pelo comunicado oficial do banco, divulgado pouco antes da reunião, afirmando que “quaisquer especulações sobre a discussão de novas operações do NBD na Rússia são infundadas”.

“O NDB [Novo Banco de Desenvolvimento, na sigla inglesa do órgão] reiterou que não está considerando novos projetos na Rússia e que opera em conformidade com as restrições aplicáveis nos mercados internacionais”, afirmou a ex-presidente brasileira na plataforma X, como o Twitter foi rebatizado.

Antes do encontro, alguns veículos noticiaram, citando fontes anônimas, que Dilma teria sugerido emprestar dinheiro à Rússia, e que a China supostamente teria reagido à proposta, rejeitando a ideia por receio de o NBD sofrer sanções do Ocidente ao, indiretamente, financiar a ofensiva russa na Ucrânia.

Transações sem dólar

Na reunião, o líder russo criticou o uso do dólar americano como moeda internacional, apontando seu uso como “ferramenta de luta política”. Ele também apoiou os planos de aumentar a liquidez NBD, afirmando que tem confiança de que a ex-presidente brasileira desenvolverá com sucesso “esse mecanismo muito importante” para o órgão. “Sabemos que há dúvidas sobre a liquidez do banco, que há algumas ideias de seu pessoal sobre isso, e vamos apoiá-los”, afirmou Putin.  “As relações dos países do Brics estão se desenvolvendo em moedas nacionais, e me parece que o NBD pode desempenhar um papel significativo nisso”, acrescentou.

Na mesma linha, Dilma, por sua vez, enfatizou que não há justificativa para que países em desenvolvimento “não possam estabelecer trocas em moedas locais”, e ressaltou o papel fundamental do banco na construção de um mundo “mais multilateral e multipolar”. Adicionalmente, Dilma elogiou o país de Putin como grande parceiro para o bloco, destacando a relevância da Cúpula Rússia-África para o desenvolvimento do chamado “Sul Global”. Porém, alertou sobre a necessidade de monitorar a dívida desses países e sua alta demanda por investimentos, criticando instituições financeiras tradicionais que impõem condições sem o envolvimento do NBD.

Putin já expressou anteriormente seu desejo de utilizar o yuan chinês no lugar da moeda americana em acordos entre a Federação Russa e os países da Ásia, África e América Latina. A ideia reflete um movimento tanto de Moscou como de Pequim de buscar diminuir a dependência do dólar americano nas trocas internacionais e que se acentuou com a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022. A ideia também é frequentemente defendida pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, embora pontue que é necessário ter calma para promover tal mudança, como afirmou em viagem oficial a Xangai, em abril.

O encontro da ex-presidente do Brasil ocorreu no contexto da segunda Cúpula Rússia-África por sua posição de líder no órgão, cargo ao qual foi indicada em março e que ocupa desde abril deste ano. Criado em 2014, o banco está aberto à participação de qualquer país que faça parte da ONU. Em 2021, Bangladesh e Emirados Árabes Unidos passaram a ser membros do NDB. O Egito se uniu ao banco em fevereiro deste ano, e o Uruguai está em processo de se tornar um membro efetivo.

 

(Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

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