Por Henrique Acker – Além do pouco tempo para abraçar a candidatura de Kamala Harris, o Partido Democrata foi derrotado por ter se afastado do cidadão comum, da classe média e da classe trabalhadora estadunidense.
Temas como inflação dos alimentos e dos medicamentos, preços exorbitantes da moradia, imigração descontrolada, custos elevados da guerra da Ucrânia e do apoio a Israel ficaram de fora da campanha dos democratas, ressaltou em análise em live ao portal Ópera Mundi a jornalista brasileira Heloísa Vilela, que trabalhou e residiu décadas nos EUA.
Mesmo com meias respostas ou propostas toscas, como a expulsão em massa de imigrantes, Donald Trump não se omitiu e tratou desses e outros assuntos que atingem diretamente o eleitorado.
Sanders diz que eleitor quer mudança
“Não deveria ser nenhuma surpresa que um Partido Democrata que abandonou a classe trabalhadora descubra que a classe trabalhadora o abandonou”, publicou o senador independente, identificado à esquerda, por Vermont, Bernie Sanders, em sua conta no X.
“Enquanto a liderança democrata defende o status quo, o povo americano está bravo e quer mudança”, Sanders acrescentou na declaração. “E eles estão certos.”
Alguns sinais da derrota democrata foram dados antes da eleição, como observou o jornalista Lourival Sant´Anna, da CNN Brasil. Um deles era a baixa popularidade de Biden, com a aprovação de apenas 28% dos estadunidenses.
“Os democratas perderam 3,5 milhões de eleitores da eleição passada para essa”, afirmava Sant`Anna uma semana antes da votação. Os republicanos ganharam 140 mil eleitores registrados, o que já indicava que o eleitorado conservador estava mobilizado para votar.
Boca-de-urna identificou problemas do eleitorado
Uma pesquisa realizada no dia da eleição pela agência de notícias Associated Press (AP) com americanos registrados para votar apontou uma alta na ansiedade em relação à inflação em todo o país.
Cerca de nove em 10 eleitores se disseram muito ou um pouco preocupados com o custo dos alimentos, segundo a pesquisa. E cerca de oito em cada 10 se mostraram receosos com seus gastos em saúde, moradia e gasolina.
O apoio feminino à candidatura de Harris também ficou aquém do esperado. Pesquisas de boca-de-urna levantaram que 44% do eleitorado feminino votou em Trump, 2% a mais do que na eleição passada.
De acordo com a boca de urna da AP, 42% dos latinos votaram em Trump em novembro, recorde para um republicano. Em 2020, ele conquistou 28% do estrato na mesma pesquisa.
Futuro incerto
A impopularidade de Joe Biden, a derrota de Kamala Harris e a vitória dos republicanos no Senado e na Câmara cobram do Partido Democrata uma mudança de rumo. A ala mais à direita não vê com bons olhos as políticas voltadas para as minorias.
Já o setor à esquerda, do qual a congressista Alexandria Ocasio-Cortez é uma das porta-vozes, não pretende baixar a guarda na defesa dos setores populares. Filha de porto-riquenha e nascida no bairro popular do Bronx, em Nova Iorque, foi uma das organizadoras da pré-candidatura presidencial de Bernie Sanders em 2020 e entusiasta da candidatura de Kamala Harris à Presidência nesta eleição.
Seja qual for a política adotada pelo Partido daqui para frente, os democratas terão que responder aos cerca de 75 milhões de votos que obtiveram. Até porque, as políticas anunciadas por Donald Trump vão provocar reação popular e cobrar uma atuação firme da oposição nos próximos quatro anos.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
Análise de Heloísa Vilela (jornalista brasileira que viveu décadas nos EUA)