Discursos de chefes de Estados reforçam unidade entre países do BRICS

Henrique Acker (Correspondente internacional)  – O primeiro e o segundo dia da 15ª Cúpula do BRICS, em Joanesburgo (África do Sul), foram marcados por discursos que reforçaram a unidade de propósitos dos chefes de Estado dos cinco países membros. A diferença pode aparecer no ritmo de admissão de novos membros e nos termos de adoção de uma moeda comum para transações internacionais.

Rússia e China são mais enfáticos do que Brasil e Índia, mas o certo é que pelo menos um grupo de países com tratativas avançadas de adesão deve ser incorporado ao BRICS já nesta cúpula. No caso da moeda de referência a ser adotada pelos países do acordo, ainda há dúvidas sobre a criação de uma nova moeda (R5) ou o uso da moeda de um dos países-membros, no caso da China ou da Índia (yuan ou rúpia).

Confira o que disseram os chefes de Estado em seus discursos nos primeiros dias da 15ª Cúpula do BRICS.

 

Lula defende paz e o combate à fome

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quarta-feira (23), que o Brasil quer contribuir com os esforços para um cessar-fogo imediato e uma paz duradoura na Ucrânia.

“Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz, tampouco podemos ficar indiferentes às mortes e à destruição que aumentam a cada dia. O Brasil não contempla fórmulas unilaterais para paz. Estamos prontos para nos juntar a um esforço que possa, efetivamente, contribuir para um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura”, afirmou Lula.

Gastos com guerra x fome no mundo

Lula criticou ainda os gastos militares globais, que superam, segundo ele, US$ 2 trilhões em apenas um ano, enquanto existem 735 milhões de pessoas passando fome no mundo.

Moeda única

“A criação de uma moeda para as transações comerciais e investimentos entre os membros do BRICS aumenta nossas condições de pagamento e reduz nossas vulnerabilidades”, disse Lula durante a plenária. Ele também afirmou que o interesse de outros países em se juntar ao BRICS demonstra a relevância crescente do bloco.

Financiamentos globais

“O sistema multilateral de comércio deve ser reavivado para voltar a atuar como ferramenta para um comércio justo, previsível, equitativo e não discriminatório.”

 

Putin denuncia “neocolonialismo” ocidental e propõe renúncia ao dólar como moeda de transações internacionais

Logo em seguida ao presidente brasileiro, Vladimir Putin afirmou que o conflito na Ucrânia foi provocado por um “neocolonialismo” de países ocidentais e a tentativa dessas nações em manter sua hegemonia.

Segundo ele, a Ucrânia passou por um golpe de Estado em 2014, referindo-se à Revolução de Maidan, que culminou na retirada do presidente Viktor Yanukovych, e as pessoas que não concordaram com o novo regime foram perseguidas, referindo-se à população etnicamente russa daquele país.

O presidente russo defendeu mais cooperação entre o BRICS para o fornecimento de alimentos e recursos energéticos aos mercados mudiais. Putin frisou que Moscou está aumentando o fornecimento de combustíveis , produtos agrícolas e fertilizantes aos países do Sul, combatendo a pobreza e a fome nos países mais necessitados. Disse ainda que considera irreversível a renúncia ao dólar nas trocas e transferências entre os membros do BRICS.

 

Xi Jinping pede governança global mais justa

Os estados membros do BRICS devem prestar assistência uns aos outros na resolução de questões relativas a interesses mútuos, alertou o Presidente da China Xi Jinping. “É preciso que os países do BRICS sigam o caminho do desenvolvimento pacífico”, disse ele.

“É necessário actuar activamente como mediadores na resolução dos principais problemas, facilitar a resolução política das questões, a desescalada e a remoção das tensões”, disse

O presidente chinês afirmou ainda que não é aceitável fantasiar regras e regulamentos domésticos como normas internacionais.

“As normas internacionais devem ser escritas e mantidas por todos de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas, e não ditadas por aqueles com os músculos mais fortes e a voz mais alta”, salientou Xi ao discursar na 15ª Cúpula do BRICS.

O presidente chinês também disse que formar grupos exclusivos é ainda mais inaceitável.

Xi Jinping, pediu uma rápida expansão do BRICS e esforços para promover uma governança global mais justa e razoável.

 

Ramaphosa quer que países industrializados cumpram compromissos com ação climática e progresso econômico

“Como nações do mundo que enfrentam os efeitos das alterações climáticas, devemos garantir que a transição para um futuro de resiliência climática de baixo carbono seja justa,  capaz de ter em conta as diferentes circunstâncias que prevalecem em todos os países”, afirmou o líder sul-africano, Cyril Ramaphosa, após a reunião plenária do BRICS, em Joanesburgo.

Ramaphosa insistiu que Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – “precisam promover os interesses do Sul Global e apelar aos países industrializados para que honrem os seus compromissos de apoio à ação climática, e ao desenvolvimento do progresso econômico”.

Na sua intervenção, o chefe de Estado sul-africano sublinhou que a paz e a estabilidade “são pré-condições para um mundo mais equitativo”.

E concluiu afirmando que “a nossa posição continua a ser a de que a diplomacia, o diálogo, a negociação e a adesão aos princípios da Carta das Nações Unidas são necessários para a resolução pacífica e justa dos conflitos”.

 

Narendra Modi destacou importância do BRICS para os desafios mundiais

“Em 2009, quando se realizou a primeira cimeira do BRICS, o mundo acabava de sair de uma enorme crise financeira. Nessa altura, o BRICS emergiu como um raio de esperança para a economia global”. Foi assim que o primeiro-ministro da Índia definiu a importância do acordo na 15ª Cúpula, em Joanesburgo.

“Nos tempos actuais, também entre a pandemia de covid-19, as tensões e disputas, o mundo está lidando com desafios econômicos. Nesses tempos, mais uma vez, o papel dos países do BRICS é importante”, concluiu Modi ao discursar no Fórum Empresarial, que ocorreu em 22 de agosto. (Foto: REUTERS)

 

Por Henrique Acker (Correspondente internacional)

 

 

 

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