Henrique Acker (correspondente internacional) – Ao contrário do que se imagina, os eleitores dos EUA não elegem um presidente, mas um colégio eleitoral formado por 538 delegados, que representam os 50 estados estadunidenses. São eles que vão eleger o presidente, entre os candidatos dos partidos Republicano e Democrata. Para isso, são necessários 270 votos no colégio eleitoral.
Portanto, o presidente dos EUA é eleito de forma indireta. O mais grave é que o partido com mais votos num estado leva todos os delegados daquele estado para o colégio eleitoral. Assim, corre-se o risco do candidato com mais votos nas urnas ser derrotado, como já aconteceu por cinco vezes.
Sete estados definem
Dos 50 estados, sete são considerados decisivos, ou “estados-pêndulo”. A Califórnia é o que possui o maior número de delegados (54 em 2024), seguida pelo Texas (40), Flórida (30), Nova York (28), Pensilvânia (19), Illinois (19) e Ohio (17). Juntos, respondem por cerca de 38% do Colégio Eleitoral.
Por esse motivo, os candidatos jogam todo o peso da campanha nesses sete estados. Os estados-pêndulo receberam 70% dos gastos de propaganda da campanha democrata, e os anúncios nacionais consumiram 25%. Os outros estados ficaram somente com 5%. No caso de Trump, os sete estados receberam 88% do total, os anúncios nacionais consumiram 10%, sobrando apenas 2% para os estados restantes.
Só no Google e Meta foram gastos US$ 619 milhões em propaganda política desde o início do processo eleitoral, incluindo as primárias dos partidos. Desses, US$ 248 milhões eram anúncios na disputa pela Presidência.
Dois partidos revezam no governo
Desde 1852, somente republicanos e democratas concorrem às eleições para o colégio eleitoral com chances de vitória. Por quê?
. A eleição nos EUA é definida em um único turno, o que força o eleitor a decidir seu voto contra o que considera pior entre os dois maiores partidos;
. Os candidatos de partidos menores não conseguem cumprir todos os requisitos exigidos para constar nas cédulas eleitorais dos 50 estados, cada qual com suas regras próprias;
. Os partidos menores não têm recursos e nem financiamento suficiente de grupos privados para sustentar uma campanha em 50 estados num país continental.
Os maiores doadores não apostam em outras siglas partidárias. O que significa que grandes empresas e lobbies têm grande força política para obter apoio aos seus negócios, seja o presidente republicano ou democrata.
Lobbies investem nos dois candidatos
O financiamento privado de campanhas eleitorais é legalizado através de Comitês de Ação Política (PAC), que arrecadam fundos privados de empresas e bilionários. Grupos do mesmo ramo econômico e de interesse (lobby) doam tanto para republicanos quanto para democratas.
Alguns casos mais comuns são:
. Israel – Reúne mais de 4,5 milhões de membros e uma vasta quantidade de doadores. Em 2020, doaram 30 milhões de dólares, enquanto D. Trump captou cerca de 20 milhões.
. Armas – A Delta Defense LLC contribui financeiramente com 1,3 milhão de dólares doados a grupos conservadores da política americana para haver legislações favoráveis aos portadores e donos de armas.
. Petroleiras e mineradoras – investimentos de 70 milhões de dólares, voltados especialmente a republicanos e grupos conservadores. Entre os maiores doadores, estão as Indústrias Koch, a Chevron, a Energy Transfer Partners e a Crownquest Operating.
As campanhas de Kamala e Trump são os maiores receptadores de dinheiro. Os dois candidatos receberam quase a mesma quantidade de fundos das empresas do ramo. Trump recebeu 2 milhões de dólares, enquanto foi destinado 1,8 milhão a Harris.
Bilionários com Donald Trump
Elon Musk, o homem mais rico do mundo e líder da Tesla e da plataforma X, já investiu US$ 75 milhões de dólares no super America PAC, pró-Trump.
Miriam Adelson, maior acionista da Las Vegas Sands, a maior operadora de cassinos nos Estados Unidos e tida como a israelense mais rica do mundo, doou US$ 100 milhões para a campanha dos republicanos.
Dick Uihlein, CEO da empresa de empacotamento e distribuição, uma das pessoas mais ricas do Meio-Oeste, destinou US$ 49 milhões no último trimestre para Trump. É contrário a sindicatos, taxas e anti-intervencionista, e investe em think tanks conservadores.
Timothy Mellon é um milionário do setor de transportes engajado em causas da extrema-direita. Em junho, a revista Forbes noticiou que Mellon pagou 53 milhões de dólares para a construção de um muro na fronteira entre os EUA e o México.
Ken Griffin, outro bilionário, já doou 75 milhões aos Republicanos, é contra a taxação de super-ricos e a favor de Israel.
Bilionários com Kamala Harris
Por sua vez, o comitê de arrecadação de Kamala – Harris Victory Fund – arrecadou US$ 633 milhões entre julho e setembro.
Michael Bloomberg, magnata bilionário, é a 15ª pessoa mais rica do mundo, fundador e acionista majoritário da Bloomberg.
Reid Hoffman, fundador e diretor-executivo do LinkedIn, foi o maior doador democrata em 2022, contribuindo com 28,7 milhões de dólares.
Stephen Mandel, criador do fundo de investimentos Lone Pine Capital e membro do conselho da ONG Teach For America.
Jackie e Miguel Bezos (estimado em 30 bilhões de dólares). Pais do criador da Amazon, Jeff Bezos, o casal foi o primeiro investidor do filho, hoje com fortuna de 195 bilhões de dólares.
Entre outros doadores que contribuíram com o máximo legal permitido (US$ 929.600) ou valores próximos disso para a campanha de Kamala Harris estão o agente de Hollywood Ari Emanuel, o bilionário das criptomoedas e capitalista de risco Tim Draper, além de Melinda French Gates e Laurene Powell Jobs. (Fotos: Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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