Desmatamento cai na Amazônia, mas dispara no Cerrado

Segundo o Sistema Deter, derrubadas na maior floresta tropical do planeta registraram queda de 7,4% de agosto de 2022 a julho deste ano. No sentido oposto, bioma no qual está inserida Brasília alcançou 6.359 km² de destruição

 

O desmatamento na Amazônia registrou queda de 7,4% de agosto de 2022 a julho deste ano. Os dados são do Sistema Deter e foram divulgados, na quinta-feira (3), pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Cerrado, porém, foi no sentido oposto e bateu recorde no período compreendido entre agosto do ano passado e julho de 2023. A destruição do bioma alcançou 6.359 km², a maior área desde o biênio 2016-2017, o mais antigo da série histórica. Em relação ao período anterior (2021-2022), a alta foi de 16,5%.

A Amazônia teve 7.952 km² desmatados no mesmo período. No comparativo mês a mês, o desmatamento na Amazônia registrou queda de 66% em julho, frente ao mesmo mês de 2022. Em contrapartida, os dados do mês passado do Cerrado mostraram aumento de 26% no desmatamento em comparação a julho de 2022. As infrações do Ibama aumentaram 173% nos 7 primeiros meses de 2023. No mesmo período, aplicação de multas cresceu 147%, os embargos 123% e os termos de apreensão, 107%.

Na região amazônica, Pará tem 36,2% do total desmatado. É seguido pelo Mato Grosso. O recorde na série histórica foi de 2019 a 2020, quando foram registrados 9.216 km² de área devastada.

Dos mais de 6.000 km² desmatados no Cerrado, a maior parte foi na região de Matopiba, que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A terra é a fronteira agrícola que mais cresce, em área plantada, no país. De acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) junto à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a região formada pelos quatro estados deve atingir uma produção de 48 milhões de toneladas de grãos nos próximos dez anos.

O principal bioma que compõe a área é o cerrado (91%), seguido pela Amazônia (7%) e a Caatinga (1.6%). Em Matopiba existem cerca de 324 mil estabelecimentos agrícolas, 46 unidades de conservação, 35 terras indígenas, 36 quilombolas e 1.053 assentamentos de reforma agrária, segundo levantamento do Grupo de Inteligência Estratégica (Gite) da Embrapa.

O ciclo anual de desmatamento é medido entre agosto de um ano e julho do ano seguinte. Esses dados funcionam como uma prévia das medições oficiais de desmatamento, feitas pelo sistema Prodes, também do Inpe, que tem mais precisão. Em geral, a revisão pelo Prodes aponta para dados mais altos do que os levantados pelo Deter. O primeiro semestre costuma ter índices mais altos de desmatamento, por concentrar mais semanas da estação seca. Neste ano, porém, a tendência tem sido de queda nos primeiros meses do ano.

O professor adjunto do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB) José Sobreiro Filho atribuiu o recuo nos números da devastação da Amazônia à atuação do governo federal. Conforme salientou, no atual governo busca-se restabelecer políticas públicas que tinham sido extintas ou reduzidas na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Temos uma elite nacional que é proprietária de terras e que lutava por flexibilização ambiental. Tem outra fatia, que é aquela totalmente desinteressada no cumprimento de legislações ambientais e agrárias. Esse grupo é o que mais degrada e o que tenta se articular para permitir, por exemplo, a regularização de terras que foram obtidas, sobretudo, com o desmatamento”, explicou.

(Foto: Carl de Souza/AFP)

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