Cleiton Holzschuk afirmou, em depoimento à Polícia Federal, ter sido informado por Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, do destino do conjunto de peças milionárias
O ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL), Cleiton Henrique Holzschuk, afirmou em depoimento para a Polícia Federal (PF) ter sido informado pelo tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens e braço direito do ex-presidente, que as joias enviadas pela Arábia Saudita e retidas pela alfândega do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) iriam para o “acervo pessoal” do então presidente da República.
Cleiton Holzschuk foi ouvido pela PF em 5 de abril no inquérito que investiga a tentativa do antigo governo de trazer, sem declaração, o conjunto de joias no valor de R$ 16,5 milhões. Durante o governo Bolsonaro, Cid foi fiel aliado e ajudante de ordens do ex-presidente. Cleiton, 2º tenente do exército, estava subordinado a Cid no gabinete pessoal do, à época, Presidente da República. “Que (…) foi falado pelo tenente-coronel Cid durante as conversas de WhatsApp relatadas que as joias iriam para o acervo pessoal do presidente da República”, disse em um dos trechos do depoimento.
O tenente disse aos policias que conversou via WhatsApp com com Cid sobre as liberações das joias no fim do governo, entre os dias 28 e 29 de dezembro, nos últimos dias do governo Bolsonaro. Também no depoimento, afirmou que não tinha as cópias das conversas porque devolveu o telefone do trabalho ao fim das atividades como assessor.
Cid não comentou sobre a conversa que teve com Cleiton quando depôs para a polícia. Ao contrário disso, relatou que Bolsonaro pediu para que checasse os itens bloqueados na receita, se era possível regularizar os itens e que não houve uma ordem, mas sim uma “solicitação” de busca dos itens.
Já Bolsonaro disse em seu depoimento à PF que “nunca decidia ou era consultado, ou mesmo opinou, quanto à classificação, entre o acervo público ou privado de interesse público”, contradizendo seu assessor.
Operação
O tenente Holzschuk afirmou ainda à PF que foi acionado pelo ajudante de ordens de Bolsonaro para escalar um auxiliar para ir buscar as joias no Aeroporto Internacional de Guarulhos. O escolhido foi o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva. Cleiton também contatou a secretária da Ajudância de Ordens, a militar da Aeronáutica Priscilla Esteves das Chagas de Lima, para que ela adiantasse documentos necessários para concluir o trâmite de recebimento de um presente pelo presidente.
Priscilla, também em depoimento à PF, afirmou que preparou um ofício que tinha como objetivo informar a conclusão do processo em caso de sucesso da retirada do conjunto retido na Receita Federal. Segundo ela, o ofício relatava que o “presente” havia sido transferido para a “posse do Presidente da República, como presente pessoal e não institucional”.
Segundo publicação desta sexta-feira (21) do portal g1, na noite do dia 29 de dezembro, após o fracasso da operação de retirada das joias da alfândega, o tenente subordinado a Cid mandou, em um áudio atribuído a ele, que Priscilla apagasse o documento com essa informação de que o conjunto de R$ 16,5 milhões seria um “presente pessoal” para Bolsonaro.
“Então, ele (Jairo) tá voltando hoje à noite sem o material, beleza? Aí, na segunda-feira, a gente tem que ver aí como é que faz pra excluir aí o ofício, excluir a documentação que a gente fez com relação ao recebimento desse material, beleza?”, diz a gravação segundo a reportagem.
À PF, ela relatou ter sido informada mais cedo pelo tenente Cleiton que o ex-ministro de Minas e Energia havia recebido um “presente destinado ao Presidente da República, que ficou retido na Receita Federal de Guarulhos”.
A operação feita às pressas, caso bem-sucedida, passaria por cima do protocolo que envolve ainda outro órgão ligado à Presidência, o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) do Gabinete Pessoal do Presidente da República. Segundo determinação do Tribunal de Contas da União, todo presente recebido por um presidente, inclusive os entregues por autoridades estrangeiras, devem ser considerados públicos, com exceção de itens de “natureza personalíssima ou de consumo direto”. (Foto: Reprodução)