Economia de guerra gera lucros estrondosos

Henrique Acker (correspondente internacional) – Armas, juros, energia poluente e inteligência artificial. Esses são os componentes do coquetel de produtos e serviços mais rentáveis no mundo em 2023. É o que indicam os balanços das principais empresas que movimentaram os maiores volumes de capital, num mundo marcado por uma guerra na Europa e o massacre de palestinos por Israel.

Mesmo que pareça um paradoxo, é a economia de guerra que movimenta os maiores “mercados” da Europa e da América. Ou seja, os grandes negócios do sistema prosperam à custa da morte, agiotagem, poluição do ambiente e apropriação de informações. Por isso, não se espante com as imagens de cadáveres de crianças em Gaza ou imagens de cidades arrasadas na Ucrânia.

 

Armas e petróleo em alta

No ramo das armas nunca se viu um volume tão elevado de investimentos e produção de armas como nos últimos dois anos. Se em 2022 a indústria armamentista consumiu 2 trilhões de dólares, em 2023 o total de aportes no setor atingiu o recorde de 2,2 trilhões de dólares, de acordo com relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), sediado na Inglaterra.

Os campeões do ranking do gasto militar em 2023 com a produção e venda de armas são os EUA, com 905 bilhões (41% do total). Em segundo vem a China, com 219 bilhões de dólares (10% do total) e em terceiro a Rússia, com 108 bilhões de dólares em gastos militares (5% do mercado).

Na prospecção e venda de petróleo, um dos produtos mais cobiçados no mercado internacional, os balanços das cinco maiores empresas privadas do setor – as britânicas BP e Shell, e as estadunidenses  Chevron, ExxonMobil e TotalEnergie – demonstram que elas faturaram US$ 281 bilhões em 2022 e 2023. Sem contar a Saudi Aramco, companhia estatal da Arábia Saudita, apontada como a maior de todas.

“Essa análise mostra que, independentemente do que acontece no mundo, as grandes empresas de combustíveis fósseis são as principais vencedoras da guerra na Ucrânia”, afirmou Patrick Galey, pesquisador sênior da Global Witness(*) em combustíveis fósseis, ao jornal britânico The Guardian.

 

Bancos europeus lucraram como nunca

A Agência de Rating (avaliação) DBRS revelou em fevereiro deste ano que “algumas instituições, especialmente bancos europeus, reportaram resultados excepcionalmente fortes em 2023”. Isso se deu por conta da elevada taxa de juros praticada pelo Banco Central Europeu (BCE), que subiu de 3% para 4,5% durante 2023, permanecendo estável até o início de março deste ano.

Ainda segundo a DBRS, com poucas exceções, os bancos europeus tiveram resultados “excepcionalmente fortes” em 2023, no que considera um “tremendo aumento da rentabilidade” devido à subida da margem financeira (diferença entre juros cobrados nos créditos e juros pagos nos depósitos), enquanto o custo do crédito se manteve baixo.

Apesar de taxas de juro mais altas terem significado menos crédito novo na praça, isso foi mais do que compensado por margens de juro líquidas elevadas. De acordo com a análise da DBRS, os bancos beneficiaram-se do aumento das taxas de juro no crédito (desde logo em estoque existente, caso de crédito à habitação a taxa variável). Por outro lado, as taxas de juro têm sido repassadas com atraso para a remuneração dos depósitos bancários, beneficiando assim as receitas dos bancos.

De acordo com o ranking da S&P Global, dos 20 atuais líderes do setor bancário no Mundo, os quatro primeiros são bancos chineses (ICBC, Agricultural Bank of China, CCB e o estatal Banco da China). Entre os estadunidenses, o JP Morgan aparece em sexto e o Citigroup em décimo primeiro. Da lista constam ainda bancos do Japão, Inglaterra, França, Espanha e Alemanha.

 

Empresas de tecnologia entre as mais valiosas

Com o avanço da pesquisa e aplicação de tecnologia de ponta – inclusive a chamada Inteligência Artificial (IA) – na fabricação de máquinas, equipamentos, armas e automóveis, as empresas deste setor vêm se destacando entre as mais poderosas. É o que confirma o ranking das 500 marcas mais valiosas do Mundo em 2024, da agência Brand Finance, chamado de Global 500 Report.

Num mundo em que é impossível estabelecer critérios objetivos para determinar o valor das coisas, a metodologia utilizada neste ranking leva em consideração o seguinte cálculo: “força da marca x taxa de royalties da marca x receitas da marca = valor da marca”.

Entre as 20 maiores companhias, cinco do ramo de tecnologia ocupam os primeiros lugares: 1) Apple (tecnologia = US$ 516 bi); 2) Microsoft (tecnologia/softwares = US$ 340 bi); 3) Google (mídia = US$ 333 bi); 4) Amazon (e-commerce = US$ 309 bi); 5) Samsung (tecnologia = US$ 99 bi); 6) Wallmart (vendas = US$ 97 bi); 7) TikTok (mídia = US$ 84 bi). Seguem na lista a Meta (Facebook), Deutsche Telekom, ICBC China Banking, Verizon, State Grid China, Instagran, China Construction Bank, Starbucks, Agricultural Bank Of China, Mercedes-Benz, Tesla, Oraculo, Home Deport. (Fotos: Reprodução  / Poder 360)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

(*) A Global Witness é uma organização de direitos humanos, com sede em Washington e Londres

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