Henrique Acker (correspondente internacional) – Mais de 77% dos eleitores foram às urnas ou votaram via internet na eleição presidencial russa, de 14 a 17 de março. Apesar dos protestos registrados nos centros de votação em alguns países da Europa, essa foi a maior adesão a um processo eleitoral desde o final da União Soviética.
Vladimir Putin obteve seu quinto mandato, com 87% dos votos (76 milhões), devendo permanecer na Presidência até 2030. O candidato comunista, Nikolai Kharitonov, ficou em segundo lugar, com pouco menos de 4%, enquanto Vladislav Davankov ocupou o terceiro lugar e o ultranacionalista Leonid Slutsky o quarto.
Em seu discurso de agradecimento pela vitória, Putin alertou que, caso algum país envie tropas para a Ucrânia, a guerra com a OTAN será inevitável. “Assim estaríamos a um passo da Terceira Guerra Mundial“.
Putin informou que seu governo pode criar uma zona de segurança na Ucrânia, evitando que as armas daquele país tenham capacidade de alcançar o território russo. O Presidente revelou ainda que houve planos para a troca de Alexei Navalny por um agente dos serviços de segurança da Rússia.
Ex-KGB, conservador, nacionalista e anticomunista
Vladimir Putin ingressou em 1975 na KGB (polícia política da ex-URSS), onde foi formado e trabalhou em diversas funções, até chegar a chefia o departamento de fronteiras, em Dresden, na antiga Alemanha Oriental. Em 1991, aderiu ao golpe de estado que derrubou o que restava do regime soviético. Foi primeiro-ministro em 1999, durante o governo de Boris Yeltsin.
Em 2000 foi eleito presidente e reeleito em 2004, cargo que ocupou até 2008. Voltou a ser primeiro-ministro no governo de Dmitri Medvedev, de 2008 a 2012, quando concorreu novamente à Presidência pelo partido Rússia Unida, mantendo-se no governo até 2018, quando concorreu à reeleição e venceu com 76% dos votos, encerrando o quarto mandato em 2024.
Não há uma definição clara para as posições políticas de Vladimir Putin, mas cientistas políticos o classificam como um conservador. Anticomunista convicto, Putin acusa Vladimir Lenin, líder da Revolução Bolchevique de 1917, de destruir a Rússia histórica. Em ocasiões diferentes, Putin já se definiu como um pragmático de tendência conservadora, liberal e nacionalista.
Durante os 24 anos de Putin à frente da Rússia, houve inúmeros episódios de repressão policial contra opositores de diversos matizes, pressão contra jornalistas e órgãos de imprensa independentes e movimentos populares que exigiam melhores condições de vida e liberdade.
Nem democratas nem liberais
Contra Putin a mídia empresarial ocidental reproduz o discurso oficial dos países da OTAN, classificando o regime político de russo autocrático e ditatorial. Mas o que pouco se observa é a origem de alguns de seus principais opositores.
No cenário interno, a mais nova vítima do regime de Putin foi Alexei Navalny, morto em fevereiro deste ano, numa prisão na Antártida. Tido como um defensor da democracia e da liberdade, na verdade Navalny iniciou sua carreira política em 1999 como ultranacionalista.
“Os imigrantes muçulmanos são iguais a baratas e a solução é armar os cidadãos para combater esta praga”. Esta frase é de Navalny e foi proferida em 2007, quando decidiu formar o partido Narod, de posições nacionalistas e anti-imigração.
Em 2010, Navalny recebeu bolsa de estudos da Universidade de Yale, dos EUA, que procurava formar líderes globais. A partir de então, passou a explorar as redes sociais para fazer diversas denúncias de corrupção na Rússia de Putin.
Em uma delas Navalny apontou a existência do “Palácio secreto” de Putin, situado no Mar Negro, que teria custado um bilhão de dólares. No entanto, de acordo com a BBC de Londres, o edifício ainda estava em obras e não pertencia a Putin. O dono é o multimilionário Arkady Rotenberg.
Em 2013, Navalny chegou a obter bom resultado na corrida à Câmara Municipal de Moscovo, alcançando mais de 27% dos votos, chegando em segundo lugar. O Levada Center, uma organização independente de pesquisas, realizou enquete sobre que figura política russa merecia mais confiança da população. Entre novembro de 2017 e setembro de 2020, Alexei Navalny nunca ultrapassou os 5% da preferência dos entrevistados.
Zelensky proíbe partidos de oposição
Ator e humorista, Volodomyr Zelensky foi eleito Presidente da Ucrânia, em 2019, com 73% dos votos, pelo partido Servo do Povo, nome do mesmo seriado que estrelava na TV. Era uma série de humor, em que um professor de história – interpretado pelo próprio Zelensky – chegou ao cargo de presidente do país de forma inesperada.
Com uma campanha feita basicamente nas redes sociais, Zelensky prometeu combater a corrupção, aproximar a Ucrânia dos países do Ocidente e pressionar a Rússia a deixar áreas ocupadas do território ucraniano. Logo a seguir à sua posse, o parlamento foi dissolvido e convocadas nova eleições, dando ao novo governo base para implementar seu programa.
Até fevereiro de 2022, quando Vladimir Putin decidiu invadir a Ucrânia, o governo ucraniano não era bem avaliado. Todas as enquetes apontavam que a popularidade de Zelensky não ultrapassava os 25% de aprovação até o final de 2021.
Guerra como desculpa
Para enfrentar o descontentamento, Zelensky aproveitou a Lei Marcial em vigor para suspender as atividades de onze partidos de oposição ao seu governo. Três deles participaram nas últimas eleições e tiveram cerca 2,7 milhões de votos em 2019, o que correspondeu a 18,3% do total.
Alguns desses partidos são pró-russos, o que seria normal na Ucrânia. No censo populacional de 2001, 8.334.100 de pessoas foram identificadas como russos étnicos (17,3% da população total do país).
No entanto, outros partidos proibidos são de esquerda, como o Partido Socialista Progressista da Ucrânia. O tribunal administrativo também decretou o fim dos partidos “Oposição de Esquerda”, “União de Esquerdas”, “State”, e “Volodymyr Saldo Bloc”.
Em 2015, já sob o governo de Zelensky, todos os partidos comunistas foram proibidos. Analistas ucranianos colocam em dúvida se esses partidos serão readmitidos após o final da guerra.
Numa pesquisa publicada pela Fundação Ilko Kucheriv, em setembro de 2023, 78% dos entrevistados apontavam o próprio Zelensky como responsável pela corrupção no país e nas administrações regionais. (Foto: REUTERS)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
Fontes:
https://tass.com/politics/1761183
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vladimir_Putin#Bibliografia
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/02/24/quem-e-volodymyr-zelensky-presidente-da-ucrania.ghtml
https://pt.wikipedia.org/wiki/Russos_da_Ucr%C3%A2nia