Henrique Acker (correspondente internacional) – Uma derrota acachapante. Foi o que os britânicos impuseram aos conservadores nas urnas, em 4 de julho, confirmando as previsões das pesquisas eleitorais. Os trabalhistas conquistaram 412 deputados, maioria absoluta das 650 cadeiras do parlamento.
Apesar da declaração do líder trabalhista Keir Starmer de que “a mudança começa agora”, o Partido Trabalhista que venceu a eleição de 2024 é muito mais um partido de centro, depois do afastamento de seu ex-dirigente Jeremy Corbin e de sua linha de esquerda.
Trabalhismo moderado
Em seu discurso de agradecimento ao eleitorado, o novo primeiro-ministro insistiu que é preciso “reconstruir o país” e tratar “todas as pessoas com respeito” para reestabelecer a confiança do povo. Para isso, prometeu ações, mais do que palavras.
Starmer disse que pretende reconstruir a Grã-Bretanha. Assumiu o compromisso de recuperar o Serviço Nacional de Saúde, as universidades, as escolas e oferecer habitação accessível, apostando em energia limpa e em reduzir a conta da eletricidade.
O novo primeiro-ministro afirmou que a partir de agora o governo servirá apenas aos interesses dos britânicos, prometendo estabilidade para as famílias da classe trabalhadora. Mas não anunciou nenhuma medida concreta sobre a questão da imigração.
Vencedores e vencidos
A expectativa de que a extrema-direita seria a terceira força política da Grã-Bretanha não se confirmou. O Reform, partido de Nigel Farage – que liderou a campanha do Brexit – só elegeu quatro deputados, apesar de conquistar cerca de quatro milhões de votos.
Grande parte do eleitorado conservador despejou seu voto no Partido Liberal Democrata, que passou de 12 deputados para 71 cadeiras. Outro partido que avançou foi o irlandês Sinn Féin, elegendo sete deputados ao Parlamento.
O Partido Conservador, que governou o país nos últimos 14 anos, perdeu 250 parlamentares, caindo de 371 para 121 deputados, sua maior derrota eleitoral de todos os tempos. Oito ex-ministros do governo Sunak sequer se elegeram. O partido nacionalista escocês também foi castigado e caiu de 47 para 9 representantes no parlamento.
14 anos de sofrimento
Analistas políticos apontam que esta eleição foi muito mais o resultado de um castigo imposto pelo eleitorado aos conservadores, do que uma convicção de que os trabalhistas podem oferecer grandes mudanças.
Além de escândalos, envolvendo o ex-premier Boris Johnson (como as festas promovidas em meio à pandemia de Covid 19), a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, em 2016, trouxe graves consequências econômicas para o país a partir de 2020.
As barreiras alfandegárias para as empresas britânicas com negócios na Europa e para as empresas europeias na Grã-Bretanha, resultaram em desaceleração da economia, desemprego e inflação, que chegou a 10,5% em 2022. A crise social se agravou com a falta de investimentos no setor público, principalmente no Serviço Nacional de Saúde.
A economia parece ser o que mais preocupa a população (52%), como atesta recente pesquisa da consultoria YouGov. O breve período do governo de Liz Truss, que sucedeu Johnson por 46 dias, foi marcado por um pacote de medidas que fez disparar a inflação e as hipotecas da casa própria. (Foto: Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)