(*) Henrique Acker, direto da Europa – As eleições para Presidente da Turquia vão mesmo ser definidas em segundo turno, em 26 de maio, entre o atual mandatário, Recep Tayyip Erdogan, e Kemal Kiliçdaroglu, que representa uma coligação de seis partidos de oposição. Os dois candidatos devem disputar o eleitorado do terceiro colocado, Sinan Ogan, de extrema-direita, que chegou a 5,1% dos votos.
Apesar de ter obtido 49,5% dos votos, o partido de Erdogan, há duas décadas no governo, conquistou maioria das 600 cadeiras no Parlamento. Já a coligação de oposição alcançou 44,9% dos votos, contando com o apoio dos kurdos (cerca de 10% do eleitorado), minoria que reivindica sua pátria em parte do território turco, cujo partido (PKK) é tratado por Erdogan como terrorista.
Alguns fatores foram determinantes para o avanço da oposição: a inflação, que atingiu 80% em 2022, e os estragos provocados pelo terremoto de fevereiro deste ano, que vitimou 50 mil pessoas e deixou um rastro de destruição pelo país. Há acusações de que o governo faz vista grossa para a especulação imobiliária, que desrespeita as condições do território turco, marcado por sismos e terremotos de alta intensidade.
Eleitorado de extrema-direita deve decidir
Mesmo com os problemas enfrentados por seu governo, Erdogan conseguiu manter a fidelidade da maior parte de seu eleitorado. Para isso, tratou de conceder aumento do salário-mínimo e das aposentadorias.
De acordo com o porta-voz dos observadores internacionais que acompanharam a votação no primeiro turno, as eleições transcorreram dentro da normalidade. No entanto, Kemal Kiliçdaroglu acusa o partido do governo de exigir recontagem nas principais urnas de Ancara (capital) e Istambul, onde a coligação de oposição teve grande apoio do eleitorado.
O governo russo já declarou que deverá apoiar o novo Presidente, seja ele qual for. Kiliçdaroglu chegou a insinuar que o governo Putin teria influenciado o processo eleitoral turco. Os dois candidatos terão menos de duas semanas para disputar e conquistar o voto do eleitorado da extrema-direita, que será decisivo para a escolha do novo Presidente.
Papel estratégico
A Turquia joga um papel estratégico entre a Europa, a Ásia Central e o Oriente Médio. Seu território faz fronteira a Leste com a Geórgia, a Armênia e o Azerbaijão (ex-repúblicas soviéticas e ainda muito influenciadas pela Rússia). Ao Sul, a Turquia tem fronteiras com o Irã, o Iraque e a Síria, e a Noroeste com a Grécia e a Bulgária.
Grande parte das mercadorias escoadas dos países do Leste Europeu pelo Mar Negro, incluindo a Rússia e a Ucrânia, precisa atravessar o Estreito de Bósforo, o Mar de Mármara e o Estreito de Dardanelos, todos em território turco, para chegar ao Mar Mediterrâneo e alcançar as águas do Oceano Atlântico.
Não por acaso, um dos seis corredores da chamada Nova Rota da Seda – projeto de expansão comercial da China – passa justamente pela Turquia, cujo governo tem laços políticos fortes com Vladimir Putin. A Turquia pertence à OTAN desde 1952. No entanto, desde a tentativa de golpe militar, em 2016, o governo de Erdogan desenvolveu uma política de desconfiança e atritos dentro da Organização. (Foto: Reprodução)
(*) Henrique Acker é correspondente Internacional do Opinião em Pauta.