Dirceu diz que não subestima Michelle Bolsonaro como candidata à Presidência em 2026

Ex-ministro petista se diz convicto da reeleição de Lula daqui a dois anos e afirma que um ciclo de governo de 12 anos à esquerda é ‘viável’ e ‘possível’

 

O ex-ministro da Casa Civil no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Dirceu, afirmou que não subestimaria Michelle Bolsonaro como candidata à Presidência da República em 2026. Na avaliação dele, mesmo estando inelegível por oito anos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderia impulsionar o candidatura da esposa e ex-primeira-dama ou de outros nomes conhecidos na política, como o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), ou o de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).

“Eu não subestimaria a Michelle como candidata, porque o Bolsonaro tem uma natureza duma força, o Bolsonaro elegeu senadores, o Tarcísio foi eleito [governador] em São Paulo”, disse Dirceu, em entrevista à CNN na noite de quinta-feira (25). “Mas precisa ver quais partidos vão com Bolsonaro. Será que o PL, o PP, o PSD, o União Brasil vão junto? É muito improvável que isso aconteça. Então, também não é tão simples”, emenda Dirceu.

Apesar de reconhecer a competitividade de um candidato bolsonarista na próxima eleição presidencial, o petista reitera o favoritismo do atual presidente. “Em 2026, nós vamos reeleger o Lula”, disse Dirceu, um dos fundadores do PT, que diz estar de volta à cena política. “Vou passar a falar publicamente agora. Vou participar do debate público a partir deste ano.”

O ex-ministro também avaliou ser necessário que a esquerda permaneça unida diante dos movimentos da oposição. “Nós precisamos manter o Brasil, um projeto para o Brasil, uma coisa ampla, que envolve setores empresariais, que a gente consiga, principalmente, envolver a juventude brasileira, as classes médias, os empreendedores brasileiros”, ressalta.

Na semana passado, Dirceu afirmou que a direita “está ganhando” a disputa política e cultural no Brasil e defendeu uma “atualização política, teórica e de organização” para o Partido dos Trabalhadores (PT).

Michelle Bolsonaro já é cotada pelo PL para disputar a cadeira do senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), que tem possibilidade de ficar vaga. O ex-juiz pode ter o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) e, se confirmada a saída dele do cargo, uma eleição suplementar para senador terá que ser realizada. O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou, no entanto, que Michelle não está interessada na eleição ao Senado.

Resistência a Janja

Na entrevista, Dirceu foi questionado quanto aos personagens políticos que desempenham o papel de conselheiros do presidente Lula. Nos primeiros anos da gestão petista, entre 2003 e 2005, o próprio José Dirceu foi um dos principais nomes com essa atribuição. “O presidente está bem assessorado”, disse Dirceu, referindo-se a Rui Costa, ministro da Casa Civil, Jacques Wagner, líder do Governo no Senado, Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT e deputada federal pelo Paraná, e Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais.

Na análise, Dirceu disse que Rosângela da Silva, a Janja, não só pode como deve desempenhar o papel de conselheira informal, e que a resistência ao seu desempenho se deve, em certa medida, ao machismo. “Por que o presidente pode ter amigos que são conselheiros dele, influentes, como vocês mesmos reconhecem, e ela não pode ser uma conselheira influente do presidente? É machismo? É preconceito? Eu não vejo nenhum problema nisso.”

A influência de Janja sobre Lula tem motivado ataques de opositores e preocupação no governo desde o início deste mandato do petista. Uma das críticas recorrentes é de que ela extrapola os limites da atuação de uma primeira-dama, uma vez que não foi eleita, e tenta influenciar em decisões que caberiam a políticos eleitos. Em entrevista na terça-feira (23), o presidente Lula reiterou que a primeira-dama é uma espécie de farol para ele, que o guia e chama a sua atenção quando há “coisa errada”. Lula disse ainda que os posicionamentos da primeira-dama “obviamente” o ajudam no trabalho na Presidência.

(Foto: Sandro de Souza/Framephoto/Estadão)

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