Henrique Acker (correspondente internacional) – Derrotado nas urnas no primeiro e no segundo turno, quando seu partido foi beneficiado pela desistência de candidaturas da Nova Frente Popular (NFP), o Presidente francês decidiu assumir o papel de juiz das eleições e tutor da sociedade francesa.
As urnas em 7 de julho apontaram uma vitória clara da esquerda – ainda que sem maioria absoluta – unida em torno da Nova Frente Popular (NFP) . No entanto, numa manobra política, Emmanuel Macron divulgou uma carta aos franceses em 11 de julho, afirmando que “não houve vencedores” e que será preciso “uma maioria absoluta” para a formação do novo governo.
Esta posição contradiz a postura do próprio Macron em 2022, quando seu partido obteve o maior número de votos e deputados, sem alcançar maioria. Naquela ocasião, Macron exigiu a formação do governo com base no resultado das urnas, mas agora afirma que todos os blocos são “minoritários” e pede uma solução de “compromisso”.
“Abuso de poder”, diz Mélenchon
O líder da França Insubmissa – maior partido da NFP – Jean-Luc Mélenchon, reagiu frontalmente à carta do Presidente francês, afirmando em suas redes sociais que a posição de Macron é “um abuso de poder”, e que o voto do povo “deve ser respeitado”, manifestando-se contra o que chamou de “golpe de força presidencial”.
Para Mélenchon, a carta mostra que Macron quer “manter o poder que o voto dos franceses lhe retirou”. Ele promete lutar para que o Presidente “respeite a decisão do sufrágio universal” e não imponha uma espécie de “veto real” sobre o voto popular.
A líder ecologista, Marine Tondelier, escreveu no X que é preciso “aceitar o veredito das urnas” e que a sua negação lançaria “o país e a democracia” no abismo. Já Olivier Faure, líder do Partido Socialista, declarou que “o Presidente da República deve respeitar o seu dever de republicano, respeitar o sufrágio universal e respeitar o voto dos franceses”.
Grande empresariado apreensivo
Quem parece satisfeito com a posição do Presidente da República é o Presidente do Senado, Gérard Larcher, dos Republicanos (centro-direita), que esteve com Macron antes da divulgação da carta. Para Larcher, um novo Governo só deveria ser nomeado “no início do mês de setembro”, depois dos Jogos Olímpicos de Paris.
Em entrevista ao portal Les Echos, Patrick Martin, o Presidente da maior confederação patronal francesa (Medef), classificou de “slogans de campanha” sedutores, mas perigosos, as medidas previstas no programa da NFP. Martin apela aos líderes políticos para que não “se libertem da realidade econômica”.
O representante do grande empresariado francês criticou medidas como a subida do salário mínimo, o regresso ao imposto sobre grandes fortunas e a revogação da reforma das aposentadorias. Para Martin, essas e outras medidas econômicas seriam “um sinal terrível para os mercados financeiros”.
Conversas até 18 de julho
Sophie Binet, líder da confederação sindical CGT, defende que o programa da NFT deve ser respeitado. O Presidente Macron ao contrário de lembrar um “Luís XVI que se fecha em Versalhes”, deveria “preservar o país em vez de lançar barris de gasolina nos incêndios que ele acendeu”, concluiu Binet em entrevista ao canal de TV LCI.
Já a dirigente da CDFT, Marylise Léon, lembrou que o resultado do segundo turno da eleição tem a ver com a reação do eleitorado francês ao risco da extrema-direita. “Um deputado eleito do Ensemble (partido de Macron) não pode fazer de conta que não votaram nele cidadãos que não aderem ao seu programa”, disse Léon à Rádio France Inter.
Além de manter o atual primeiro-ministro, Emmanuel Macron, deve aguardar pelo menos até 18 de julho, quando será realizada a cerimônia de posse dos novos deputados e a instalação da nova Assembleia Nacional, para definir uma posição. Até lá seguem as conversas e negociações entre as coligações e dentro da própria Nova Frente Popular, para definir o nome que a esquerda deve apresentar para o novo governo.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
Resultados do Segundo Turno da eleição na França
Les Echos (Entrevista de Patrick Martin)