Glauco Alexander Lima (São Paulo) – O bom e velho cabo eleitoral é uma figura que faz parte até do folclore político- partidário no Brasil.
É a pessoa que, na época de campanha, nos meses das vésperas de eleição, a mando dos dirigentes da candidatura ou do partido político, deve conseguir mais simpatizantes para se filiarem ao partido ou conseguir mais eleitores para votarem nos candidatos ou no candidato da legenda.
O cabo eleitoral nem sempre é um filiado do partido. Ou seja, nem sempre tem vínculo formal com a agremiação.
As motivações que levam o cabo eleitoral a trabalhar numa campanha vão desde as mais nobres, como convicções ideológicas até as mais pragmáticas, como conseguir um emprego.
O mundo mais e mais online, com relações cada vez mais intermediadas por tecnologia, está tornando cada vez mais raro e caro o cabo eleitoral, fazendo surgir cada vez mais a necessidade de conquistar a figura do cabo digital ou ativista digital.
Essa figura que trabalha 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem remuneração financeira, muitas vezes até sem sair do aconchego do seu sofá, atua como mobilizador de pessoas fora da chamada bolha dos temas eleitorais.
Hoje é a tarefa fundamental de uma campanha ou, mais especificamente da pré-campanha, trabalhar para capturar pessoas que estejam ou não na internet ou nos aplicativos, iniciar um diálogo com os que se dispõe a conversar, avançar nessa régua de relacionamento, conseguir permissão para ir entregando conteúdo relevante para essa pessoa, até que ela se torne um cabo ou ativista digital.
Esse cabo ou ativista vai embutir organicamente nos conteúdos que produz, online ou mesmo nas suas conversas no boteco, informações, esclarecimentos, versões, dados e argumentos que a candidatura precisa disseminar.
Esses conteúdos que esse ativista produz podem ser um textão no grupo família ou uma conversa depois da igreja. Ou seja, é preciso trabalhar com método para conseguir mais gente para contar a sua história ou a sua narrativa.
Quem souber melhor produzir e distribuir conteúdo, terá mais cabo digital circulando pela cidade e terá muito mais chances de viralizar suas propostas, ideário, projetos e visões do mundo ou do município.
Nesse ambiente onde a nova comunicação permite que um cidadão saia do Youtube para ser um milionário ou um deputado federal, não se pode pensar só em novo eleitor, em novo jeito de votar, em cabos nos tradicionais cabos eleitorais, estamos diante de uma nova pessoa.
Não se pode querer alcançar essas pessoas com os mesmos raciocínios do final do século 20.
Ninguém mais consegue contar uma história sozinho ou apenas com seus simpatizantes próximos, seja uma grande corporação empresarial, o governo de um país potência mundial ou um candidato a vereador ou prefeito.
Todo eleitor é agora potencialmente um produtor de conteúdos, um dono de uma rede de comunicação.
Pode ser um engajador, pode ser um disseminador, pode ser um compartilhador.
É um ser que, por mais isolado que esteja, por mais sem wifi que viva, acaba tendo contato com versões de pessoas impactadas pelo digital e recebe informações sobre mundos que nunca imaginou existir.
Podem ser mundos reais ou mundo totalmente construídos em mentiras.
Tudo isso influencia na forma como a pessoa recebe a informação ou a persuasão eleitoral. E como processa seus pensamentos para definir suas atitudes.
Esse novo humano, dotado de muitas formas de expressão e de vários canais para alcançar outros humanos, gera um desejo crescente por uma nova forma de representação.
Esse novo ser digital renova a linguagem, a escrita, surgem novos alfabetos, símbolos gráficos e as vezes traz argumentos que nem mesmo a própria campanha havia pensado.
Existem muitas reviravoltas acontecendo ao mesmo tempo, revoluções e retrocessos. Fluxo e refluxos.
O cérebro pulsa, inflando e encolhendo. Macro e micro tendências. A inteligência natural se mistura com a inteligência artificial.
A gestão do diálogo com esse novo ser humano passa a ser questão de vida ou morte para qualquer projeto ou pretensão. É preciso conquistar e nutrir o ativismo, e a nutrição se faz com conteúdo rico e compartilhável.
Para quem quer ter uma presença eleitoral relevante, com chance de dialogar com esse novo ser humano, só resta estar ativo sistematicamente no digital, afinando o foco, capturando dados, formando base de contatos, pesquisando em tempo real, corrigindo rotas, intensificando o que dá certo, criando estilo, personalidade e formando sua tropa.
Sem estar ativo dessa forma na internet, ninguém conseguirá cabos digitais favoráveis ao seu projeto, seja o cabo online ou offline. (Foto Reprodução)