Henrique Acker (correspondente internacional) – A decisão de Emmanuel Macron de convocar eleições legislativas para 30 de junho e 7 de julho, anunciada no mesmo dia da divulgação do resultado da eleição para o Parlamento Europeu, pegou a França de surpresa.
Macron apostou tudo no “voto útil” do eleitorado francês em seu partido de centro-direita (Ensemble – Juntos) contra a extrema-direita, mas não esperava que as esquerdas pudessem deixar de lado suas desavenças e formar uma nova alternativa eleitoral em tempo recorde, a Nova Frente Popular (NFP).
Ainda em choque pelo resultado da eleição para o Parlamento Europeu, em que a extrema-direita alcançou mais do dobro de votos do partido do atual Presidente, o país teve pouquíssimo tempo para digerir o resultado e se preparar para a nova eleição legislativa.
Polarização entre extrema-direita e esquerda
Marine Le Pen e Jordan Bardella, principais líderes do partido de extrema-direita Rassemblement National (Reagrupamento Nacional), procuram conquistar o apoio dos menores partidos da ultra-direita e parte do eleitorado de centro e direita para garantir maioria.
No entanto, veio da esquerda a novidade eleitoral: a Nouvelle Front Populaire (Nova Frente Popular – NFP), numa alusão ao governo que derrotou a extrema-direita na França, antes da II Guerra e a invasão do país pela Alemanha nazista.
A NFP, que reúne França Insubmissa, Partido Comunista, Partido Socialista e Europa-Ecologia Os Verdes, anunciou um programa “para romper com as políticas de Emmanuel Macron em resposta a questões sociais, ecológicas, democráticas e de paz urgentes.”
O programa é composto de três partes: 1) Os primeiros 15 dias: A RUPTURA; 2) Os primeiros 100 dias: O VERÃO DA MUDANÇA; 3) Os meses seguintes: AS TRANSFORMAÇÕES. Leia no link abaixo, a íntegra do programa da NFP (*).
Compromissos da Frente Popular
Nos primeiros 15 dias o compromisso da Frente Popular é “responder às urgências que atingem a vida e a confiança do povo francês”. Serão vinte medidas imediatas, através de decretos, que incluem o aumento dos salários e das aposentadorias, tabelamento dos preços dos gêneros de primeira necessidade, recuperar os serviços públicos, colocar a diplomacia do país a serviço da paz, reconhecer o Estado da Palestina e embargar o fornecimento de armas a Israel, entre outras medidas.
Para os primeiros 100 dias de governo, a esquerda francesa pretende lançar “cinco pacotes legislativos para dar início às grandes mudanças de que o país necessita”. Neles estão incluídos os compromissos com a recuperação da Saúde e da Educação, além de uma nova legislação sobre energia e clima. “Por último, será apresentada a primeira lei de finanças retificativa para abolir os privilégios dos bilionários”, anuncia a NFP.
De acordo com o programa da NFP, os meses seguintes serão de transformação social, com participação dos sindicatos, associações e coletivos populares, a partir da aplicação plena do slogan da Revolução Francesa: “Liberdade, igualdade e fraternidade”.
Cresce a intenção de voto na esquerda
A polarização política pode facilitar o trabalho da esquerda no primeiro turno, mas será um grande desafio convencer o eleitorado conservador de Emmanuel Macron a comparecer e votar contra a extrema-direita no segundo turno.
Na recente eleição para o Parlamento Europeu, a abstenção na França alcançou 49,5%, na média da votação dos demais países da União Europeia. No entanto, se comparado com o resultado da eleição parlamentar de 2022, mais da metade do eleitorado francês (54%) não compareceu às urnas.
A primeira pesquisa de opinião (Toluna Harris Interactive for Challenges, M6 e RTL), divulgada em 10 de junho, apontou uma vantagem para a extrema-direita, que elegeria entre 235 a 265 deputados. Já o partido de Macron conquistaria de 125 a 155 cadeiras no parlamento, com os partidos da esquerda chegando a 115 a 145 assentos. Mas isso foi antes da formação da Nova Frente Popular.
A mais recente pesquisa (Ifop-Fiducial), divulgada em 17 de junho, ainda apresenta a extrema-direita a frente, com 33% da preferência dos entrevistados. Mas a Nova Frente Popular já aparece em segundo, com 28% da intenção de votos, contra 18% para o partido de Emmanuel Macron. (Fotos: Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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