Derrotada nas urnas, oposição venezuelana denuncia fraude

Henrique Acker (correspondente internacional)  –  Mal o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou a vitória de Nicolás Maduro na eleição Presidencial de 28 de julho, as vozes da oposição se lançaram aos microfones e câmeras da mídia empresarial do país e do mundo para denunciar uma alegada fraude.

A oposição de direita, reunida na Plataforma Unitária Democrática (PUD), fala em pedir uma recontagem dos votos, que deram a reeleição a Maduro por 51,2% (5,1 milhões de votos) contra 44,2% (4,5 milhões de votos) para Edmundo Gonzales Urrutia.

Em sua declaração após a proclamação do resultado, Corina Machado, principal liderança de oposição, afirmou que “a Venezuela tem um novo Presidente eleito, que é Edmundo Gonzales”. Sem apresentar qualquer prova, Machado afirmou que a oposição teria ganho a eleição “em todo o país”.

 

Destaque na mídia

A eleição venezuelana teve tamanho destaque na mídia internacional que chegou a ofuscar o noticiário da campanha eleitoral nos EUA e até mesmo das Olimpíadas de Paris. A Venezuela possui a maior reserva de petróleo encontrada até aqui em todo o Planeta, principal riqueza do país, cobiçada pelas sete maiores companhias privadas do setor.

A economia venezuelana sofre um estrangulamento promovido pelo governo dos EUA, que acusa o regime de antidemocrático. São mais de 900 medidas adotadas – em sua maioria apoiadas pela União Europeia – as mais pesadas limitando a comercialização do petróleo venezuelano.

Por conta das dificuldades enfrentadas no país, cerca de oito milhões de venezuelanos migraram nos últimos anos para os EUA, países da Europa e da América Latina. A economia voltou a dar sinais de recuperação, desde que os EUA suspenderam temporariamente as barreiras, em novembro do ano passado. Mas elas foram retomadas em abril deste ano.

Bloqueio econômico e crises

Desde a eleição de Hugo Chavez (1998), a Venezuela enfrenta crises econômicas e políticas, associadas ao bloqueio econômico e a ação política de grupos de oposição claramente alinhados a Washington, incluindo a tentativa de golpes de Estado e o boicote a eleições. Corina Machado é uma das lideranças da direita venezuelana, que já teve Henrique Caprilez, Leopoldo Lopez e Juan Guaidó como porta-vozes.

Contra o regime, que endureceu desde a morte de Chavez, em 2013, pesam acusações de limitação das liberdades, prisões ilegais, tortura de opositores, cooptação dos movimentos populares e enriquecimento ilícito de uma casta de dirigentes do PSUV.

No entanto, o apoio popular ao “chavismo” mantém-se próximo dos 50% da população desde o primeiro governo bolivariano. Isso se deve a uma série de programas sociais (missões), que beneficiaram a parcela mais pobre e marginalizada da população, cerca de 15 milhões de pessoas.

 

Base popular

Os programas sociais, com recursos da companhia estatal de petróleo, a PDVSA, incluíram a construção de moradias, cadastramento de aposentadoria para os idosos, bônus para compra de uniforme e material escolar, cesta com alimentos subsidiados pelo governo, dentre outros.

De 2013 a 2017 foram entregues 1,7 milhão de casas populares e o índice de escolarização chegou a 90% da população. Ainda de acordo com informações do governo, a Venezuela zerou o analfabetismo. Além disso, o país passou a ser o segundo da América Latina em matrículas na educação universitária, com 83% dos jovens em idade escolar fazendo faculdade.

Com o boicote ao petróleo venezuelano – os EUA sempre foram os maiores compradores –  os recursos para esses programas foram reduzidos nos últimos anos.

 

EUA financiam Fundação para “Democracia”

Baseando-se em pesquisas eleitorais de institutos ligados a grupos privados de mídia, que davam como certa sua vitória, a oposição promove agora uma intensa campanha internacional para denunciar a reeleição de Nicolás Maduro como fraude. E promete pedir recontagem dos votos.

Um dos apoiadores mais entusiastas da direita venezuelana é o governo dos EUA. Para isso, conta com a Fundação Nacional para Democracia (NED), organização com sede nos EUA “doadora de fundos que apoia a liberdade ao redor do mundo” e que atua para “promover ideais democráticos”.

De acordo com o portal do NED (*), a organização concentra “muitos de seus recursos nos países comunistas e autoritários”. O CEO da Fundação é Damon Wilson, um ex-funcionário do Departamento de Estado. Foi desses recursos que a ONG Súmate – fundada por Corina Machado – se beneficiou, como noticiou o The Wall Street Journal, em edição de 2005.

 

De olho no Petróleo

Em dezembro de 2023 o regime venezuelano promoveu plebiscito sobre a retomada do território de Essequibo, entregue à Guiana britânica em 1899, a partir do Tratado de Paris. Mais de 95% dos participantes apoiaram a pretensão do governo. A região é rica em jazidas de ouro, pedras preciosas e petróleo, explorado pela empresa norte-americana Esso.

Não parece acaso que uma das sedes de campanha da Plataforma Unitária Democrática para orientar e acompanhar as eleições tenha sido instalada em Washington. O interesse geopolítico do Departamento de Estado na eleição venezuelana é patente. Apesar de propor mudanças, nas redes sociais o PUD não deixa claro o que pretende.

De acordo com o CNE, participaram desta eleição 11,7 milhões de eleitores (54,8%). Na Venezuela o voto não é obrigatório. Esse foi o 32º pleito eleitoral ocorrido no país nos 25 anos de regime bolivariano, entre eleições e plebiscitos. Desta vez, concorreram dez candidatos à Presidência por coligações que envolveram 38 partidos políticos.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

Sobre Maria Corina Machado

Portal da Fundação Nacional para Democracia (NED)     e     AQUI

Brasil de Fato (2017 e 2020)    e     AQUI

Notícias ao minuto (Portugal)

CNN Brasil

Página da Oposição (PUD) no Facebook

Poder 360 (Brasil)

 

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