Eleições Espanha 2023: Derrota do Vox dificulta formação de um governo de direita

Henrique Acker (correspondente internacional) Se houve algum derrotado na eleição espanhola de 23 de julho foi o Vox, partido da extrema-direita. O mau desempenho da legenda de Santiago Abascal – caiu de 52 para 33 deputados, alcançando 12,39% dos votos – dificulta muita a formação de um governo de direita com o Partido Popular (PP).

Apesar de ter obtido o melhor desempenho na eleição (33% dos votos e 136 deputados), o PP terá muitas dificuldades para convencer outras legendas a apoiar um governo encabeçado por seu líder, Alberto Núñez Feijóo. Os votos do Vox e de um ou outro deputado de partidos independentistas não serão suficientes para conquistar os 176 votos necessários e chegar ao governo.

Do outro lado, tanto o social-democrata Psoe (31,7% dos votos e 122 deputados), do atual Presidente Pedro Sánchez, quanto o Sumar (12,31% dos votos e 31 deputados), frente de organizações de esquerda da ministra do Trabalho Yolanda Díaz, também não alcançaram votos suficientes para assegurar a formação de um governo à esquerda.

Terão que negociar com os independentistas da Catalunha e do País Basco, que junto a outras pequenas legendas totalizam 27 deputados.

Novo governo tem que obter maioria no Parlamento

Pela legislação eleitoral espanhola, o partido mais votado tem o direito de apresentar uma plataforma e uma chapa de governo no Parlamento, que deve aprovar ou não a proposta por maioria simples. Caso não consiga os 176 votos numa primeira aprovação, este mesmo partido tem ainda outra chance para conquistar maioria.

No caso de nova rejeição, cabe ao segundo partido mais votado fazer suas tentativas de formação do novo governo. Pelo calendário desta eleição, as negociações para a formação de chapas devem seguir até meados de setembro (dois meses). Há ainda um prazo até novembro, se houver possibilidade de formação de outra chapa.

A maior dificuldade do PP é convencer os partidos da Catalunha e do País Basco a apoiar sua chapa de governo em coligação com a extrema-direita, maior inimiga de qualquer concessão aos independentistas.

 

Dificuldades também para a esquerda

No caso do Psoe as negociações são também complicadas, porque os partidos nacionalistas devem colocar exigências maiores para um eventual apoio, como plebiscito sobre independência ou mais autonomia para os governos regionais.

A outra possibilidade é que os partidos menores se abstenham, abrindo caminho para a aprovação de um governo de direita. Neste caso, o PP terá muito mais dificuldade, porque dificilmente o Vox aceitará ficar de fora do governo, o que cria uma barreira para a abstenção dos independentistas.

A maior incógnita é como vão votar os cinco deputados do Junts, do ex-dirigente catalão Carles Puigdemont. Seu partido é, ao mesmo tempo, independentista e conservador.

Ou seja, o PP pode até obter algumas abstenções dos independentistas, mas apenas se o Vox ficar de fora do governo. Nesta última hipótese, o Vox retiraria o apoio ao PP, que sozinho não tem maioria para ver sua chapa aprovada.

No caso de uma chapa Psoe/Sumar a abstenção dos partidos regionais não serve, porque terá o voto contrário dos partidos da direita, o que inviabilizaria um novo governo de esquerda.

Se nenhum dos dois partidos majoritários conseguir formar governo, o Rei da Espanha deve convocar nova eleição, provavelmente até o final do ano.

Pesquisas não captaram o voto útil

A antecipação das eleições gerais foi uma aposta de Pedro Sánchez, logo depois da derrota para a direita, sofrida nas eleições regionais e municipais de maio deste ano. Além de dirigir o governo espanhol, Sánchez preside a União Européia neste segundo semestre de 2023, em nome de seu país. Mesmo derrotado, o líder do Psoe ganha tempo para levar seu mandato à frente da União Europeia até o fim do ano, sem sofrer grande desgaste político.

Pedro Sánchez apelou ao voto útil contra a ameaça de um partido de extrema-direita (Vox) chegar ao governo, numa coligação com a direita tradicional (PP). A receita parece ter dado resultado, apesar da eleição ocorrer justamente nas férias de verão europeias, o que tradicionalmente dificulta a ida do eleitor à urna. Cerca de 70% dos espanhóis foram votar.

Chama a atenção dos analistas europeus o fato de todos os institutos de pesquisa terem falhado nos resultados de suas enquetes eleitorais. A maioria deu uma vitória da direita/extrema-direita e uma derrota fragorosa do Psoe, o que não aconteceu. Já o CIS, instituto governamental, também exagerou no prognóstico de um vitória do partido de Pedro Sánchez e no desempenho do Sumar.

Na imagem, apoiadores do PP acompanham apuração dos votos no QG do partido, em Madri, neste domingo, 23.  (Foto: Juan Medina/Reuters)

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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