E se a China topasse investir em ferrovias de alta velocidade, hein, Lula?

Hiroshi Bogéa – Na viagem que fará à China, a partir deste final de semana, o  presidente Lula tem uma agenda lotada de compromissos e  acordos comerciais previamente delineados como alvos prioritários.

Atualmente, o estágio de parceria comercial entre Brasil e China chegou a tal ponto de importância que  nosso país, de olho em seu pleno desenvolvimento, poderia muito bem  manter aberta uma janela, tipo escritório comercial, ao lado do gabinete do presidente Lula, no Palácio do Planalto, voltado unicamente para este fim.

A evolução das tratativas de negócios entre as duas nações espraiou  sua influência para demais países da Ásia, todos potenciais compradores de produtos made in Brazil.

Uma das necessidades urgentes do brasileiro é ter à sua disposição uma rede ferroviária moderna, eficiente, conectada com o que há de mais evoluído tecnologicamente.

Não basta falar unicamente em construção de estradas de ferro, reconstituindo as antigas linhas férreas que tão bem serviram ao transporte de pessoas e cargas nacionais, e que foram – a partir dos anos 60, sendo substituídas pelo avanço das rodovias impulsionadas pela indústria automobilística surgida no país na gestão de Juscelino Kubitschek de Oliveira – nosso saudoso pé-de-valsa JK.

Os chineses, atualmente, dominam como ninguém a tecnologia das ferrovias de alta velocidade,  liderando o desenvolvimento ferroviário de alta velocidade no mundo.

De acordo com um relatório sobre o desenvolvimento ferroviário de alta velocidade da China divulgado pelo Banco Mundial, a quilometragem ferroviária de alta velocidade da China excede o resto do mundo em conjunto.

As tarifas ferroviárias de alta velocidade da China são as mais baixas, e os custos de construção são cerca de dois terços dos custos em outros países.

Depois de mais de 20 anos de pesquisa minuciosa, os engenheiros chineses passaram a aplicar a tecnologia de levantamento e mapeamento por radar a laser, bem como a tecnologia de sensoriamento remoto para levantamento e investigação em larga escala, e desenvolveu independentemente software de projeto, tecnologia da informação e tecnologia de projeto colaborativo tridimensional.

A China tem a maior velocidade de testes do mundo, o primeiro trem de alta velocidade do mundo a atravessar uma região alpina de solo gelado sazonal, e o trem de alta velocidade com a maior quilometragem do mundo, cruzando zonas temperadas e subtropicais, vários terrenos e geologias e muitos sistemas de água.

Ou seja, nesse quesito, a China tem condições de ajudar o Brasil a gerar mais empregos com obras de infraestrutura em logística, para conectar melhor o mercado doméstico.

Claro, a  agenda central do encontro de Lula com autoridades chinesas, deve seguir a já anunciada pauta ambiental ou sustentável, embora o Brasil não faça ainda a transição energética sem imensas obras de infraestrutura.

O governo brasileiro não vai tirar da rua o automóvel que emite CO2 porque a pessoa tomou consciência ambiental, e poderia pegar um metrô ou ir do Rio de Janeiro a São Paulo na velocidade 30.

Se na agenda de Lula, ele tirasse um tempo para viajar Pequim de trem, tenho certeza de que nosso presidente ficaria encantado.

Tenho um amigo que, sempre a negócios de concessionária de carros, vai à China anualmente e, quando volta, não se cansa de cantar os amores que sente quando percorre alguns lugares do país usando trem.

O Brasil, para sair desse entrave de paralisia na sua  economia, correndo o risco de viver um tempo de recessão, precisa, urgentemente, de obras estruturantes, que tenha como “entrega” a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Os chineses são especialistas nisso, tem muita grana disponível e, principalmente, nutre simpatia institucional pelo governo brasileiro.

Sim, ninguém pode negar,  Lula indo à China restabelecerá uma relação estratégica entre os dois países, e que, ao empossar Dilma Rousseff no novo banco dos BRICS, ele resgata o que há de melhor que o Brasil criou: uma ex-chefe de Estado a frente de algo fundamental aos interesses do sul global.

Este é o momento, envolto à guerra fria , e cada dia mais tensa, entre EUA e China, Lula usar sua sensibilidade e poder de convencimento, para consolidar de vez seu governo com realizações possíveis.

A China é o caminho.

E as ferrovias de alta velocidade, o sonho – por enquanto. (Foto The Paper)

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