Erika Hilton (PSol-SP) declarou que a audiência para discutir orientações de tratamento para crianças trans se tornou em palco para teorias conspirações
A deputada federal Erika Hilton (PSol-SP) denunciou o teor transfóbico de uma audiência da Comissão de Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados, realizada na quarta-feira (21), que debateu orientações do Conselho Federal de Psicologia e Conselho Federal de Medicina para o tratamento de crianças e adolescentes trans. Segundo a parlamentar, a comissão virou palco para “discursos conspiracionistas” e um movimento político “dedicado à por a arma na mão de quem nos mata”.
“Com convidadas que se baseiam na mentira de que há processos transexualizadores e tratamentos hormonais em crianças no Brasil, a audiência virou palco para discursos conspiracionistas”, escreveu a deputada em sua conta no Twitter na noite de quarta.
Erika Hilton, a primeira pessoa negra e trans eleita para o Congresso Nacional, classificou a audiência como “violenta” e “brutal”. “É mais uma tentativa de promoção do caos, da desinformação, dessa frente antitrans que vem ganhando força no Brasil e em todo mundo. É um ódio irrestrito fantasiado de preocupação, é uma violência contra um grupo que já é massacrado historicamente”, disse.
A audiência foi proposta pela deputada Franciane Bayer (Republicanos-RS) para debater “a alteração no nome social, mudança em registros de documentos, utilização de bloqueadores de puberdade e cirurgias para redesignação sexual”. “Tais intervenções ainda mostram-se experimentais, repleta de riscos desconhecidos”, argumentou a deputada na justificativa.
A lista de convidados da audiência contou com nomes como Eugenia Rodrigues, porta-voz da Campanha “No Corpo Certo”, que se apresenta como uma organização que questiona o “discurso transgênero”; e a psiquiatra Akemi Shiba, que trata a transsexualidade como uma “epidemia” e uma “doença” — indo contra o entendimento da própria Organização Mundial da Saúde (OMS), que desde 2018 deixou de classificar a transexualidade como disfunção mental.
Erika Hilton se disse chocada com discursos feitos na audiência, que associaram famílias de crianças trans à pedofilia e a hiperssexualização na infância, além de informações falsas que associam a transsexualidade com o transtorno do espectro autista. “Não existe tratamento hormonal antes dos 16 anos no Brasil. Não existe processo transexualizador antes dos 18. O que existe são falsos intelectuais e um movimento político dedicado à por a arma na mão de quem nos mata”, pontuou Erika.
A deputada aproveitou a audiência para relembrar a morte da adolescente trans Keron Ravach, de 13 anos, assassinada brutalmente no Ceará, em 2021, vítima de transfobia.”Nós somos expulsas das nossas casas por volta dos 12 anos de idade e somos obrigadas a viver da prostituição compulsória. E eu não vejo a mesma preocupação e o mesmo discurso em defender nossas vidas”, argumentou.
“Eu não vi esses que bradam a defesa da infância chorarem a morte de Keron e tantas outras crianças. Eu não vejo essa mesma preocupação contra o ódio, a violência e o estigma que acomete essa população. Eu vejo essa fantasia, eu vejo essa falácia”, completou. (Foto:Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)